sexta-feira, dezembro 09, 2005

"Professor Doutor" não é para todos!

Numa qualquer conversação quotidiana entre nós e qualquer um dos nossos amigos e algum de nós disser "o Cavaco Silva" ou mesmo “o Sr. Silva” (como alguém fez há uns tempos atrás cá na nossa terrinha), ninguém conotará essa designação como algo de repugnantmente negativo ou ofensivo. Contudo se essa mesma expressão for usada num contexto jornalístico ganha características comuns à mais rude de todas as ofensas.
Em Portugal o título “Dr” é muito mais que uma atribuição meramente académica, é quase como uma espécie de ‘título nobiliárquico pós-moderno’ e acha-se que quem não o possuir só merece respeito social e profíssional se o chamarem “Doutor” mesmo que o não seja.
Nas entrevistas com os cinco “presidenciáveis” dei-me conta de que os entrevistadores sentem-se na obrigação de tratar o poeta Manuel Alegre pelo epíteto de “Doutor”. Concordo em absoluto que o poeta Alegre não é uma pessoa qualquer, muito menos que dispense um tratamento que releve a sua dimensão como português, todavia acho mais lisonjeante o designativo “Poeta” do que “Doutor”, até porque existem infinitamente mais “Doutores” (ou pseudo-doutores) do que verdadeiros “Poetas”.
Verifico também nas mesmas entrevistas (ou monólogos de duas partes intercaladas) que Louçã, que possui um currículo académico significativamente superior a C. Silva como é exemplo o recente livro publicado com o conceituado Christopher Freeman (especialista em economia da inovação) e mesmo assim não tem direito ao título de “Professor Doutor” que é quase como o nome próprio do Sr. Silva. Este título só está disponível para quem pertença a uma espécie de casta científica mesmo que isso não coincida com o mérito académico. Parece-me, no mínimo, desconcertante.
João Teago Figueiredo