quarta-feira, março 02, 2005

Polémica blogosférica

Um dos mais fascinantes fenómenos da blogosfera são as polémicas que os artigos (ou as interpretações que deles são feitas) e suscitam, nas caixas de cometários ou mesmo em artigos dedicados noutros blogs. A mais recente - que não terá decerto sido a mais recente, mas foi a última que apanhei - teve lugar no blog Barnabé, a propósito deste artigo do barnabita Nuno Sousa (e subsequente contra-ataque), e que teve "apoios" dos seus "camaradas" Rui Tavares e João MacDonald.
Recordou-me uma outra, mais antiga, no Gato Fedorento, devido a uma piada de Miguel Góis sobre Stephen Hawking, e que deu origem a um dos melhores textos que já li na blogosfera. Lamentavelmente, não pude ler os comentários acerca da piada de Hawking.
Mas li os do Barnabé. E tirei algumas conclusões interessantes: quem comenta leva os textos demasiado a peito, coloca-os num patamar estritamente pessoal, como se eles constituíssem um ataque (creio que não foi o caso); tende a misturar assuntos que não se devem misturar (acho que ser de Esquerda não implica ser ateu, ou ser de Direita não implica ser católico... dê-se espaço à promiscuidade, por favor!); facilmente se esquece de que se trata de um blog colectivo, o que consequentemente fará com que seja errado generalizar para todos os seus membros características induzidas apenas num indivíduo; e, regra geral, os portugueses que frequentam a blogosfera escrevem mal como o raio, ou então são preguiçosos (ou um bocadinho grande das duas - inclino-me mais para esta hipótese). Se é para se fazerem acusações de fundamentalismo, então, considerando os artigos e os comentários que li, tão fundamentalistas serão aqueles que defendem a posição de Nuno Sousa como aqueles que o atiram para a fogueira.
Afirmações estranhas surgem sempre: A SIDA como praga divina, o papa como responsável pela propagação da doença? OK, eu posso estar equivocado, até porque ainda sou novinho e tenho muito que aprender. Não creio a Igreja Católica, por muito *fundamentalista* que possa ser, como reponsável por 60% da população do Quénia estar infectada com o VIH. Não será decerto o Papa (que, no fundo, é o rosto visível de uma organização muito mais vasta, que o transcende largamente), nem sequer os seus cardeais, arcebispos, bispos, padres, frades, freiras e monges, beatas e outros que mais, que andará pelas Áfricas a impedir que os preservativos (que nos países ocidentais custam uma fortuna, diga-se de passagem: cerca de oito euros para doze quecas) cheguem às populações que, antes de mais, necessitam de alimentos, água potável, medicamentos e vacinas para combater doenças mais elementares, entre tantas e tantas mais coisas. Há que ter cuidado com estas falácias.
Pessoalmente: concordo com parte das críticas, tanto de um lado como do outro. O artigo tem o seu quê de mau gosto, ao gozar com a debilidade física e com a enfermidade de alguém que sofre de uma doença terrível. No entanto, sentir pena dessa pessoa é infinitamente pior do que isso. A liberdade de sentimentos permite isso mesmo: que se respeite ou não, que se goze ou não. A liberdade de expressão, por seu lado, dá não só a Nuno Sousa todo o direito de escrever aquilo que escreveu, como também concede o direito de crítica a quem o desejar fazer, no tom que lhe convier. É a democracia, meus caros.
João Campos