sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Are you talkin' to me?

Um dos projectos de Sócrates é implementar o ensino do Inglês na escolaridade básica. Creio que a proposta encaixa algures no "choque tecnológico" dos socialistas (corrijam-me se estiver errado). A ideia tem sentido, se tivermos em conta que uma criança aprende muito mais facilmente uma língua estrangeira do que um adulto ou até mesmo do que um adolescente (está cientificamente provado). Considerando o actual ritmo de mundialização e de globalização, que está a impor o Inglês como idioma internacional, a ideia torna-se numa premissa inteligente, de persectivas a longo prazo - coisa rara por estas paragens!
No entanto, faço a pergunta, recorrendo (mais ou menos) às palavras do próprio Sócrates: estará a sociedade preparada para algo assim?
Apesar de útil, a ideia deve ficar, para já, em segundo plano. Creio ser prioritário ensinar aos petizes, antes de mais, a própria língua. É impressionante - pela negativa - a escrita dos alunos do básico, do secundário e até do ensino superior. Desconhecem-se regras de gramática e de sintaxe elementares. Erros de ortografia são disparados em todas as direcções, ferindo de morte a língua portuguesa a cada minuto que passa. Não há coerência ou capacidade argumentativa. A escrita ou a fala (e, consequentemente, as leituras que se fazem) situam-se quase no grau zero (gosto desta expressão). E a recém-chegada e instituída "cultura SMS" (ainda hei-de fazer uma tese sobre isto) começa a obliterar as poucas estruturas que a custo subsistem.
Da mesma forma, o ensino da matemática devia ser mais exigente. Os miúdos acabam o quarto ano hoje sem saberem dividir à mão 15364 por 456 (eu mal o sei, confesso). Estou no segundo ano da universidade, e sou incapaz de resolver uma equação simples, porque no básico tive maus professores e porque no secundário, a área de Humanidades esquece os números.
Por tudo isto, e por muito mais, creio ser prioritário, antes de mais, tornar o ensino do primeiro ao terceiro ciclos mais exigente. E não é com exames nacionais que se vai lá. É com adaptação e adopção de técnicas de ensino que respondam melhor às capacidades e necessidades dos alunos. Com o fim da brincadeira generalizada. Com critérios de exigência. Com incentivo à excelência, e não à mediocridade, como actualmente se verifica. Muito importante - com o fim da gozação da colocação de professores, criando critérios regionais que não façam um professor com a vida organizada em Viana do Castelo ir parar a Odemira. E com o apoio das famílias - que os papás e mamãs passem a educar os filhos, e não relegarem essa tarefa para educadores e professores. Quanto ao ensino do Inglês, deixemo-lo estar como está para já, reformando-o juntamente com o resto das disciplinas.
(Porque sou aluno e não professor, peço a alguém da área (com experiência empírica, como diria Louçã), que colabore com o Espelho e dê o seu parecer sobre o tema. Amigo Azurara, aceita o desafio?)
João Campos

3 Comments:

Blogger Teresinha said...

CLAP CLAP CLAP!!! Vou votar em ti, ja decidi!! :p
Já sofri na pele essa montanha-russa que é a vida dos professores. Devido à minha mãe, larguei a fardinha, o coleginho no centro de Lisboa e mudei-me para Figueira de Castelo Rodrigo (ao pe da fronteira de filarmoso) onde me deparei, aos 10 anos, com uma realidade bem diferente da que eu conhecia, desde colegas de 13 anos casadas e gravidas a amigos de 18 anos violados e abandonados pelos pais. No ano seguinte fiz novamente as malas e fui para Manteigas (Serra da Estrela), felizmente estou de volta as minhas coisas, a minha casa e a minha realidade. Custa mudar todos os nossos habitos derrepente, custa ver a nossa mae a sofrer todos os dias e a rezar para que seja mais uma vez colocada porque caso contrario não saberá como pagar a gasdolina para voltar a casa.
Beijos***
e desculpa o desabafo...

8:57 da tarde  
Blogger Agnelo Figueiredo said...

Olá João,
Desafio aceite, cá vai:

A ideia do Inglês no Básico não é despicienda. Contudo, para começar, importaria clarificar que se está a falar do 1º ciclo, já que nos outros níveis do básico isso já acontece.
Importa, também referir que a ideia já está a ser implementada, um pouco por todo o lado, por iniciativas de agrupamentos de escolas e câmaras municipais, no exercício das suas competências em matéria de educação (a "minha" câmara é uma delas).
Do lado conceptual, portanto, nada de negativo poderá advir, muito antes pelo contrário.
A questão deve colocar-se num outro plano - o da concretização.
Que professores? Irá terminar o regime de monodocência no 1º ciclo, talvez a razão da pequena réstia de qualidade que o 1º ciclo mantém? Vamos contratar professores que se deslocarão a várias escolas? Como? Quem paga? Haverá avaliação?
Este conjunto de questões, que levantam outros tantos problemas, faz-me concluir que, na verdade, a ideia avançada não passa de "politics" para a campanha.
Mudando de assunto, quero subscrever as suas preocupações quanto à ignorância dos nossos miúdos. É confrangedor o baixíssimo nível de conhecimentos com que aparecem no 7º ano, sobretudo no que tange ao domínio do Português, o qual, como se sabe, é estruturante para futuras aprendizagens na totalidade dos domínios. E, aqui chegados, é altura de discordar da sua ideia de que "não é com exames nacionais que se vai lá". Na verdade, os exames, nos fins de ciclo, são indispensáveis. Exames com consequências. Não com a finalidade de "chumbar" os alunos, embora os que tenham negativa não devam transitar, ou devam ser emcaminhados para outras vias escolares. Exames para os quais seja necessário estar preparado. Exames que obriguem os alunos a estudar, a adquirir hábitos de trabalho, a valorizar o trabalho. Exames que avaliem o trabalho dos professores, que os responsabilizem. Enfim, exames que assinalem uma momento de viragem na cultura desresponsabilizadora e facilitista que nos trouxe até este "bater no fundo".
Ainda quanto à temática dos exames, quero referir que o único ano de escolaridade em que existe uma verdadeira preocupação dos professores em cumprir os programas é o 12º; que os professores que faltam menos são os que leccionam o 12º; que o único ano em que os professores se voluntariam para leccionar aulas suplementares é o 12º. Porquê? Claro - o exame!

Gostei da ideia da tese em "SMS". Vá em frente.
Um abraço das Terras de Azurara para o meu amigo alentejano.

8:58 da tarde  
Blogger Agnelo Figueiredo said...

Estive a reler o meu post e dei conta de uns "errozinhos". Peço desculpa. Não foi a ortografia, foi a velocidade do dactilógafo.

9:03 da tarde  

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