terça-feira, dezembro 13, 2005

The explanation (III)

João,

As generalizações, num texto desta natureza, valem o que valem. E, claro, admitem excepções.
Não duvido de que haja muitos escsianos inteligentes e com sentido crítico, "muito bons alunos". Não é o valor deles que ponho em causa, mas sim a atitude, a falta de coragem. Para arriscar, para romper o silêncio de que falas. Quando dizes que os "bons alunos" poderão ter dificuldades em mostrar-se por estarem "isolados", justificas o silêncio dos mais "timidos", mas não a situação que eu critico (a tendência geral para o silêncio). Situação essa que não tem, quanto a mim, razão de ser. Se nem mesmo o silêncio de um aluno isolado, por mais timido que seja, tem razão de ser! Que vale o silêncio de uma turma inteira perante a possibilidade de contribuir com uma reflexão nossa, com uma experiência? Que vale o silêncio dos outros perante a possibilidade de afirmar uma interpretação (a nossa) diferente da que está a ser exposta, perante a possibilidade de esclarecer uma dúvida? O medo (se é que a palavra se aplica) nunca levou ninguém a lado nenhum. É, afinal, de participação que falamos, for God's sake! Em contexto de aula! Com salas de 25 lugares quase sempre semi-vazias! Com professores que até são uns porreiros e que, precisamente, se esforçam para deixar os alunos à-vontade, em perfeitas condições de poderem expressar livremente as suas interpretações, as suas opiniões. É uma das vantagens do ensino na ESCS, a proximidade entre professor e aluno. Se as aulas fossem dadas em grandes auditórios, e mesmo assim os escsianos fossem convidados a participar (como acontece na Nova; e olha que eles lá debatem, e debatem com professores com o currículo e conhecimento de um Prado Coelho*, de um Tito Cardoso e Cunha ou de um António Marques), como seria? Aos estudantes alemães foi-lhes lido o currículo da professora no início da conferência. Ela é mais que reconhecida na área em questão - pois se é a principal representante da PRIME em Portugal! Se tem artigos publicados em tudo quanto é publicação (nacional e internacional) na área das Relações Públicas! Eles sabiam muito bem com quem estavam a discutir. E, mesmo assim, não hesitaram.
Volto a dizer: não há, a meu ver, razão alguma para se ficar calado (a não ser, realmente, a ausência de ideias e falta de opiniões). Nem mesmo a que tu apontas a propóstito do professor Mário Mesquita. Porque se o aluno sabe ouvir/ler e interpretar, se saber pensar por si próprio, não há-de ter problemas nenhuns em dizer: "Professor, o que eu pude concluir do que ouvi/li foi isto, isto e isto". Ao professor cabe avaliar a nossa reflexão, alertar-nos para pontos que eventualmente não tivemos em conta, identificar, caso existam, erros de raciocínio. Onde foi a nossa geração (e as posteriores) buscar tanta falta de auto-confiança?!
Mas o que mais me revolta nem é tanto, digamos, a "falta de coragem". É, isso sim, a falta de dedicação e empenho. É ver a diferença entre os 3º e 4º anos de Jornalismo, no que ao Oitava Colina diz respeito. É ver a diferença entre os 3º e 4º anos de CE no que diz respeito aos trabalhos da cadeira de LCO. Cada vez menos envolvimento, cada vez menos vontade de trabalhar. Perante tanta apatia e desinteresse, é natural que os professores se sintam desmotivados, é natural que se sintam cada vez menos dispostos a investir nos alunos, a a abraçar actividades extra-curriculares (que tendem a ser menosprezadas precisamente por aqueles a quem se destinam: os alunos!). É isto que me deixa triste. Com professores tão bons que nós temos ali, pá... Tão cheios de vontade de nos ver triunfar!
Mantenho a minha posição: a culpa não é dos professores universitários; é dos alunos universitários. E a quem cabe a responsabilidade de os alunos universitários serem como são? À escola e à família, Como dizes. Sim, talvez...

Susana

* Agora já não, mas durante vários anos sim.