domingo, maio 27, 2007

O camelo

Lembro-me de ouvir a seguinte anedota quando era miúdo:

- Sabes porque é que o Alentejo é um deserto?
- Não, porquê?
- Porque os camelos dos lisboetas o atravessam no Verão para irem par ao oásis do Algarve (ou All-Garve, se quiserem).

E agora, que já tenho amigos lisboetas (e que não são camelos nenhuns, apesar de muito bom lisboeta corresponder à descrição), o ministro Mário Lino vem confirmar a anedota. E Almeida Santos junta-se à festa. Este fim de semana não é preciso ver o Gato Fedorento.

João Campos

terça-feira, maio 22, 2007

Diz que é uma espécie de contrato

Depois de o Bloco ter proposto que os divórcios pudessem ser pedidos unilateralmente (ou seja, a pedido de uma das partes, independentemente da vontade da outra), estou à espera de ver a proposta segundo a qual um patrão pode despedir um "trabalhador" apenas por ele não cumprir os objectivos de produtividade que seriam supostos. E assim de repente vem-me à ideia a Câmara Municipal de Odemira, um belo exemplo de gestão socialista, cuja recepção tem quatro empregadas (correcção - três empregadas e uma estagiária que, como se pode imaginar, é a escrava lá do sítio) mas que nenhuma delas faz a mais pequena ideia da localização da assistente social da câmara, por exemplo. E dos cafés do centro da vila, sempre cheios por volta das dez da manhã (coffee break) e a seguir ao almoço (alargada para segundo coffee break).

Por isso, cá espero a lei do Bloco.

João Campos

quinta-feira, maio 03, 2007

Pai só há um, e não é o estado

Não! Não é perseguição, meus caros. Nada disso. Juro que o estado (o nosso não merece letra maiúscula, e não é apenas por estas cruzadas menores...) não quer perseguir e ostracizar os fumadores. Aliás, de onde poderia surgir tão disparatada ideia? O que o Estado quer é proteger os cidadãos. Evidentemente. Ele quer que os seus cidadãos sejam saudáveis, de pulmões imaculados, sem ponta de vício. E, evidentemente que era necessário começar por qualquer lado (pergunto-me é como isto vai acabar...).

Claro que o facto de as multas aplicáveis a quem infringir as novas leis serem superiores às multas aplicáveis ao consumo de drogas - substâncias ilegais, note-se, coisa que o tabaco não é (e porquê, se faz tanto mal?) - é apenas um pormenor irrelevante. Há que conduzir as ovelhas tresmalhadas ao caminho certo, afinal. Claro que o facto de a nova lei ser, tirando um ou dois pontos, um golpe violentíssimo nos direitos de propriedade, é coisa de somenos. Afinal, pode-se abrir um restaurante vegetariano - quem não gosta, como eu (hmmm... carne...), não frequenta; mas um restaurante/café/bar/etc. para fumadores, não. Temos de nos regular todos pela mesma medida, pela mesma lei disparatada. É a saúde, a ditadura dos novos tempos.

Bom, resta-me o consolo de que ao menos o preço do tabaco vai diminuir, assim. Ah, não? Pois, claro, como poderia? Lá se ia uma bela receita suplementar para o estado. E nesta alegre hipocrisia caminhamos nós. As pessoas habituam-se, dizem algums. Claro que sim. E, daqui a uns tempos, habituamo-nos todos a não beber café, a não comer gorduras nem carne vermelha (enchidos e fritos nem pensar), a ingerir apenas uma dose diária recomendada de açúcar, e, claro, fiscalizações constantes a restaurantes a ver se cada prato que conste da ementa cumpre rigorosamente as quantidades exigidas na rodinha dos alimentos. Uma cervejinha para acompanhar o repasto? Não, nada disso. Nem Coca-cola, que faz mal. Afinal, estamos todos a zelar para o seu bem.

E assim, um dia seremos todos fortes e saudáveis (e será que os danoninhos serão legais?), sem vícios, de pulmões limpinhos. Pena que nessa altura o ar da Terra seja provavelmente demasiado irrespirável para que os possamos aproveitar bem. Seremos todos perfeitos, sem ponta de vício, verdadeiras virtudes vivas. E loucos. E, suprema ironia, ainda mortais. Prometo que, se viver para conhecer este mundo, no dia em que for fazer tijolo hei-de soltar uma valente gargalhada.

João Campos