segunda-feira, junho 19, 2006

E porque não há outro assunto para além de "bola",

há uma anedota já antiga que contava a história do rei de Espanha em visita a uma escola primária. A professora, querendo que os seus pupilos fizessem boa figura, pediu-lhes que dissessem ao rei "Espanha é um país amigo". Ora o Joãozinho (porque tem de ser sempre o Joãozinho?), ignorando o apelo da professora, insistia em dizer que Espanha era, sim, um país irmão. Quando interrogado acerca do porquê do seu entusiasmo e da sua insistência neste ponto, o Joãozinho argumenta que "os irmãos a gente pode escolher!".

No entanto, esta piada tem mais verdade do que pode à primeira vista parecer. É verdade que não escolhemos Espanha - ela está já aqui ao lado. E, como todos os bons irmãos, Portugal e Espanha passaram toda a infância, até à adolescência (leia-se 1640) às turras por terem de dividir o quarto. Já a caminhar para a idade adulta, acalmaram-se, tornaram-se amiguinhos, mas sem deixar de dar uma facadinha ocasional pelas costas (como o isolamento a que Espanha nos votou nas invasões napoleónicas, ou as ideias de Hitler para invadir Portugal, com a conivência de Franco - bendita frente de Leste!).

A termos algum país verdadeiramente irmão, esse será aqui a vizinha Espanha. Não o Brasil, como os portugueses sempre afirmam por alturas de Mundial de Futebol (ou Angola, neste ano). Aliás, a haver alguma relação de parentesco, Angola e Brasil seriam filhos de Portugal, já que foram criados e educados pelos portugueses (bem ou mal, não interessa). Nunca irmãos. O argumento da língua não cola. Muitos portugueses mal falam o português, e não creio que o idioma falado em terras de Vera Cruz seja propriamente português (é mais uma derivação). Perdoem-me o puritanismo gramatical.

Tudo isto para dizer que não dou para o ridículo peditório de torcer pelo Brasil em competições internacionais, no caso de Portugal falhar. Esse patriotismo bacoco de apoiar uma equipa apenas porque ela fala uma língua semelhante à nossa consegue ainda ser mais ridículo que as bandeiras penduradas à janela. Porque não apoiar a Inglaterra, nossa mui amada aliada desde o século XIV (facadinhas à parte)? Ou a Suécia, que não nos é nada, mas que sempre é o que se arranja mais perto da Finlândia, que queremos tanto imitar? Ou a Argentina? Também joga bem à bola. E, ao menos, não temos de aturar os gritos dos brasileiros às janelas e varandas sempre que o escrete marca um golo (ontem foi insuportável aqui no meu quarteirão).

E pronto. Volto ao trabalho de Ética. Apesar de contente por o apuramento para os oitavos de final de nuestros hermanos, não torço por eles. Como qualquer bom irmão. Consequentemente, apenas espero que a República Checa chegue à final.

João Campos

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É interessante, como brasileira, ler as tuas opiniões. Primeiro, porque achei absolutamente carinhoso saber que alguns portugueses torcem por nós. Aqui, no Brasil, falava-se pouco sobre a seleção portuguesa; mais sobre o Felipão, nosso ex-técnico.

Hoje, falamos da Argentina ("nuestros hermanos", sim, e eternos rivais no futebol) e dos times com bons resultados; claro que com Portugal nesta lista. Agora sei até quem é Christiano Ronaldo, apesar de não acompanhar tanto o futebol.

Ri muito ao ler sobre os gritos de brasileiros. Teve algum sambinha por aí? Não sei a tua idade, imagino uns 50, mas se experimentares um samba de Chico Buarque, vais alegrar este coração. Aliás, perdôo o puritanismo gramatical, mas não o de alma.

Beijos!!!

4:30 da tarde  

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