Testes, para que vos quero ?
As cores do cenário condizem com as de um jornal tablóide. São vermelhos e azuis, bem saturados. O apresentador é um cruzamento de pregador de Igreja com vendedor de colchas e mantas na feira e uma pitada de doido, acabado de fugir do manicómio. A assistência parece recrutada entre os frequentadores de um lar de idosos, a que misturaram uns jovens com ar de desempregados de longa duração (é a crise, ai a crise ! ... ). Os concorrentes são ... são ... são ... enfim, são o que são. (Também, se não confiam um no outro, será preciso irem à televisão para saberem que nem um nem outro são de confiança ? Não chegaria resolverem as coisas no desassossego do lar ?). Depois, há os sedutores, que usam os chavões e os artifícios do costume para depenarem os 'patos bravos' que caem nesta esparrelas. E há o olhar de incredulidade daqueles que testam, acentuado pelos gritinhos e saltinhos histéricos do apresentador.
Mas o que é que fará com que duas pessoas adultas vão a um programa de televisão, fazer
um 'teste de fidelidade' ? Qual é o prazer de ir perante uma plateia, desnudar-se e fingir que se faz amor com um desconhecido, enquanto se diz mal do companheiro/a ? Aqui temos o pior de um bairro popular, com os termos e as atitudes de um bairro popular, tudo elevado à categoria de programa de televisão. O tom foi dado há uns anos, com o Masterplan e a célebre Gisela Furacão, uma mocinha que a produção do programa encontrava maneira de acirrar como quem açula um cão e que protagonizava grandes espectáculos de agressão verbal e física. Podem dizer-me que, no início, antes de tais programas irem para o ar, as pessoas não sabem ao que vão. Porém, uma vez feito o 'teste', porque é que consentem que a coisa seja transmitida ? Porquê este gosto do ser humano pela degradação ?
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