terça-feira, julho 26, 2005

Anacronismos

Recordo-me da primeira vez que vi ao vivo, a cores e a três dimensões (e que dimensões) Mário Soares. Corria o mês de Novembro de 2004. Na FNAC do Chiado, Mário Mesquita, teórico da comunicação social e meu professor, apresentava o seu mais recente livro. Entre os estudantes e académicos presentes, figuravam ilustres personalidades do meio jornalístico português, e algumas do meio político - e, entre estas, o nosso antigo Primeiro-Ministro e Presidente da República. Sentado numa poltrona, vasto na sua antiguidade. Conversava com alguém antes da apresentação ter início. Quando perdeu o seu interlocutor, que tornou para o discurso do professor Mesquita e seus convidados, amoleceu. Olhei para ele por curiosidade - afinal, goste ou não do senhor, trata-se de uma figura histórica incontornável. Ressonava levemente na poltrona, de boca aberta, embalado pelos traços indeléveis da senilidade a que a velhice não poupa o mais forte dos homens*. Sou franco - não gosto de Mário Soares. Mas este facto não retira a objectividade deste raciocínio - a sua candidatira não mais é do que um anacronismo ridículo. Mário Soares é uma figura histórica. E, como todas as figuras históricas, teve o seu tempo. O pretérito perfeito implica uma acção terminada num tempo passado.
João Campos
(nota: um dia, espero, chegarei a velho senil também. É a lei da vida. Agora, pensará alguém que eventualmente me leia, a tua arrogância é natural - na flor da idade julgas-te imortal. Não é verdade. Apenas não me creio aos oitenta anos a candidatar-me a Presidente da República. Contar histórias aos meus netos será incomparavelmente mais útil e interessante.)