quarta-feira, novembro 02, 2005

Conversas de café

Tornou-se mais ou menos recorrente acusar-se os Estados Unidos de todos os males do mundo. A coisa atingiu uma proporção ridícula a partir do 11 de Setembro, com sorrisos de alegria pelo mundo. O que não me choca quando falamos do Médio Oriente mas choca-me quando falamos da Europa. Afinal, os americanos dão-se ao luxo de passar por cima da Europa e do Conselho de Segurança da ONU. Apenas tiveram o que mereceram. Com o furacão Katrina (e com todos os outros que hão-de vir) voltou o fantasma: os E.U.A., ávidos de mercado, não assinaram Kyoto - a solução para todos os problemas ambientais do planeta!;logo, são os responsáveis pelo aquecimento global, pelo buraco do ozono, pelo degelo e qualquer outra catástrofe natural de origem climatérica que assole este planeta.
É para falar de responsabilidades? Então vamos começar por África, aquele belo e selvagem continente que em 1884 foi divido, com régua e esquadro, a traços de lápis pelas principais nações europeias - leia-se Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha, Itália, Holanda, Portugal e Espanha (apesar de não estar certo quando à Espanha). No processo apenas foram tidos em conta interesses económicos. As tribos e etnias da região foram esquecidas até os conflitos rebentarem - sendo então reprimidos pela força das armas.
Muitos dos conflitos africanos vêm deste tempo, da divisão errática que a Europa fez do continente africano. Da mesma forma que a visão colonial, com tudo o que lhe é intrínseco (desprezo pelos nativos, interesses económicos, etc), em parte, ajuda a explicar a miséria que hoje é visível aos olhos do mundo. Hoje, que as colónias não mais existem, estão no poder políticos corruptos que vêm o seu povo passar fome e morrer de pragas sucessivas de uma janela banhada em ouro. E as Nações Unidas - essa grande organização que tanto tem feito por causas humanitárias (comentário semi-irónico) - não fala disto. Despeja ajuda humanitária, em caixotes castanhos, dos céus onde voam os C-130. Está no terreno, mas apenas remenda. De certa forma, a ajuda humanitária europeia é a indulgência do seu pecado, sinal de um complexo de culpa que conhece mas não reconhece. Porque não enviar, em vez de ajuda humanitária, quadros técnicos que, aos poucos, comecem a formar naqueles países pessoas capazes de dar um novo rumo a África? É a velha parábola do pescador: porque é que, ao invés de se continuar a dar peixe a África, não se lhe ensina a pescar? Resposta iluminada: "porque os governos corruptos desses países não permitem." Se assim é, porque não faz o Conselho de Segurança das Nações Unidas alguma coisa?
O desastre africano é apenas responsabilidade europeia. Da mesma Europa que errou e que, através da ONU, continua a errar. E pouco me importa que os americanos vendam para lá armas e tudo o resto. Isso vem depois. Começemos pelo início. África não precisa de alimentos, mas de aprender a cultivá-los. A boa da verdade é que a ninguém - nem à Europa, e muito menos aos Estados Unidos - interessa que África saiba pescar.

João Campos

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Concordo plenamente contigo. se África é o que é isso deve-se a culpa nossa. Se a Europa não tivesse dividido a África no passado hoje eles seriam os ricos e não nós.

2:57 da manhã  

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