quinta-feira, maio 03, 2007

Pai só há um, e não é o estado

Não! Não é perseguição, meus caros. Nada disso. Juro que o estado (o nosso não merece letra maiúscula, e não é apenas por estas cruzadas menores...) não quer perseguir e ostracizar os fumadores. Aliás, de onde poderia surgir tão disparatada ideia? O que o Estado quer é proteger os cidadãos. Evidentemente. Ele quer que os seus cidadãos sejam saudáveis, de pulmões imaculados, sem ponta de vício. E, evidentemente que era necessário começar por qualquer lado (pergunto-me é como isto vai acabar...).

Claro que o facto de as multas aplicáveis a quem infringir as novas leis serem superiores às multas aplicáveis ao consumo de drogas - substâncias ilegais, note-se, coisa que o tabaco não é (e porquê, se faz tanto mal?) - é apenas um pormenor irrelevante. Há que conduzir as ovelhas tresmalhadas ao caminho certo, afinal. Claro que o facto de a nova lei ser, tirando um ou dois pontos, um golpe violentíssimo nos direitos de propriedade, é coisa de somenos. Afinal, pode-se abrir um restaurante vegetariano - quem não gosta, como eu (hmmm... carne...), não frequenta; mas um restaurante/café/bar/etc. para fumadores, não. Temos de nos regular todos pela mesma medida, pela mesma lei disparatada. É a saúde, a ditadura dos novos tempos.

Bom, resta-me o consolo de que ao menos o preço do tabaco vai diminuir, assim. Ah, não? Pois, claro, como poderia? Lá se ia uma bela receita suplementar para o estado. E nesta alegre hipocrisia caminhamos nós. As pessoas habituam-se, dizem algums. Claro que sim. E, daqui a uns tempos, habituamo-nos todos a não beber café, a não comer gorduras nem carne vermelha (enchidos e fritos nem pensar), a ingerir apenas uma dose diária recomendada de açúcar, e, claro, fiscalizações constantes a restaurantes a ver se cada prato que conste da ementa cumpre rigorosamente as quantidades exigidas na rodinha dos alimentos. Uma cervejinha para acompanhar o repasto? Não, nada disso. Nem Coca-cola, que faz mal. Afinal, estamos todos a zelar para o seu bem.

E assim, um dia seremos todos fortes e saudáveis (e será que os danoninhos serão legais?), sem vícios, de pulmões limpinhos. Pena que nessa altura o ar da Terra seja provavelmente demasiado irrespirável para que os possamos aproveitar bem. Seremos todos perfeitos, sem ponta de vício, verdadeiras virtudes vivas. E loucos. E, suprema ironia, ainda mortais. Prometo que, se viver para conhecer este mundo, no dia em que for fazer tijolo hei-de soltar uma valente gargalhada.

João Campos

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Revirando alguns textos velhos que guardei, deparei-me com alguns escritos por um português de nome João Campos. Lembrei-me, então, deste blog e de algumas das reflexões que pude acompanhar de vocês.

Eu sou a brasileira que na época do Mundial do ano passado, freqüentou os comentários daqui. Lembro que na época pude olhar a minha cultura com olhos portugueses e ter conhecimento de como os nossos laços estão no século XXI.

Agora, como estudante de comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ocorreu-me a idéia de trocarmos, ao invés de textos, imagens.

Gostaria de convidá-los a fazer um documentário sobre a política e a cultura das duas nações. Poderíamos, brasileiros e portugueses, gravar nossas denúncias, modo-de-vida, (des)valorização da língua portuguesa e a influência das duas culturas em ambas nações.

Sei que alguns documentários já foram feitos comparando os dois países, mas não me lembro de nenhum produzido por dois grupos de jovens.

O formato poderíamos discutir depois.

Se estiverem interessados, meu e-mail: dannivargas@yahoo.com.br

Abraços, Danielle Vargas

10:22 da tarde  

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