sábado, janeiro 07, 2006

Dá-me música

Num almoço de campanha em Grândola, Cavaco Silva ouve a canção imortal de Zeca Afonso, Grândola, Vila Morena. De imediato a esquerda reage, acusando-o de oportunismo político. Ridículo. Nem vou discutir se Cavaco é de esquerda, de direita, ou de qualquer coisa ali no meio. Mas não deixa de ser curiosa a reacção - como se a música de José Afonso, apropriada pelo MFA para ser a senha da revolução de Abril, e depois apropriada pela esquerda para ser hino dessa mesma revolução, apenas pudesse ser ouvida por pessoas de esquerda. Como se fosse propriedade da esquerda, e qualquer político de direita que a ouvisse em público estivesse a ser oportunista. É impressionante que em pleno século XXI haja quem ainda pense assim. A música é apolítica, independentemente da mensagem das suas letras. Também eu admiro José Afonso, e de certeza que não sou de esquerda. Também eu admiro System of a Down, quer a música quer as letras, e não sou nada anti-americano. Serei incoerente? Talvez. Mas a escolher política ou música, venha a música.

João Campos