quarta-feira, maio 03, 2006

Dia da Liberdade de Expressão

A celebrar o Dia da Liberdade de Imprensa, decorreu na minha escola (ESCS; digo "escola" e não "universidade" porque, na verdade, trata-se do Politécnico) uma conferência, pela manhã, subordinada ao tema "Defesa Nacional e Liberdade de Imprensa" (ou qualquer coisa do género; não estou certo quanto ao título, mas a ideia é esta). Que contou, entre os seus convidados, com o Ministro da Defesa, com um professor lá da casa, e investigador na área de Media e Conflitos, com um general na reserva (cujo nome não me recordo, mas que gostei muito de ouvir), com a jornalista Maria João Ruella, com um outro senhor (perdi a sua intervenção por motivos de pequeno almoço) e com uma colega minha, estudante de Jornalismo no quarto ano.

E foi precisamente o dicurso desta colega que me causou ruído nos ouvidos. Falou da mediatização da guerra no Iraque, na manipulação de Bush e do governo americano aos media, e na falta de apoios da opinião pública, que, se entendi bem, não legitimaram a intervenção militar. Tanto sentimento anti-americano fizeram-me sorrir, sobretudo porque ele é indubitavelmente partilhado por inúmeros aspirantes a jornalistas presentes no debate. Pergunto-me a que "opinião pública" a colega se estaria a referir. Possivelmente Michael Moore ou Chomsky não foram ouvidos - e, já agora, que interessava? É curioso que ninguém fale em manipulação ou em "demonização" no caso de Michael Moore, esse senhor que ganha a vida a fazer documentários e programas de televisão sobre factos que se dá ao trabalho de hiper-hiperbolizar.

Mas adiante. Se os Estados Unidos estivessem à espera que a opinião pública (ou as Nações Unidas, ou a Europa) legitimassem a intervenção, teriam poupado a vida a uns milhares de soldados, é certo; mas o senhor Blix ainda andaria a percorrer o Iraque num jipe em busca das armas de destruição massiça (?), enquanto Saddam e a sua prole, tudo gente simpática, respeitadora dos Direitos Humanos e do Direito Internacional, bebericariam do melhor vinho francês no fausto dos seus palácios. Pergunto-me se a colega sentirá falta de Saddam Hussein, ou até se o povo iraquiano chorará a sua eventual morte.

Se houve manipulação na forma como os media no terreno mostraram as situação de guerra? Evidentemente. A colega falou no caso da estátua derrubada (em frente ao Hotel Palestina; mas onde estava a estátua, afinal?). Eu lembro-me do caso do perú no Thanks Giving Day, ou na estória da soldado Jessica. Manipulações desta natureza, apesar de eticamente questionáveis, acontecem sempre, nem que seja para moralizar as tropas. Ou será que o inenarrável Ministro da Informação iraquiano já foi esquecido? Se aquela personagem não foi uma forma de manipulação, ainda por cima descarada, então não sei o que poderá ser.

A colega esqueceu-se, no entanto, da manipulação dos media europeus. Onde quem foi demonizado foi Bush. Onde se destilou (e destila ainda) o maior ressabiamento anti-americano que já se viu desde o 11 de Setembro e os aplausos que o feito de Bin Laden suscitou. Esqueceu-se de que meio mundo se insurgiu contra os maus tratos aos prisioneiros de guerra, quando esse mesmo meio mundo fechou os olhos à barbárie do regime de Saddam, assim como fecha ao Irão, à Autoridade Palestiana, ao Darfur e a tantos outros palcos de tensão que a Europa ou esquece (Darfur) ou apoia os terroristas, vítimas dos mauzões Estados Unidos e do ilegal Israel (Autoridade Palestiniana, Irão). Compreendo; não está na moda demonizar a velha (em todos os sentidos) Europa, quando o inimigo é "esse Bush" e o maléfico capitalismo americano. É por estas e por outras que a Europa, a velha Europa, anda pelas ruas da amargura.

Pergunto-me se esta minha colega, assim como muitos dos demais que vêem os males do mundo nos americanos, prefeririam uma nação com um regime como o de Saddam aos Estados Unidos para exercer jornalismo. Provavelmente não. Porquê? Porque, ainda que os Estados Unidos sejam o Inferno na Terra, um antro de lobos manipuladores, por lá existe liberdade de expressão.

João Campos

1 Comments:

Blogger Margarida said...

Joao!,
assino por baixo..e confesso que nunca fui com a cara da miuda..nao é por nada, mas se calhar é por tudo!
Enfim...

11:43 da tarde  

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