quarta-feira, março 23, 2005

Inversão da Lei

Let me see if I got it straight: uma vez que é impossível escaparmos ao problema do défice no contexto do Pacto de Estabilidade, e já que a coisa interessa também a gauleses e germanos, altera-se o PEC com a estratégia de Lisboa e ficamos todos felizes? Ou seja, infringimos sistematicamente uma lei, e ao invés de tentarmos alterar a nossa conduta, alteramos a lei, de modo a que a infracção se torne norma. E fazemo-lo mais rapidamente quando temos parceiros maiores a suportarem-nos.
Gosto da ideia. E, pela sua lógica, qualquer dia as coisas mudam para o seguinte:
a) Como toda a gente foge aos impostos, quem os paga está a infringir a lei;
b) Como toda a gente é pedófila, quem não fornicar com criancinhas tem comportamentos sexuais desviantes;
c) Como toda a gente luta pelos 'direitos' dos casais homossexuais, um casamento heterossexual deixa de ser válido e reconhecido perante a lei;
d) Como toda a gente adora meter baixa, aqueles que forem regularmente ao trabalho serão penalizados no seu salário mensal;
e) Como toda a gente em Lisboa infringe diariamente o Código da Estrada pelo menos vinte vezes (estou a ser ingenuamente optimista), passa a ser permitido estacionar onde quer que seja, da forma que se quiser, serão apagadas as passadeiras e as faixas de rodagem na rotunda do Marquês, os semáforos apenas terão a cor verde, e quem andar a menos de 100 km/h será multado;
f) No ensino, como os alunos gostam de se baldar, aqueles que forem às aulas serão penalizados em termos de classificação. E aqueles que se atreverem a estudar podem até chumbar o ano;
g) Como os jovens não usam preservativo, a sua utilização passa a ser proibida (espera lá, mas esta agradava à Igreja! Raios!);
h) Como os portugueses não vivem sem cuspir para o chão, todo e qualquer cidadão nacional que não escarre, pelo menos, duas vezes por dia para a calçada será multado;
i) Como os jovens de hoje em dia, na sua maioria, fumam, ou pelo menos dão umas passas, aqueles que não fumarem incorrem em graves penalidades sociais;
j) Como qualquer pré-adolescente consome bebidas alcoolicas quando lhe der na real gana, o consumo de alcool deixa de estar interdito a "menores de 18 anos, a quem se apresente visimelmente embriagado ou a quem aparente possuir anomalia psíquica";
l) Como agora é moda matarem-se polícias nos bairros periféricos à capital, quem residir na Amadora ou na Cova da Moura e não matar, pelo menos, um polícia por semana, arrisca-se a pena de prisão; Quem não for ao Brasil raptar a mãe de um jogador de futebol arrisca-se mesmo a pena capital;
m) Quem andar na EN 125 ou no IP5 sem espatifar o carro verá a sua viatura apreendida;
n) etc, etc. You got the point, right?
João Campos