Intelectuais e pensadores
Durante os séculos, houve sempre intelectuais e pensadores. Mas estes termos não são sinónimos uma vez que correspondem a realidades bastante distintas. Os intelectuais observam a conjuntura. Os pensadores observam a estrutura. Os intelectuais e os pensadores não residem portanto em universos paralelos. Os intelectuais querem a fama. Os pensadores querem a glória. Erigindo uma analogia, poderiam ser comparados aos intelectuais os políticos e aos pensadores os filósofos. Mostrando um exemplo, poderia ser exibido como intelectual Pacheco Pereira e como pensador José Gil.
Miguel Moura Santos
Miguel Moura Santos
1 Comments:
Os exemplos serão os melhores, se partires de um panorama sorumbático.
Pacheco Pereira é um político que pensa, de discurso medido, articulado, mas que no fim redunda em muito pouco. Tem as veias do cérebro carentes de uma regular catalisação. Presume-se alguma obtusidade naqueles engenhos filosofais.
José Gil, por seu lado, é um filósofo meritoso, com obra valiosa. Escreveu um bom livro. É um dos poucos filósofos dignos desse nome em Portugal. O conceito de «inscrição» promete além-Tejo. Mas o bom livro de José Gil termina com um péssimo capítulo. E esse último capítulo, sendo o «leit-motiv» daquela dissertação, representará, por antonomásia, a obra inteira.
Sabemos todos Santana Lopes é uma figurinha ridícula, caricatural.
Um filósofo daquela estatura devia olhar mais alto. Deixar a sátira para a jornalhada periódica.
O filósofo burila nas ideias. Os políticos, esses, são desprezíveis.
Beckett (um literato eminentemente filosofal), ao que consta, apoiou Miterrand à Presidência. Mas Miterrand não é «personagem» de nenhum dos seus livros.
E aqui reside a diferença entre os que esgotam várias edições das suas obras e os que são lembrados quase um século depois.
Como diz o povo na sua sapiência multissecular, «quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré».
Um abraço, prezado correlegionário.
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