sexta-feira, janeiro 20, 2006

Ensaio sobre a coerência

Quando tento resumir em exíguas e concisas palavras aquilo que esta batalha presidencial trouxe ao país choco de frente, como um qualquer acidente frontal no IP5 em época de Inverno, com o vazio que a mesma, em si própria, encerrou. Nesse laborioso trabalho intelectual, ou pelo menos na tentativa de o fazer, encontro uma ideia que talvez alguém que leia este blogue veja como coincidente com o seu pensamento. É a seguinte:
Se tentarmos analisar antropologicamente o país chegamos facilmente à conclusão que em muitos de nós a rejeição do ideal monárquico prende-se com o facto de acharmos, consciente ou inconscientemente, que a figura do possível sucessor ao ‘trono’, Duarte Pio, transmite uma imagem generalizadamente tida como ridícula porque se exprime de uma maneira peculiar, tem fracos dotes oratórios e de retórica, tem uma grave falha na dicção e até porque a sua aparência física em nada ajuda ao compor do quadro.
Ora o pensamento que me anda a fervilhar na cabeça nos últimos dias é que, confiando nas sondagens até agora feitas, este país preparar-se-á para eleger um Presidente da República EXACTAMENTE com as mesmas características, sem tirar nem pôr, até mesmo possuindo três intrigantes e pomposas verrugas no rosto. Para além disso, a maioria dos cidadãos eleitores acha, legítima e convictamente, que essa é a melhor escolha para representar uma Pátria com oitocentos e sessenta e seis anos de História – que não é exactamente a mesma coisa que saber minuciosamente o comportamento do modelo económico AS-AD na economia portuguesa, europeia ou mundial.
Se porventura esta fosse uma nação onde um dos valores nacionais mais valorizados fosse a coerência (que não é definitivamente o caso) todos poderíamos ser convictamente monárquicos já que ficaríamos impossibilitados de usar o argumento de o sucessor ser quem é. É curioso!

João Teago Figueiredo