sexta-feira, março 09, 2007

A responsabilidade individual é só para alguns

Por mais estranho que seja, assumo: concordei na íntegra com um post do Daniel Oliveira, sobre o tabaco e as novas leis que por aí vêm. Seguem-se alguns comentários à caixa de comentários - passe a redundância - do respectivo post:

De facto, o ideal seria essa discriminação positiva, dando liberdade ao mercado de se ajustar e definir públicos alvo. O problema é que nenhum dono de um café se vai chegar ao pé de um cliente que esteja a fumar e pedir-lhe que não fume ali, mesmo sendo um local para não fumadores. Ou seja, ficaria tudo na mesma... [José]

- Não é verdade. Aqui mesmo ao lado da minha casa em Lisboa tenho um exemplo disso. Fui lá uma vez tomar café com uma amiga - espaço limpo, bem decorado, com óptimo aspecto. Pedi um cinzeiro, resposta categórica: "neste estabelecimento não é permitido fumar". Possivelmente, dir-me-iam como resposta a isso "e aposto que é o único que conheces". O que não quer dizer que seja o único que exista. E, de resto, a questão intriga-me: se há tanta gente descontente com o fumo em restaurantes e bares, então o nicho de mercado deve ser (imagino) os clientes fumadores. Certo? Têm, então, medo de o mercado se auto-regular?

Quando a nova lei for aplicada, passara a ser considerada tao normal como o status quo atual. Ninguem se queixara de nao poder fumar num restaurante, tal como atualmente ninguem se queixa de nao poder fumar dentro do metropolitano ou de um autocarro. Toda a gente achara normalissima a proibicao de fumar nos restaurantes, tal como toda a gente acha normalissima a proibicao de fumar nos comboios e avioes. E so uma questao de habito. [Luís Lavoura]

- Está bem. Apesar de achar a comparação entre meios de transporte e um restaurante - ou, melhor ainda, um bar - um tanto ou quanto curiosa. Sim, porque está provado que as pessoas têm uma necessidade vital de ir a um bar, mas só andam de metropolitano ou de avião por capricho. O problema da lei é que com ela, está uma vez mais o Estado-Regulador a interferir na vida privada das pessoas - e, para começar, na vida de quem tem um restaurante e não estava minimamente interessado na proibição de nele se poder fumar. Os fumadores agora regozijam, mas quando o Estado-Regulador apontar as baterias para algo que já lhes diga respeito, logo vemos como elas mordem.

Durante muitos anos, infelizmente, os fumadores recusaram se, militantemente, a compreender este facto trivial - que ao fumarem estao a incomodar os outros. Infelizmente, entao, tem que se fazer uma lei para os obrigar a compreender o facto trivial. E pena que se tenha que fazer leis para obrigar as pessoas a compreender coisas que elas deveriam compreender e aceitar sem a necessidade de leis.[Luís Lavoura]

- Pois é, pá. Que chatice, ter de fazer leis para os assaltos e para os homicídios, não é?

Uma (boa) parte dos fumadores são completamente incivilizados (completo desrespeito por terceiros...).[Tiago]

- Uma boa parte dos não fumadores são tão civilizados e altruístas que, por eles, nem zonas para fumadores existiam.

Já pensaram nos trabalhadores dos locais onde se fuma? São obrigados a ficar com o cancro dos outros... Se houver lugares públicos onde é permitido fumar, quem lá TRABALHA fica exposto. É também uma questão de direitos laborais.[Tiago]

- É meramente uma questão de escolha individual. A questão é, se houver possibilidade de escolha - isto é, de o dono de um estabelecimento decidir se é permitido fumar lá ou não -, então há espaço para trabalhadores que não podem ou querem levar com o fumo dos outros, para aqueles a quem a questão é indiferente e para aqueles que querem - talvez porque fumem ou por outro motivo qualquer.

por que é que o patronato tem que subsidiar esse tipo de actividades tendo salas especificas (custo de espaço e ar condicionado)? Em última análise isso seria um benificio que os fumadores teriam em relação aos não fumadores. Enquanto não fumador gostaria de ter em compensação o valor desse benificio reflectido no meu salário.[Tiago (este senhor é um diamante em bruto]

- O benefício que o senhor tem é uma vida mais saudável enquando os dementes viciados em nicotina têm a sua pequena leprosaria. Como disse, e bem, o Daniel Oliveira, isto é mesquinhice. Da mais rasteira, acrescento eu. Apenas vem provar o que está realmente em causa nesta questão...

Não concordo com a diabolização dos fumadores. Mas também não aceito que me tratem a mim, e aos que partilham da minha opinião, como uma flôr-de-estufa apenas com vontade de chatear os outros. É frequente que resvale nisto a posição dos que fumam (não que seja esta a posição expressa pelo Daniel).[Hugo Carreira]

- Tal como é frequente que a posição dos não-fumadores resvale na diabolização dos fumadores.

O fumar só poderá ser um direito individual qd os fumadores assumirem o pagamento integral das doenças que essa "liberdade" lhes causa. Enquanto for o Estado a subsidiar a 100% o tratamento do canro do pulmão, não se pode falar de um direito individial, uma vez que ele tem consequências colectivas.[Vitor]

- Por acaso tem alguma noção do valor dos impostos sobre o tabaco? E sobre o caminho desses impostos? Considerando o Serviço Nacional de Saúde que temos, e do qual já fui vítima várias vezes, essa questão é completamente irrelevante.

O Sistema de Saúde Alemão, baseado em Seguros de Saúde, está a caminhar no sentido de exigir aos doentes que apresentem esse tipo de doenças, maiores co-pagamentos, e essa vai ser a evolução no futuro, quer isso agrade ou não aos adeptos de comportamentos de risco. Não é só sexo sem preservativo que é comportamento de risco. Fumar também é. Toda a gente sabe. Logo não é justo que sejam os não fumadores ( a maioria dos cidadãos) a financiar as consequências dos ditos "direitos e liberdades" aos vícios individuais.[Vitor]

- O que é curioso é que eu até concordo com isto. Mas é evidente: fumar faz mal, toda a gente o sabe. Logo, quem o faz está a fazer uma escolha consciente e, por isso, sabe que ao fazê-lo, poderá sofrer determinadas consequências. Por conseguinte, deverá assumir a total responsabilidade por elas - no caso, pagar do seu bolso todo e qualquer tratamento de doença provocada ou agravada pelo consumo de tabaco. Não podia estar mais mais de acordo. Veja lá que concordo tanto que até acho que foder - para chamar as coisas pelos nomes - é um acto que deriva da escolha pessoal e consciente de cada um, sendo que quem fode sem precauções sabe que pode apanhar uma doença sexualmente transmissível ou engravidar (no caso das mulheres). No entanto, está para breve o aborto no SNS; e, para o caso, a gravidez indesejada é exactamente como um cancro de pulmão: uma consequência de um comportamento do qual se sabiam muito bem as consequências. Pede-se responsabilidade para os fumadores, mas não para quem anda a foder sem cuidado nenhum? Não me fodam.

Razão, razão, têm os Marretas:

PELA NOSSA SAÚDE
Para ser coerente, o Governo tem proibir o fumo em salas de chuto com menos de 100 metros quadrados.
STATLER

João Campos