domingo, abril 03, 2005

"Every man dies..."

É verdade. Fará muito mais sentido falar-se de "vida digna" do que de "morte digna".
A questão da eutanásia, que o cinema dos últimos meses colocou nos olhos do mundo, é muito delicada, não menos que a da IVG. Vamos ser pragmáticos: quando é para nascermos, ninguém nos consulta, assim como ninguém nos consulta se o aborto é decidido; por que raio insistem em debitar opiniões sobre a morte? É uma escolha estritamente pessoal, egoísta, com a qual se afecta todo um mundo. No entanto, isto é defender o suicídio, e não a eutanásia.
Quem pensa na eutanásia como escape para uma "vida indigna" são aqueles a quem as circunstâncias da vida roubou as hipóteses de escolher a própria morte. Como Terry Schiavo. Ou Rámon Sampedro. Ambos os casos são diametralmente diferentes porque se Rámon pode planear tudo, Terry não. Rámon manifestou explicitamente o seu desejo de morrer. O desejo de Terry foi interpretado pelo marido, a partir de conversas passadas. Evidentemente que a verdade hoje não o é amanhã, e que é muito fácil falar no vazio. Por isso, até que ponto foi a decisão, que à primeira vista parece lógica, justa?
Terry não teve uma vida digna ao longo dos últimos quinze anos? Errado. Terry teve, ao longo destes quinze anos, uma vida. Pura e simplesmente. O coração batia, o metabolismo celular processava-se. O corpo inerte estava vivo. O que Terry não teve foi uma existência. E quando não se tem uma existência, ela não pode ser digna ou indigna.
E, antes de mais, o conceito não pode jamais ser aplicado pelos outros. "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra", diz Jesus Cristo. Não me cabe a mim julgar a dignidade da vida de alguém. Como não caberá a ninguém julgar a minha. É algo de pessoal. Por isso, quanto a João Paulo II ter tido uma morte digna, que se pode dizer? Morreu enfermo, a lutar contra uma doença manifestamente mais forte. Morreu rodeado de fé, debaixo das orações de milhões de crentes, até de outros credos. Isto pode parecer insignificante para um ateu e até para um agnóstico; mas para quem tem fé, faz todo o sentido. E, seja-se ou não crente, a ninguém deve restar a dúvida de que a vida de João Paulo II foi, efectivamente, uma vida de entrega ao próximo, de aproximação sobre as diferenças.
A dignidade da vida, como já disse, cabe a cada um julgar. Cabe a cada um, dia após dia, fazer as escolhas que nos orientam ao longo do nosso caminho. Que nos conduzem ao nosso conceito de felicidade. Completando a frase que abre o título deste post (de William Wallace, no grande Braveheart), "Every man dies. Not every man truly lives."
Vivam, apenas.
João Campos