domingo, outubro 09, 2005

Devaneio à Groucho*



- Olá, eu sou o Outono.
- Olá, Outono.
- ...
- ...
- Então, surpreendida?
- De maneira nenhuma, Outono. Já me tinham dito que chegava hoje.
- Então que história foi aquela de andar a dizer a toda a gente que não ia chover até ao final do ano? Sabe, Susana, os seus amigos não vão gostar nada de saber que lhes andou a mentir.
- Não tenho culpa, ouvi na Rádio.
- Qual Rádio?
- Numa qualquer.
- Já leu o que o seu colega e amigo Carlos escreveu aí em baixo? As aulas começam amanhã.
- Já li, já.
- E então?
- Olhe, Outono, isto agora não vai poder ser. É que eu tenho de ir votar.
- Então e vai votar em quem?
- Que lhe interessa isso?
- Nada, na verdade. Estava só a tentar fazer conversa.
- Pois, mas eu agora tenho mesmo de sair.
- Ainda tem o dia todo, Susana. Porque não fica mais um pouco?
- Não vai mesmo poder ser, Outono. Tenho coisas para fazer mais tarde. Para além do mais, você deprime-me.
- !
- Não é que não seja bonito, nada disso - bem sabemos como bastam coisas destas para me deixar bem-disposta. Mas isto de já ser noite às sete e meia da tarde... E não vê que já não posso andar na rua de chinelos por sua causa?
- ...
- Pois é. Bom, deixe-me lá calçar os sapatos para ir ali à escola.
- Bate leve, levemente, como quem chama por mim...
- Que diz?
- Será chuva, será gente...
- ?
- Gente não é certamente...
- Oh homem, ganhe juízo!
- E a chuva não bate assim.

Susana

* Mas sem metade da piada, evidentemente.