segunda-feira, outubro 10, 2005

Coisas que não se percebem

Segundo consta, lá no distante concelho de Odemira o candidato socialista venceu com maioria absoluta - para ser preciso, com 48,34% dos votos. Para mim, o Alentejo será sempre uma desilusão em eleições. O poleiro resume-se a comunistas e a socialistas. Logo, um votante mais inclinado para a direita fica forçosamente sem escolha.
Sucede que o novo vencedor não é novo - o antigo autarca venceu a sua re-eleição. Ver estes números na internet chocou-me. Nos últimos anos, que fez a câmara de Odemira - socialista - por o concelho? Gastou milhares num... marramacho (é um sobreiro feito com alfaias agrícolas; eu e os meus amigos chamamos-lhe de chaparro mecânico, e é das coisas mais pavorosas que já vi) que está em exposição numa rotunda, quando o que não falta são casas mais isoladas sem luz eléctrica. Pavimentou e repavimentou a ligação Odemira - Aljezur, quando a estrada (ou estradas) municipal que liga a aldeia da Boavista dos Pinheiros a Sabóia continua, desde há anos esquecidos, digna de um circuito de rali. Deixou o meu bairro (social, note-se, de projecto camarário) sem luz eléctrica durante dois anos, e sem arruamentos dois anos e meio - com pessoas a viver lá desde Setembro de 2003 (segundo parece, em Luzianes-Gare a coisa prolonga-se). Encheu a Câmara Municipal de funcionários para tudo e mais alguma coisa - mas que são mais facilmente encontrados nos cafés da vila à hora do expediente do que atrás das suas secretárias. E muitas histórias ficam, algumas mal contadas - como aquela acerca da utilização das verbas de subsídio para as cheias de '97.
Basicamente, e por o trabalho que vi nestes últimos anos - e, sobretudo, pelo trabalho que não vi -, a câmara socialista em Odemira resume-se na seguinte expressão: uma merda. E venceram, com maioria absoluta. Não consigo perceber. Transcende-me. Das duas, três: ou as obras de campanha eleitoral resultaram mesmo; ou a rede familiar de funcionários camarários é ainda maior do que julgava; ou as duas. O que levou as pessoas do concelho a votar naquela nulidade é algo que me intriga. Talvez seja caso para citar Cristo, aqui: perdoai-lhes, Senhor, porque não sabem o que fazem.
Diz-se que o povo tem os políticos que merece. Pelos vistos, a frase aplica-se que nem uma luva em Odemira.
João Campos