quarta-feira, maio 31, 2006

E por que não avaliar os encarregados de educação?

A história de os pais avaliarem os professores é como aquela de o Parlamento Europeu querer taxar SMS e e-mails: tão ridícula que não faz rir apenas e só porque, na insanidade dos dias que correm, neste velho continente já tudo pode ser plausível.

A ideia em si é rebuscada porque parte de um princípio demasiado optimista: que os pais estão interessados na educação dos filhos, que querem saber quais são as suas dificuldades e que estão dispostos a ouvir os professores atentamente quando os alunos são problemáticos. No entanto, uma visita a uma reunião de encarregados de educação com o director de turma permite uma rápida constatação: os poucos pais que aparecem são, por norma, os pais dos bons alunos, dos quais os professores nada têm a apontar. Onde estão os restantes? Para que os pais pudessem avaliar de uma forma minimamente justa o professor, teriam de seguir atentamente o percurso escolar do aluno: desde trabalhos de casa a notas de testes e exames, trabalhos e, até, estudo. Quantos pais fazem isto?

E, de resto, não concordo que a um professor caiba a missão de educar. Pelo menos numa primeira instância - a educação das crianças começa em casa, no seio familiar, e lá deve continuar, em paralelo com o percurso escolar. Se um aluno do sétimo ano insulta ou agride um professor, não deve ser o professor a explicar-lhe que aquele comportamento é errado, mas sim os pais. Se os pais se demitem dessa função, porque tem ela de ser imposta aos professores?

E, já que de avaliação se trata, porque não podem os professores avaliar também os pais?

João Campos

(Maria Helena, já que é professora, quando dirá algumas lúcidas palavrinhas sobre o assunto?)

domingo, maio 28, 2006

Vencidos da vida

Nos anos mais próximos, tem-se verificado em Portugal uma consciência colectiva de um gritante pessimismo, que à força de tão repetido e reiterado quase que se vem tornando como característica nacional de sempre. Uma espécie de lugar-comum das conversas de elevador ou de tasca. Parece-me certo que o contributo que "Portugal hoje: o medo de existir", de José Gil, teve neste pensamento não é despiciendo. No seu livro há uma tentativa, não sei se consciente ou propositada, de exaltar aquilo que de mais obscuro e pessimista existe por cá. Talvez o surpreendente sucesso editorial da obra seja mais uma prova de que o sentimento pessimista se tornou frase-de-bolso para muitos de nós e, de facto, esteja assente numa grande parte das pessoas. É, no entanto, importante referir que não só como hoje, também no passado houve momentos em que o desânimo pessimista se abateu sobre o país. Particularmente nas passagens de século, nomeadamente com os chamados "Vencidos da Vida", do final de século XIX, que não são mais do que a prova de que o encarnar do pessimismo recolhe elementos profundamente cíclicos. Ontem, como hoje, estas visões tendem a ofuscar leituras mais abertas e, por isso, mais optimistas. Muitas dessas análises existencialistas incorrem no grave erro de aglutinar todas as categorias e variantes dos portugueses numa só. Transformando toda a nação numa espécie de mancha difusa com uma homogeneidade de característcas tão negativas quanto incuráveis. Muita da origem deste senso comum pessimista reside aqui mesmo.
Toda a gente o sabe, mas Portugal é um país onde a elite cultural é exígua e profundamente fechada sobre si própria (onde os teatros nacionais não enchem com obras de raríssima qualidade por via dessa visão de umbigo, por exemplo). Ora, em razão deste fechamento narcisista é infundado pensar que o sentimento das elites é, de facto, um pessimismo do país real e concreto.
Muito do nosso desânimo colectivo vem de termos, nos anos mais recentes, tomado consciência na pele de que muitos dos nossos desejos, a grande maioria deles desenhados com a estrada na União Europeia, não serem possíveis de ser tornados concretos numa só década. A resolução para este imediatismo pulante, em muito maximizado por uma comunicação social tão fechada quanto as próprias elites e levianamente sensível a quaisquer críticas que se lhe façam, é tomarmos real consciência de que o diagnóstico das dificuldades deve ser tão veemente como a descoberta das suas mais eficazes soluções.

João Teago Figueiredo

terça-feira, maio 23, 2006

O consumo de tabaco diminuiu desde que os preços quase chegaram aos três euros?

No geral, sim. Excepto uma marca: SG-Crava.

João Campos

sexta-feira, maio 19, 2006

este post contém linguagem obscena eventualmente chocantes

mas é só o que apetece após estar mais de uma hora a apanhar frio, carregado de câmaras e tripés e mais o raio, em frente a um bar no Bairro Alto, à espera de uma "performance artística" do grupo de teatro da Universidade Nova.... que afinal consistiu em colar uma série de folhas A4 com nomes como Adorno, Bonga, Rage Against the Machine (etc. e já agora a caligrafia era uma merda) na porta e na parede do bar, enquanto os "artistas" (já agora, na minha terra, "artista" é sinónimo de "sacana", ou, em lisboeta, de "filho da puta") fumavam e bebiam em frente ao dito bar. Intitulavam-se "pós-modernos". Eis o que penso deles e mais dos "pós-modernos":

"F***-se, ca***** que os fo** a todos e mais a pu** da mãe deles, para a co** da tia a me*** do pós-modernismo!"

Obrigado.

João Campos

(eu bem queria saber que merda de "pós modernos" eles andam a snifar...)

sábado, maio 13, 2006

Pessimismo

Recentemente saiu mais um resultado que mostra que os portugueses estão ainda mais pessimistas em relação ao seu futuro do que estavam desde o último inquérito. Admito que não pareça, mas possuo conhecimentos sociológicos ultra-avançados, uma vez que frequentei um curso "lá fora", que me permitem retirar duas ideias a que posso chamar de, calculem, "conclusões":
Primeiro, é estranho que um povo esteja pessimista em relação ao seu país quando estamos numa fase da história da pátria onde já despedimos o Santana Lopes. Contudo, admito que o facto de Luís Delgado ainda emitir opiniões (chamo-lhe «opiniões» por falta de outro nome) também contribui para estes resultados.
Segundo, este pessimismo instalado colhe não só raízes histórico-culturais mas também tem alicerces contemporâneos uma vez que acabámos de eleger Cavaco Silva para chefe de Estado.
É caso para dizer: cada país tem o que merece.

João Teago Figueiredo

segunda-feira, maio 08, 2006

Abre aspas

"A única diferença entre o nascer e o morrer é um fato e um par de sapatos."
Belmiro de Azevedo.

João Teago Figueiredo

quarta-feira, maio 03, 2006

Dia da Liberdade de Expressão

A celebrar o Dia da Liberdade de Imprensa, decorreu na minha escola (ESCS; digo "escola" e não "universidade" porque, na verdade, trata-se do Politécnico) uma conferência, pela manhã, subordinada ao tema "Defesa Nacional e Liberdade de Imprensa" (ou qualquer coisa do género; não estou certo quanto ao título, mas a ideia é esta). Que contou, entre os seus convidados, com o Ministro da Defesa, com um professor lá da casa, e investigador na área de Media e Conflitos, com um general na reserva (cujo nome não me recordo, mas que gostei muito de ouvir), com a jornalista Maria João Ruella, com um outro senhor (perdi a sua intervenção por motivos de pequeno almoço) e com uma colega minha, estudante de Jornalismo no quarto ano.

E foi precisamente o dicurso desta colega que me causou ruído nos ouvidos. Falou da mediatização da guerra no Iraque, na manipulação de Bush e do governo americano aos media, e na falta de apoios da opinião pública, que, se entendi bem, não legitimaram a intervenção militar. Tanto sentimento anti-americano fizeram-me sorrir, sobretudo porque ele é indubitavelmente partilhado por inúmeros aspirantes a jornalistas presentes no debate. Pergunto-me a que "opinião pública" a colega se estaria a referir. Possivelmente Michael Moore ou Chomsky não foram ouvidos - e, já agora, que interessava? É curioso que ninguém fale em manipulação ou em "demonização" no caso de Michael Moore, esse senhor que ganha a vida a fazer documentários e programas de televisão sobre factos que se dá ao trabalho de hiper-hiperbolizar.

Mas adiante. Se os Estados Unidos estivessem à espera que a opinião pública (ou as Nações Unidas, ou a Europa) legitimassem a intervenção, teriam poupado a vida a uns milhares de soldados, é certo; mas o senhor Blix ainda andaria a percorrer o Iraque num jipe em busca das armas de destruição massiça (?), enquanto Saddam e a sua prole, tudo gente simpática, respeitadora dos Direitos Humanos e do Direito Internacional, bebericariam do melhor vinho francês no fausto dos seus palácios. Pergunto-me se a colega sentirá falta de Saddam Hussein, ou até se o povo iraquiano chorará a sua eventual morte.

Se houve manipulação na forma como os media no terreno mostraram as situação de guerra? Evidentemente. A colega falou no caso da estátua derrubada (em frente ao Hotel Palestina; mas onde estava a estátua, afinal?). Eu lembro-me do caso do perú no Thanks Giving Day, ou na estória da soldado Jessica. Manipulações desta natureza, apesar de eticamente questionáveis, acontecem sempre, nem que seja para moralizar as tropas. Ou será que o inenarrável Ministro da Informação iraquiano já foi esquecido? Se aquela personagem não foi uma forma de manipulação, ainda por cima descarada, então não sei o que poderá ser.

A colega esqueceu-se, no entanto, da manipulação dos media europeus. Onde quem foi demonizado foi Bush. Onde se destilou (e destila ainda) o maior ressabiamento anti-americano que já se viu desde o 11 de Setembro e os aplausos que o feito de Bin Laden suscitou. Esqueceu-se de que meio mundo se insurgiu contra os maus tratos aos prisioneiros de guerra, quando esse mesmo meio mundo fechou os olhos à barbárie do regime de Saddam, assim como fecha ao Irão, à Autoridade Palestiana, ao Darfur e a tantos outros palcos de tensão que a Europa ou esquece (Darfur) ou apoia os terroristas, vítimas dos mauzões Estados Unidos e do ilegal Israel (Autoridade Palestiniana, Irão). Compreendo; não está na moda demonizar a velha (em todos os sentidos) Europa, quando o inimigo é "esse Bush" e o maléfico capitalismo americano. É por estas e por outras que a Europa, a velha Europa, anda pelas ruas da amargura.

Pergunto-me se esta minha colega, assim como muitos dos demais que vêem os males do mundo nos americanos, prefeririam uma nação com um regime como o de Saddam aos Estados Unidos para exercer jornalismo. Provavelmente não. Porquê? Porque, ainda que os Estados Unidos sejam o Inferno na Terra, um antro de lobos manipuladores, por lá existe liberdade de expressão.

João Campos

segunda-feira, maio 01, 2006

paradoxo

Se um feriado religioso é celebrado com religião (com uma eucaristia, procissão, o que seja), porque não é o dia do trabalhador festejado... a trabalhar? Em Portugal seria bom, assim para variar.

João Campos