Sede de cultura
Quando há tempos fiz o meu teste de bússola política, não consegui evitar o riso quando me deparei com uma questão acerca de a água possuir uma marca e ser comercializada, e se isso não seria um triste reflexo da sociedade actual. "Pergunta típica", pensei, "do clássico pseudo-intelectual de esquerda, quadrado como um cubo, que tem Marx na mesa de cabeceira e que julga que todos os males da Terra tiveram a sua origem no capitalismo." Não que tenha mudado de ideias - creio é que a comercialização da água conhece alguns abusos. Pensemos em espaços ditos culturais, por exemplo. Vou à Feira do Livro, ali ao Parque Eduardo VII, às três e meia da tarde - hora de ponta do calor. Para além dos vendedores ambulantes de farturas e gelados - que aparecem em toda a parte, existem alguns aguadeiros ambulantes, e um pasquim da própria organização da feira. Mas ninguém vende uma garrafita de água, meio-fresca (que é como quem diz tépida passados cinco minutos), de trinta e três centilitros, por menos de um euro. Na moeda antiga, duzentos escudos.
A cultura anda com sede, concluo, quando a última gota da garrafa se esvai e a secura permanece.
João Campos
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