sexta-feira, dezembro 09, 2005

Deste Lado do Espelho

Os exames são como as injecções: custam, mas têm utilidade. Servem para aferir, a nível nacional, se o trabalho desenvolvido ao longo do ciclo de estudos foi bom ou mau. Depois de 74, foram considerados anti-pedagógicos ( tal como o ditado, acreditam ? A primeira acção de formação a que assisti, na minha vida de professora, foi para uma senhora me dizer, em tom severo e firme: 'o ditado é anti-pedagógico, pelo que se desaconselha !').
Ora agora digo eu, na sequência do que Johnny Campos escreveu ( ai, que rimas tão louçãs -neste momento, estão a transmitir o debate Louçã-Cavaco ), a aprendizagem devia / deve ser estimulante, embora eu ambicionasse que a mesma fosse, também, divertida ( porque não ? ). Aprender a Segunda Guerra Mundial em Inglês, deve ser muito mais divertido a cantar ( tentei fazê-lo no ano passado, com o último 11º ano ! Desastre ! )
Mas do que eu gostava mesmo, é que a aprendizagem não fosse feita só para se obter uma nota. Fico com a sensação de que estive, durante um ano lectivo inteiro, a ensinar autómatos, interessados em obter um 8, que ,no ano seguinte, se somará a um 11, noves fora, 10 ! Durante os meus vinte e quatro anos (que começaram ontem, garanto-vos !) só me lembro de uma encarregada de educação me ter dito: 'Eu não queria que o meu filho tivesse só notas, queria que ele saísse da escola sabendo Inglês !' Eis uma posição sensata e uma maneira sensível de analisar a questão. Afinal, os alunos devem apenas ser preparados para um exame (cuja matéria abandonarão a seguir, se passarem ) ou deverão sair a saber dialogar, ainda que incipientemente, com um falante Anglo-Saxónico ?
Se querem sair, a saber uma língua, a aprendizagem deve 'forçar' os alunos a falar, por exemplo, e à falta de melhor, através de exercícios de 'acting' ( mimar ou representar uma acção na sala de aula ). Fazer isso num 12º. ano torna-se impensável, pois todo o tempo é precioso e não se pode 'desperdiçar' em 'actings' ( o exame, o exame, ai o exame ! )
Refere João Campos, também, o papel dos pais. Para uns, a escola e o que os filhos lá fazem é um pouco indiferente. Outros há que vêem no professor o disciplinador, o que não deixa a malta pôr pé em ramo verde 'e se for preciso, Srª. Professora, dê-lhe um estalo, que eu autorizo !', dizem. Pois, os estalos que não foram dados, em casa e a tempo, tornam-se contraproducentes, sobretudo quando os meninos já são da nossa altura ou maiores, capazes, portanto, de pagar um estalo com outro ainda mais forte. Não, a ideia do estalo não me agrada. Finalmente, há os Encarregados de Educação que se marimbam para a vida e regras da escola em geral, e para os professores, em particular. Querem é que os meninos tenham notas ! Quanto ao resto 'adeus, ó compadre ! ' Voilà um episódio. Era uma professora novinha e/mas exigente ( casos há em que o grau de exigência é inversamente proporcional à idade do docente; noutros, é ao contrário ). No final do primeiro período, atribuiu à aluna um 09. Compreendia-se, era o primeiro período e, no entender da professora, a menina não se esforçara o suficiente. 09 é daquelas notas que 'não cheiram nem fedem', como se costuma dizer. Com um pouco de esforço, diz-se, dá para
recuperar. A encarregada de educação da moça, porém, não o entendeu assim. Na reunião do segundo período, em que é feita a distribuição das fichas de informação, a senhora deixou-se ficar para o fim, 'porque queria falar
comigo'. E o que era ? Era o 09 ! Como é que a filha, tendo x no teste A e y no teste B tinha uma nota daquelas ? Fiquei de falar com a professora e de consultar os critérios de avaliação da disciplina, para poder dar à irada encarregada, uma resposta capaz. Como fazer-lhe entender que uma avaliação não contempla só testes ? Num encontro posterior, mostrei-lhe os critérios. A senhora olhou de longe e, com um leve esgar de desprezo, resolveu a questão, dizendo: 'Eu não acredito em nada do que está aí !'
( Pois é, ela percebia tanto de avaliação, de critérios e de ensino, como eu de lagares de azeite. A resposta que deu serviu, apenas, para provar como está distante a escola do meio, em que se insere !). A aluna acabou por se entender com a professora, ao longo do ano e acabou com um digno 12. Quanto à encarregada de educação, há-de ter-se deitado descansada e dormido contente, por ter 'posto os pontos nos is aos professores'. É sempre estimulante ver a ignorância a dar lições ! Para terminar, dou-lhe aqui, aquilo que se dizia antigamente, num programa humorístico brasileiro: 'P'ra você, a minha gargalhada de desprezo !'
Conclusão ( aliás, brilhante! ): no ensino, como noutras áreas, é tudo uma grande confusão ! Bom fim-de-semana! Cheers!

1 Comments:

Blogger João Campos said...

Maria Helena: nenhum aluno sai do secundário a falar um mínimo de inglês se se ficar pelas aulas. Mesmo que estude e arranque 19. Pode sair de lá a saber escrever inglês, e ás na gramática. Mas saber falar inglês requer mais dedicação e esforço do que isso - e não importa quão bons são os professores. A culpa do falhanço do sistema (des)educativo português não é dos docentes. Mas dos programas em si. E de muitas outras coisas.
Cheers!

1:23 da manhã  

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