And now for something completely different:
Não resisto. Ando a passar os olhos pelo blog Blasfémias e eis que , subitamente, os meus olhos tropeçam num artigo sobre uma polémica envolvendo ateus e crentes na blogosfera lusa. Eis que descubro uma autêntica guerra via comments, parte dela ironicamente fratricida. Dê-se uma vista de olhos, por exemplo, a este artigo (entre alguns outros) do blog A Destreza das Dúvidas, e ao Diário Ateísta. Atente-se nos comentários deixados em ambos.
Cheguei à discussão tarde e a más horas. Foi pena. Apanhei somente com os estilhaços. Enfim, adiante. Não me vou pronunciar sobre as acusações de fanatismo de parte a parte - acho que as palavras cuspidas nos comentários falam por si, e melhor do que qualquer coisa que eu diga podem ajudar o leitor a inferir quem é efectivamente fanático. Vou apenas deixar aqui, no meu espacito, a minha visão da coisa - da fé, do ateísmo, da religião.
Assumo-me crente. Em Deus. Que Deus? Não sei, quem quiser que o descubra. A mim não me interessa. Sinto algo. Simplesmente. É quase como diz Ana na Aparição: Sou pequena e sei que a grandeza existe. Existe onde? Existe. Sinto-o em mim como uma pancada no escuro... (in Ferreira, Vergílio, Aparição, Lisboa, Bertrand Editora, 1994, p. 227). A vida humana neste planeta que nem um mero grão de areia do Universo em expansão que nos rodeia é, constitui, possivelmente, a mais remota das probabilidades concretizada. Impossível não me sentir ínfimo perante a grandeza de tudo. Claro que isso por si só não justifica a existência de Deus. Mas faz-me sentir que é algo em que vale a pena acreditar. É algo que sinto. Ponto final.
Evidentemente que não posso provar isto empiricamente. Já me deixei desses ensaios há tempo considerável (o que não quer dizer que tenhas ganho, Miguel). Não por falta de argumentação. Mas por considerar que a argumentação é insuficiente. Porque, da mesma forma que nem eu, enquanto crente, nem o padre que aos domingos dá missa aqui perto de mim, em Santa Isabel ou na Estrela, ou nem mesmo o Papa João Paulo II poderemos provar empírica e cientificamente a existência de Deus, também um ateu não me poderá provar a não-existência de Deus. Ilógico? Não se lermos Hume. "No matter how many times you drop a stone and it falls to the floor, you'll never know what will happen the next time you drop it: it might fall to the floor, but then again it might float to the ceiling. Past experience can never prove the future". Ou seja, indução. A mesma da célebre parábola de Russell sobre o galo.
Qual é o meu ponto? No fundo, o mesmo de Soren Kierkegaard: "Faith has nothing to do with how or why". Na sua natureza, trancende a lógica. E esta é a verdade que aceito. Diga-se o que se disser. A discussão é eterna, circular, demagógica, até. Os argumentos esgotam-se sem se esgotarem.
Um último ponto, este já relacionado com a "guerra" acima mencionada: Religião e ateísmo são, para mim, dois lados opostos de uma mesma coisa. Dois extremos que, de tanto se tentarem afastar, acabam por caminhar de mãos dadas, dependendo invariavelmente um do outro para subsistirem. Como a luz e a sombra. O bem e o mal. And so on, and so on.
God bless you all, believing in Him or not,
João Campos
1 Comments:
Excelente!
Parabéns.
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