Da literatura
À medida que me embrenho na exploração e na produção literária, assaltam-me uma série de dúvidas sobre o que é, de facto, produzir (melhor: criar) literatura a sério. Um recente análise a variadas farpas de Eça tem dado que pensar - apesar de, tecnicamente, As Farpas não serem um registo absolutamente literário, mas de crónica. No entanto, fica a questão, como mote: para produzir uma verdadeira obra literária, de qualidade, que será mais importante: o formal, o artifício da construção, ou o conteúdo?
Será condição fundamental a um bom romance uma escrita profundamente racional, com recurso a todos os artifícios verbais e mais alguns, que prime pela sistemática elaboração estilística e formal? E será tudo isto essencial para que se escreva bem? Quando li Os Maias, analisei mais ou menos a fundo este tipo de aspectos, mas em contexto de aula. De análise intencional. Todavia, uma leitura voluntária passa radicalmente ao lado deste ângulo de abordagem, submentendo-se a forma ao conteúdo. Leio Tolkien - o meu mestre literário - sem detectar qualquer lógica na construção sintáctica e estilística. Interrogado sobre estes aspectos, responderei com um humilde silêncio, e isto a propósito do meu escritor preferido. Poderei no entanto narrar, por palavras minhas, toda a história que as palavras contam.
Será condição fundamental a um bom romance uma escrita profundamente racional, com recurso a todos os artifícios verbais e mais alguns, que prime pela sistemática elaboração estilística e formal? E será tudo isto essencial para que se escreva bem? Quando li Os Maias, analisei mais ou menos a fundo este tipo de aspectos, mas em contexto de aula. De análise intencional. Todavia, uma leitura voluntária passa radicalmente ao lado deste ângulo de abordagem, submentendo-se a forma ao conteúdo. Leio Tolkien - o meu mestre literário - sem detectar qualquer lógica na construção sintáctica e estilística. Interrogado sobre estes aspectos, responderei com um humilde silêncio, e isto a propósito do meu escritor preferido. Poderei no entanto narrar, por palavras minhas, toda a história que as palavras contam.
Poderei por isto concluir que é diferente ler do que analisar, conclusão que a todos parecerá mais do que evidente. Mas sendo eu um proto-escritor com uma ideia clara que pretendo mostrar, que devo ter em conta? Qual dos factores que mais pesa? Uma escrita fluída, mas sem construção profundamente racional, que resulta perfeitamente na concepção que o leitor faz do universo que crio? Ou definir a ideia e elaborar até à exaustão o texto, procurando uma pureza de forma que, a certo ponto, perderá de vista a narrativa em si? Leio Tolkien e Eça e, muito sinceramente, não me interessa particularmente a posição das palavras e os jogos sintácticos. Interessa-me que as palavras escolhidas me permitam imaginar aquilo que eles imaginaram. Interessa-me fechar os olhos e visualizar a caminhada dos halflings pela densa Floresta de Fangorn, as paredes brancas de Minas Tirith; ouvir os gritos lancinantes do dragão alado de Nazgûl e os sons guturais de Smeagól. A escrita de Tolkien permite isto tudo e mais, muito mais. Mas não a analisei, nem tenciono tal fazer - apenas sei que resulta.
Conheço o artifício de Eça, e sei que resulta. Mas não sei até que ponto quem lê os seus romances e as suas crónicas com atenção para apreender a mensagem consegue captar a genial subtileza da sua escrita. Mais: não sei se isso é necessário para compreender a mensagem de Eça. E, uma vez que sou aluno, e sê-lo-ei até ao fim dos meus dias, estou disposto a aprender.
João Campos
(Nota: não pretendo de forma alguma comparar Eça a Tolkien - apesar de serem escritores incontornáveis para as línguas portuguesa e inglesa respectivamente, os temas e a forma das suas obras são tão distintos que tornam qualquer comparação inútil e, até, ridícula.)
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