quarta-feira, abril 11, 2007

Significados políticos?

Está aí a polémica sobre o filme 300, adaptação para o cinema da graphic novel de Frank Miller, autor de Sin City (brilhantemente adaptado para filme). A polémica, contudo, não é tanto se o filme é bom ou mau - o que é sempre discutível, sobretudo se entramos nos nebulosos critérios dos críticos habituais. A polémica está em volta do significado político do filme.

Isto faz-me lembrar uma outra pequena polémica (pequena porque o filme foi alegremente ignorado pela crítica) à volta do V for Vendetta, mais uma adaptação de banda desenhada para o cinema. A história de V é mais ou menos simples: num futuro próximo, a Inglaterra vive mergulhada num regime totalitário, o qual se vem a saber que foi responsável por ataques biológicos em território do Reino Unido a fim de consolidar o seu poder a partir do caos. O protagonista, que se identifica com a letra V, é um terrorista com uma capacidade física fora do normal, devido às experiências que nele foram conduzidas, e que se quer vingar do que lhe fizeram. Mais do que isso, é um idealista da liberdade. Ora, não faltou quem daqui tirasse ilações curiosas. Que o filme era uma banhada anti-americana, por exemplo. Quando, a meu ver, o filme não tem qualquer significado do género. É uma adaptação, um elogio à luta pela liberdade. E, acima de tudo, um excelente filme, com Hugo Weaving a dar, mais uma vez, provas de um talento brilhante, e Natalie Portman... bom, a rapariga fica sempre bem nos filmes, não há muito a dizer.

Quanto a 300, amanhã irei ver. Claro que à partida o filme toca num ponto escaldante, a partir do momento em que retrata uma guerra que envolve os persas. O governo iraniano, furioso, já barafustou. Tal como barafustou pelos cartoons, e como barafustará sempre que no mundo ocidental alguém desenhar um povo muçulmanos como os mauzões da fita. Mas desse filme já estamos nós fartos, ou não?

O que acho curioso é que o mesmo género de críticas não se manifeste contra banhadas anti-americanas como Farenheit 9/11 ou An Unconvenient Truth, ambos premiados com um Óscar (o que só atesta a qualidade do dito galardão...). Esses, sim, são documentários credíveis e de qualidade. E com claro significado político. V for Vendetta é apenas um filme. Mas há, como sempre, quem confunda as coisas.

João Campos