terça-feira, dezembro 13, 2005

The Explanation (II)

Susaninha:
Tenho alguma aversão a generalizações, por isso não afirmo que os alunos da ESCS são maus. Se assim fosse, poderíamos construir o seguinte raciocínio:

Todos os alunos da ESCS são maus.
A Susana é aluna da ESCS.
Logo, a Susana é má aluna.

O que não é verdade.

O mesmo exercício pode ser feito para as gerações mais novas. Há de tudo. Como há de tudo no que a professores concerne. Evidentemente que se notam diferenças, mas não creio que a nossa geração fosse, no ano da nossa entrada, muito mais crescida do que esta nova. Para nós, que já somos vais velhos e já não nos reconhecemos nos nossos antigos comportamentos (ler o meu diário de adolescente faz-me sentir embaraçado perante mim mesmo), é natural que sintamos um grande abismo. Há, no entanto, algumas diferenças, evidentemente. Agora, se me perguntares qual é a posição predominante, então aí tenho de concordar contigo. Mas não é só na ESCS. Aliás, se pensarmos bem, a culpa nem é do ensino universitário. Não creio que o ensino básico ou o secundário estimulem o debate de ideias, a discussão, a atitude crítica. Por isso considero que iniciativas como o Jogo do Hemiciclo - na qual eu e o Alexandre participámos com muito empenho (e saudade!) - são uma mais-valia extra curricular. No entanto, decerto também sabes que, para parte significativa do corpo docente, actividade extra curricular é sinónimo de trabalho de casa. E deves ter em consideração outro aspecto: será algo complicado para um aluno acabado de chegar à universidade debater com um professor com o currículo e o conhecimento do professor Mário Mesquita, por exemplo. Se esses estudantes alemães de que falaste estivessem, por exemplo, num debate com alguém partucularmente reconhecido na área em discussão (sem tirar crédito à professora de quem falas; penso, por exemplo, num debate sobre Economia com o Doutor António Borges, por exemplo), talvez mostrassem um pouco mais de humildade (mesmo sendo alemães).

Nos alunos, há constrangimentos evidentes. Se pensares bem, nos dias que correm é complicado um "bom aluno" mostrar-se. Numa turma apática, em que reina o silêncio, um aluno isolado (sobretudo se for mais tímido) terá sérias dificuldades em mostrar o seu potencial. É arriscado, e sabes disso. Por isso há muitos alunos inteligentes, com sentido crítico, capacidade de estudo, mas que estão na sombra porque no seio das suas turmas impera o silêncio. Mesmo para um professor como os (óptimos) exemplos que mencionaste terá imensas dificuldades em puxar por eles. Porque não repara. Ou porque o aluno não corresponde, quando está mais do que preparado para o fazer.

Isto, no fundo, nem começa na escola, mas em casa. Mas disso já eu falei largamente.

João Campos