Esquerda (in)tolerante
Perante a decisão de Jorge Sampaio, a esquerda não hesita: que se aprove a lei do aborto na Assembleia, sem referendo nem barulho no povo. Organiza-se uma tertúlia bem regada ali no estaminé de S. Bento e voilà, é a intrerrupção voluntária da gravidez fucking free for all.
A diferença de posições entre a esquerda e a direita nesta matéria explica e comprova o título deste post. Para a direita (mais ou menos em geral, se bem que no caso português se possa discutir a existência de uma direita *direita*), a lei actual é suficiente: salvaguardam-se os casos de violação, de má formação do feto, de perigo para a saúde da mãe. Ponto. Quanto aos restantes casos, existem à venda no mercado preservativos, pílulas contraceptivas e do dia seguinte, entre outros métodos para prevenir uma gravidez indesejada (ok, acidentes acontecem, mas não entremos por aí). Já para a esquerda, a situação é inconcebível: o aborto tem, não só de ser despenalizado, mas também legalizado, para que qualquer adolescente irresponsável que goste de molho possa usar e abusar, desde que tenha dinheiro (em rigor, desde que os papás tenham dinheiro) para mandar o feto pela pia. Porque é um direito da mulher, etc.
Se falamos em direitos, falamos em deveres e em responsabilidades, mas já se sabe que estes conceitos são para a esquerda o que uma cruz é para o diabo. E creio ser da responsabilidade da mulher (ou da rapariga) e do seu parceiro o facto de se engravidar. O Espírito Santo já não faz das dele há mais de dois mil anos, e, ao contrário do que algumas leitoras da Maria pensam, nem sonhos eróticos nem sexo oral engravidam. Logo, e uma vez que sabem que ter relações sexuais sem contraceptivos é estar a jogar à roleta, quando optam por o fazer assumem as responsabilidades.
A questão é que a esquerda não assume responsabilidades. E depois aponta o dedo à direita e acusa-a de intolerante. Mas a pergunta mantém-se: onde está a sua tão aclamada tolerância?
João Campos
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