sexta-feira, outubro 14, 2005

Pandemia de ignorância

Aquilo que mais impressiona no panorama social luso é aquilo a que classifico de “autoridade moral oca”. Isto é, em variadíssimas situações na nossa vida social colectiva observamos, quase com olho de sociólogo em part time, os portugueses exigirem de outrem procedimentos que eles próprios nunca tomariam nem, tão pouco, colocariam como uma hipótese válida de comportamento.
Um dos quadros em que esse facto toma traços pitorescos é o caso da fuga e evasão fiscais. Se atentarmos a uma conversação entre dois cidadãos típicos que verse sobre fuga ao fisco, percebemos de imediato que para essas duas pessoas os dois únicos contribuintes sérios e pagadores são exactamente eles os dois. E que os restantes nove milhões novecentos e noventa e oito são os aldrabões que não pagam e é por causa deles que este país não vai para a frente.
Aos políticos profissionais (porque políticos amadores somos todos nós), chamam-se todos os nomes que se conseguem imaginar e até mesmo aqueles em que nunca pensamos possíveis de chamar a alguém, e rotulam-se, os políticos, com adjectivos que em muitos casos se aplicam milimetricamente aos qualificadores. Quando ouço alguém ‘varrer’ a classe política do adjectivo corrupta, numa espécie de generalização abstrata e impresisa, fico logo a pensar que essa mesma pessoa potencialmente será corrupto genética e inconscientemente. Não sei se por uma questão de pontaria minha se por qualquer outra razão que desconheço, isso se confirma na realidade. Maioritariamente verifico que em Portugal quem acusa alguém de forma vaga de algo é, normalmente, portador desse ‘algo’. Essa acusação de corrupção geral e instalada que é maximizada com a existência de jornais como o ‘Correio da Manhã’ ou o ’24 Horas’, é leviana e injusta, na medida em que, estatisticamente a probabilidade de exitirem cidadãos corruptos é a mesma em todas áeras. É uma razão de lógica matemática que o determina, e contra isso nada se poderá fazer. Para além disso verifico que as mesmas pessoas que negoceiam valores irreais nos imóveis para pagarem menos valor do antigo imposto de SISA (agora IMI) são exactamente os mesmos seres que no café com os amigos e no meio de uma golada na ‘mini’ dizem : ”O Sócrates?!? Esse é igual aos outros...mete o dinheiro ao bolso...”.
João Teago Figueiredo

1 Comments:

Blogger João Teago Figueiredo said...

Muito obrigado pelas justas correcções. Em relação ao ponto a. tinha já eu próprio detectado o erro. No ponto b. foi, de facto, um lapso do qual não me apercebi.
Obrigado.

Cumprimentos.

11:00 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home