segunda-feira, janeiro 23, 2006

Recordo-me da primeira (e única) vez que vi Mário Soares ao vivo. Corria ainda o ano de 2003. Acabado de chegar a Lisboa para ingressar na universidade, estava naquele final de tarde na Fnac do Chiado a assistir à apresentação do livro O Quarto Equívoco, de Mário Mesquita, meu professor no primeiro ano. O ex-presidente lá estava, na apresentação do livro do seu amigo: obeso, vasto numa confortável cadeira. O académico e os seus convidados discursavam, e Soares, com aquela calma proveniente da sua venerável idade, com a cabeça reclinada para trás e com a boca aberta, dormia. Para quem nesta campanha se afirmou culto e acusou Cavaco de não ter maneiras, não creio que tenha sido a melhor demonstração de boa educação. Naquele momento, soube que nunca na vida votaria em Soares para o que quer que fosse.

Ocorreu nesse ano eu ter reprovado à cadeira de Análise Económica (e tornei a reprovar no segundo ano). Seria, portanto, lógico e, até, quase inevitável que fugisse do candidado economicista como o diabo foge da cruz. Aliás, se o meu gosto pelas letras fosse tido em consideração, o meu voto teria ido direitinho para Alegre: rebelde e dissidente, como eu; com gosto pela escrita, como eu; e, ainda por cima, sei que gosta do meu Alentejo (e eu nem por isso aprecio o Algarve). Não sucedeu assim, todavia, que poemas e trovas não enchem a barriga, nem resolvem os muitos problemas que este nosso país atravessa.

De todos os males, o menor, creio eu. O tempo o dirá. Para já, congratulo-me por a coisa ter sido resolvida na noite de ontem, sem necessidade de uma desgastante segunda volta. E, evidentemente, pela derrotazinha da Esquerda. Pena foi que Louçã não tenha ficado abaixo dos cinco por cento. Não se pode ter tudo, não é verdade?

João Campos