domingo, janeiro 30, 2005

Saudades da "Pedra Sobre Pedra"...

Porque hoje estou numa de desancar a TVI, aqui vai mais um artigo - se bem que este possa ser estendido até ao Atlântico Sul.

É estupidamente absurdo ver um dos nossos canais privados a um dos dias úteis - qualquer um - a partir das quatro da tarde (também o é antes das quatro da tarde, mas isso fica para outra oportunidade). Invariavelmente, somos bombardeados por novelas, todas diferentes mas todas, no fundo, muito iguais. Dou por mim a perguntar-me quem raio vê esta autêntica carnificina televisiva, a meu ver bem mais perniciosa que a violência nos videojogos ou os palavrões que se dizem em horário nobre.

O curioso é analisar as falácias que as sustentam. Pensemos nas ditas "novelas para os jovens". Todas elas têm latente o objectivo de "educar". De formar. De dar conhecimento. Há dias, o meu zapping parou na TVI e apanhei uma cena de uma novela com um casalinho de namorados (ou assim parecia, a avaliar pela forma como enfiavam a língua até à traqueia um do outro) a passear na Madeira, onde aproveitavam para explicar o que eram os socalcos e as levadas. É possível que seja eu o precoce aqui, mas o meu manual escolar do quarto ano de escolaridade explicava isso. E a questão nem é essa - entre as deixas "educativas", estes programas são autênticas máquinas de estereótipos.

Para já, porque as diferentes personagens se baseiam em estereótipos, ignorando quem escreve os argumentos que os estereótipos na adolescência - e é um adolescente quem o diz - são tudo menos estanques. Serão mais um mito do que um dado adquirido. E os estereótipos representados reflectem-se depois em quem vê - replicando-os na realidade. Ou seja: surgem as meninas e os meninos a quererem ser como esta ou aquela personagem da novela das nove, a utilzarem as mesmas (más) expressões, a vestirem-se da mesma forma. A darem ares de muito correctos ou de pseudo-rebeldes.

Também há aquelas que comovem meio mundo com os seus dramas baseados em casos reais - leucemias, psicoses obscuras, entre tantas outras. Chamam a atenção das pessoas para aquele problema, é verdade. Mas puxam pelo sentimentalismo mórbido, não pela informação. Toda a gente ficou a saber que a leucemia se pode tratar com um transplante de medula, mas quem ficou a saber em que consiste a leucemia, ou que é, afinal, a medula óssea..?

Sinceramente, tenho saudades do tempo em que as novelas, sem pretenções de formarem, moralizarem ou outras quaisquer intenções mais obscuras (quiçá obscenas...), eram histórias bem contadas, com bons desempenhos da parte de excelentes actores. Pena é que tais novelas estejam hoje extremamente datadas.

É um daqueles casos em que a tradição já não é mesmo aquilo que era... mas devia.
João Campos

Pequena lição de jornalismo

Cada vez gosto mais da linha editorial da TVI. O notíciário das oito é particularmente bom para visualizar enquanto se janta - não, e não falo das eventuais gargalhadas devido às reportagens dos jornalistas de Queluz, que nos podem fazer engasgar. Mostrar cadáveres humanos a serem dissecados por estudantes de Medicina é uma boa imagem para captar enquanto se delicia com o sabor de um bom bife grelhado. Já agora, alguém que por favor explique na TVI o que significa "trauma". Que lhes mostre que não é sinónimo de "audiências" ou de "share" - e que não se pergunta a alguém que perdeu a família num acidente de viação se já pensou em se suicidar.

A menos, claro, que tal como Louçã, tenham experiência empírica sobre o assunto.
João Campos

sábado, janeiro 29, 2005

Acabei de descobrir . . . .

. . . . onde raio se escondeu a vaga de frio: aqui mesmo, à porta do meu bunker no Alentejo. Porra!
João Campos

sexta-feira, janeiro 28, 2005

1:3=0

"A abstenção, o voto em branco ou o voto nulo são renúncias à cidadania", diz Freitas do Amaral na Visão. Concordo com dois terços da ideia. O outro terço é um perfeito disparate. Votar em branco não é renunciar à cidadania; pelo contrário, é mostar, mostrar, de forma simples e "cívica", que não se acredita naqueles que se candidatam a representar o cidadão nas instâncias governativas.

João Campos.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Blogosfera on fire!

A blogosfera anda ao rubro, indiferente à vaga de frio que assola este país (vaga de frio? que vaga de frio?). No Barnabé, opostos afastam-se, contrariando o dito popular segundo o qual se deviam atrair. E o Gato Fedorento volta à vida, em resposta às "provocações" d'O Acidental.
Sobre o Barnabé não falo: a polémica é de esquerda, eu sou de direita e, se por acaso votar a 20 de Fevereiro (não tenho culpa de morar em Lisboa e a minha área eleitoral ser em Odemira; a burocracia deste país é que, passe a expressão, é uma merda), votarei em branco, porque não subscrevo as insanidades da Esquerda, não simpatizo com Santana e de Portas... nem falo (tenho a sensação de que me estou a esquecer de alguém... falta algum partido?).
Sobre a polémica do Gato e d' O Acidental: confesso que me tenho divertido imenso à custa dela. Porque Ricardo de Araújo e Zé Diogo Quintela têm provado nos seus posts que podem dar respostas à altura da circunstância sem perderem o sentido de humor, falta manifesta em lados mais acidentais.
Não percebo. Acho a polémica do lado d' O Acidental uma coisa ridícula e mesquinha. Sou de direita (chamem-me lunático ou algo pior se quiserem, e ao mesmo tempo digam-me o que fez a Esquerda por este país a seguir ao 25 de Abri - e não me venham falar do Soares, que já não posso com o raio do homem), mas não vou deixar de rir com os sketches de RAP porque ele apoia o Bloco, mesmo detestando eu o Louçã. Separemos as águas, que uma coisa não tem nada que ver com a outra. Tanto quanto sei - perdoem-me se estiver iludido -, vivemos em democracia.
E dar crédito a um jornal como o 24 Horas, que na época quente do Iraque punha na primeira capa o casamento da Teresa Guilherme, ou anuncia o alegado programa do José Castelo Branco... enfim, já perceberam onde quero chegar. É rebuscado, no mínimo!
E depois parece que "falam, falam, mas não dizem nada". A saber: Marx e Engels, muito ingenuamente, assuma-se, teorizaram o comunismo. Lénin, Stálin, Mao, Castro, entre outros, aplicaram-no, introduzido muitas modificações à doutrina - daí se falar de "marxismo-leninismo" ou de "maoísmo", por exemplo. Mas Marx e Engels não previram nem creio sequer que defendessem purgas, guerras e outras atrocidades cometidas sob o estandarte vermelho. Já o caso da Alemanha Nazi é um bocadinho diferente: Hitler teorizou as suas ideias (leia-se o Mein Kampf, e perdoe-se-me um eventual erro, mas o meu alemão está enferrujado), e passou essas teorias à prática na Alemanha de 30. E previa já o Holocausto, o extermínio dos judeus. Mais uma vez: que tem a ver uma coisa com a outra? Nunca li o Manifesto; mas não acho que Stálin tenha lá ido buscar inspiração para apagar os seus companheiros da fotografia.
O que me parece que se passa aqui é um típico e mesquinho (um entre tantos....) hábito português: um gosto mórbido por desancar quem não partilha das mesmas ideias. O que, por si só, é ridículo. Tão ou mais ridículo que o Bloco de Esquerda ou o CDS. Sejamos sérios, e não misturemos humor de qualidade com política, que apesar de darem para rir muitas vezes, não têm graça nenhuma. E não é o facto de RAP apoiar o Bloco que misturará as duas esferas.
João Campos

Dividir ao longo da Segunda Circular

Não, se pode ter tudo, Carlos. Este ano, ao que parece (e que será justo, apesar de eu ser "benfiquista"), os lagartos levam o campeonato. Deixemos a taça aos lampeões, e os azuis lá de cima a chuchar no dedo, que o livro do seu mui amado presidente já lhes deve dar alegrias que cheguem.
Anyway: bem-vindo a bordo!
João Campos

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Superliga Galp Energia...

... de debates políticos: Classificações
* Suicídio Político, em directo na SicNotícias.
** Ele bem que quer debater, mas ninguém lhe dá trela.
*** Nem quer ouvir falar de debates. Motivo desconhecido. Suspeita-se de medo, halitose, ou de nada ter para dizer
João Campos

terça-feira, janeiro 25, 2005

"Orange County"

Afinal Santana Lopes não tinha o blog em branco, como anunciei aqui. Quer dizer, ele ter, até tinha. Mas estava a preparar um, com um template diferente dos demais. Muito bem. Não que retire algo daquilo que aqui escrevi ontem - a ideia mantém-se, aquilo que vi (e que não vi) permanece na memória. Mas agora o nosso Primeiro-Ministro tem um blog todo catita aqui (pena é ter-me estragado os links do post anterior...).
De qualquer maneira, e para provar que os laranjas são verdadeiros experts no que à informática e internet concerne, visite-se este site, da JSD da Covilhã. Novas técnicas para angariar militantes, suponho.
João Campos

Pequeno-almoço

Nunca pensei que um pastel de nata ligasse tão bem com Martini Rosso.
João Campos
Companheiros de blog:
A minha participação neste espaço de reflexão deve-se ao convite que me foi feito pelo meu amigo Miguel, esperando eu estar à altura do desafio que é partipar num fórum onde se debatem as mais diversas temáticas. Confesso que fui sempre um bocado avesso a aderir à moda dos blogs. Afinal, para que iria eu escrever um texto se ninguém o ia ler?
Mas uma vez que os intervenientes já são quatro acedi ao convite que me foi feito. Uma sugestão que deixo é alargarem o espaço de reflexão a mais pessoas. Isso é bom e enriquecedor.

O que quero trazer a este blog? Tudo e nada, dependendo do interesse de cada um.
Num próximo texto farei uma pequena reflexão sobre a Universidade de Aveiro, estabelecimento que frequento e que tem características que quero partilhar com vocês.

Feitas as apresentações resta-me despedir até um próximo "momento de escrita".
P.S. O Benfica-Sporting foi um dos jogos mais entusiasmantes que assisti até hoje. Tive o prazer de vê-lo ao vivo e posso dizer que o resultado final me agradou muito...

Sugestão literária

Existe alguém que não goste de se conhecer? Creio que não, embora tenha dúvidas. De qualquer maneira, sugiro a leitura de "Portugal, Hoje - O Medo de Existir", de José Gil, um pensador louvável. A análise minuciosa da realidade portuguesa é o que acerca este livro de outros livros. A insólita perpicácia dessa visão é o que distancia esta obra de tantas outras.

Miguel Moura Santos

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Santana num só blog

Não resisto. É mais forte que eu, mas não consigo deixar de transmitir à blogosfera a minha interpretação pessoal do fabuloso blog de Pedro Santana Lopes. É que o espaço está pejado de simbolismo que, diga-se de passagem, está mesmo a pedir um post.
Veja-se atentamente o blog do nosso ainda Primeiro-Ministro. Não tem links no menu lateral, prova manifesta da ausência de parceiros e de apoios, não só internos, ao nível do PSD - perdão, PPD-PSD -, como também externos. Igualmente vazio estão os espaços dos "artigos recentes" e dos "arquivos"; o primeiro, porque Santana Lopes não tem obra feita recentemente (interrogo-me se terá alguma de todo...), e o segundo porque arquivos lembra dossiers, e toda a gente sabe que o nosso Primeiro-Ministro em Gestão faz tudo menos ler os dossiers de Estado.
A ausência de qualquer formatação no template do blog é também sinal dessa "obra" - ou quem não se lembra de as obras do túnel do Marquês estarem também elas invariavelmente na mesma, dia após dia?
Last, but not least, temos o banner do próprio blog. O calendário está vazio, sem qualquer data em destaque, uma vez que os eventos aos quais Santana Lopes marca na sua agenda oficial, como o casamento de uma amiga ou a Moda Lisboa, interessam nem ao Menino Jesus nas palhinhas deitado (o calendário de Fevereiro deverá ter o dia 20 assinalado com uma bola vermelha e um "V" de vitória, a julgar pela crença de Santana). O título do blog une os dois últimos nomes do nosso Primeiro Ministro, e abdica das maiúsculas - sinal ambíguo, que tanto pode ser ideia de escrita criativa e moderna como de ignorância.
Mas o ponto chave do blog é a barra do banner em si. Por um lado, as diversas tonalidades de laranja representam as diversas facções com diversos rostos dentro do PSD - perdão, PPD-PSD. Os seus inner circles. Sendo que o mais brilhante, ao centro, será o do inner circle do próprio Santana Lopes. No entanto, para além de aludir à divisão interna do PSD - perdão, PPD-PSD -, ele representa também o pôr-do-sol. O declinar no horizonte, por entre as nuvens, do astro-rei (as nuvens mais negras aludem a Cavaco Silva). A queda de Santana Lopes, consumada por Jorge Sampaio. Ou uma previsão da derrota esmagadora de Santana e dos "laranjas" nas legislativas de Fevereiro.
Vamos mais longe um bocadinho? Repare-se na tonalidade amarela que está por cima do halo do sol descendente. Wanna take a wild guess? O amarelo representa Paulo Portas, a representar o papel do santo na sua campanha e a tentar sair por cima da catástrofe que foi o governo do qual fez parte.
Já vi muitos blogs pessoais, intimistas. Mas nunca um blog que fosse a encarnação do autor desta forma absolutamente surreal. Os meus parabéns a Santana Lopes.
João Campos

Grelha televisiva

A não perder na SicRadical: a sexta temporada da série StarGate, às quintas-feiras, por volta das 22 horas.

João Campos

O meio-termo

Se faço de mais, é porque faço de mais. Se faço de menos, é porque faço de menos.
Está algo a falhar-me aqui, só pode.
João Campos

Blogosfera política

Descubro, neste artigo d'O Acidental, que os líderes partidários a concorrer às eleições de 20 de Fevereiro - Jerónimo de Sousa, José Sócrates, Paulo Portas, Santana Lopes - estão agora on-line, na blogosfera lusa. Uma rápida e sucinta investigação sobre o assunto revela-me que foi o servidor de blogs do portal Sapo quem fez o convite aos candidatos. Apenas Francisco Louçã recusou, fiel à sua já clássica política do ser do contra.
Mas não foi a ausência de Louçã, expert nacional em questões de aborto, que me chamou à atenção neste ciclo de blogs políticos "oficiais". Foi, sim, o blog de Santana Lopes, nosso mui amado primeiro ministro em gestão. Porque tem ele o seu espaço on-line em branco? E porque escolheu o template do pôr-do-sol?
Há dias dizia eu que considerava o discurso de Santana Lopes "messiânico". Não vale a pena interpretar o vazio do seu blog ou a escolha do pôr-do-sol, pois não?
João Campos

Lembrança

Quando ouvi Francisco Louçã dizer que se não pode falar dos conceitos nunca sentidos, pensei em todos os religiosos que estavam a assistir ao debate.

Miguel Moura Santos

Questão

Quem não viu ainda a peça "Endgame", de Samuel Beckett, em exibição no Teatro da Trindade? Supostamente, a esta questão deverá responder um pequeno número de pessoas.

Miguel Moura Santos

Pessimismo ou realismo?

Porque há semanas que ando envolvido nisto, não resisto a lançar a questão: quantas pessoas estão verdadeiramente a par das alterações no ensino superior que o Processo de Bolonha vai implementar?
João Campos

domingo, janeiro 23, 2005

Apresentação

Boa noite. O meu nome é Miguel. O meu sobrenome não interessa. Tenho dezanove anos. Resido em Lisboa. Estudo Direito. Não sou casado. Não creio em Deus. E não consumo quaisquer drogas.

Miguel Moura Santos

Expresso da Meia Noite

Bem vindo a este lado do espelho, Miguel (a velha equipa do Miradouro de novo reunida...).
Estamos a crescer. Em participação, e não em sondagens. A propósito, ontem a altas horas da madrugada apanhei, por puro acaso, o Expresso da Meia Noite, na SicNotícias (repetição), em directo da Residência Oficial do Primeiro Ministro. Clara Pinto Correia, José António Saraiva e outros dois senhores (lamento o lapso de memória que não me permite recordar os seus nomes) inquiriram Santana Lopes sobre temática variada. Ponto negativo para Santana Lopes: o seu discurso é messiânico, como há muito não se ouvia por terras lusas (considera-se um predestinado, o nosso Primeiro Ministro em gestão). Ponto positivo: a sua convicção inabalável acerca da vitória do PSD - perdão, PPD-PSD - nas legislativas de 20 de Fevereiro. Ingenuamente ou não, ele acredita. Contra tudo e contra todos.
Pessoalmente, já nem me admirava que Santana Lopes vencesse. É impressão minha, ou as diferenças entre ele e Sócrates começam a diluir-se à medida que as campanhas avançam?
João Campos
(A propósito do Expresso da Meia Noite, será que o estafeta que transortava o semanário para o programa já foi encontrado, ou afogou-se no mar de papel que o Expresso semanalmente coloca nas bancas?)

sábado, janeiro 22, 2005

Na moda dos debates (combates?) políticos...

... quem com breves palavras arrumou o assunto foi o blog Bomba Inteligente no artigo "Variações sobre o mesmo tema". Fiquei manifestamente curioso.
João Campos

Vira o disco...

Sabe-se que a vida de um estudante acabou de mergulhar nas águas estagnadas da rotina quando os empregados de uma loja de conveniência preparam com antecedência um cachorro quente para ele, certos de que a uma determinada hora da noite ele aparece lá.
João Campos

quinta-feira, janeiro 20, 2005

And now for something completely different:


Não resisto. Ando a passar os olhos pelo blog Blasfémias e eis que , subitamente, os meus olhos tropeçam num artigo sobre uma polémica envolvendo ateus e crentes na blogosfera lusa. Eis que descubro uma autêntica guerra via comments, parte dela ironicamente fratricida. Dê-se uma vista de olhos, por exemplo, a este artigo (entre alguns outros) do blog A Destreza das Dúvidas, e ao Diário Ateísta. Atente-se nos comentários deixados em ambos.

Cheguei à discussão tarde e a más horas. Foi pena. Apanhei somente com os estilhaços. Enfim, adiante. Não me vou pronunciar sobre as acusações de fanatismo de parte a parte - acho que as palavras cuspidas nos comentários falam por si, e melhor do que qualquer coisa que eu diga podem ajudar o leitor a inferir quem é efectivamente fanático. Vou apenas deixar aqui, no meu espacito, a minha visão da coisa - da fé, do ateísmo, da religião.

Assumo-me crente. Em Deus. Que Deus? Não sei, quem quiser que o descubra. A mim não me interessa. Sinto algo. Simplesmente. É quase como diz Ana na Aparição: Sou pequena e sei que a grandeza existe. Existe onde? Existe. Sinto-o em mim como uma pancada no escuro... (in Ferreira, Vergílio, Aparição, Lisboa, Bertrand Editora, 1994, p. 227). A vida humana neste planeta que nem um mero grão de areia do Universo em expansão que nos rodeia é, constitui, possivelmente, a mais remota das probabilidades concretizada. Impossível não me sentir ínfimo perante a grandeza de tudo. Claro que isso por si só não justifica a existência de Deus. Mas faz-me sentir que é algo em que vale a pena acreditar. É algo que sinto. Ponto final.
Evidentemente que não posso provar isto empiricamente. Já me deixei desses ensaios há tempo considerável (o que não quer dizer que tenhas ganho, Miguel). Não por falta de argumentação. Mas por considerar que a argumentação é insuficiente. Porque, da mesma forma que nem eu, enquanto crente, nem o padre que aos domingos dá missa aqui perto de mim, em Santa Isabel ou na Estrela, ou nem mesmo o Papa João Paulo II poderemos provar empírica e cientificamente a existência de Deus, também um ateu não me poderá provar a não-existência de Deus. Ilógico? Não se lermos Hume. "No matter how many times you drop a stone and it falls to the floor, you'll never know what will happen the next time you drop it: it might fall to the floor, but then again it might float to the ceiling. Past experience can never prove the future". Ou seja, indução. A mesma da célebre parábola de Russell sobre o galo.
Qual é o meu ponto? No fundo, o mesmo de Soren Kierkegaard: "Faith has nothing to do with how or why". Na sua natureza, trancende a lógica. E esta é a verdade que aceito. Diga-se o que se disser. A discussão é eterna, circular, demagógica, até. Os argumentos esgotam-se sem se esgotarem.
Um último ponto, este já relacionado com a "guerra" acima mencionada: Religião e ateísmo são, para mim, dois lados opostos de uma mesma coisa. Dois extremos que, de tanto se tentarem afastar, acabam por caminhar de mãos dadas, dependendo invariavelmente um do outro para subsistirem. Como a luz e a sombra. O bem e o mal. And so on, and so on.
God bless you all, believing in Him or not,
João Campos

A Aventura do Dossier de Imprensa

Começa na Hemeroteca Nacional. Dois estudantes de Jornalismo cheios de energia, após uma noite de sono bem dormida e um almoço bem servido (numa cantina universitária), dedicam um momento a vasculhar os diários de referência de dias passados em busca de artigos diversos sobre o Processo de Bolonha (reforma europeia do ensino superior; um destes dias espero publicar aqui os resultados desta nossa fabulosa pesquisa). Catorze horas e trinta minutos de uma tarde de sol que convida a uma esplanada à beira rio, e estamos nós a entrar no cinzento universo da Hemeroteca. O trabalho é simples, nada do outro mundo, o lugar é um primor no que à organização e burocracia concerne, os funcionários são simpatiquíssimos, sempre atentos às nossas necessidades, respondendo às nossas questões e dúvidas num tom amistoso e sempre com um vasto sorriso no rosto. Quando não estão ocupados, conversam em amena cavaqueira, como se fossem amigos de infância. Abandonamos o edifício às dezoito horas, com nove artigos na algibeira, após vasculharmos largas dezenas de jornais, e rumamos ao Metro mais próximo.
E assim se arruina uma tarde.
João Campos
(Hemeroteca Nacional, na R. de São Pedro de Alcântara (Bairro Alto), 3, 1250-237 Lisboa. Em caso de se ter de deslocar à dita cuja, aconselha-se a precaver-se com tempo, um lanche bem guarnecido, um maço de cigarros e uma dose de paciência. Grande.)

"Keep rollin'"

Já se sabe onde será o próximo comício do Bloco de Esquerda: segundo consta, Francisco Louçã já reservou o bowling do Centro Comercial Colombo.

João Campos

Metáforas

Primeiro foi a da incubadora (bem, é possível que outras tenham existido antes, mas tenho andado distraído), agora é a do trabalhador despedido. Não bastasse ser pródigo em boatos e disparates (des)governamentais, o nosso Primeiro-Ministro em gestão revela-se um génio no que à metáfora concerne.
Pena é que não vá muito além disso.

João Campos

terça-feira, janeiro 18, 2005

Cultura Geral - 0 ; Ídolos - 1

Sabe-se que a cultura geral atinge o grau zero quando se depara com uma estudante universitária a ouvir os acordes (intemporais) da Mission Impossible e interrogar-se se aquela não era a música do júri do Ídolos.
João Campos

segunda-feira, janeiro 17, 2005

"Houston, we have a problem"

Ou pelo menos assim parece. Agora publicar artigos no Blogger come-nos metade do template..?

João Campos

Redundância ou ruído?

Passe a redundância, que já ando há dias a pensar nisto: porque pede a demissão um ministro (?) de um governo demissionário?

João Campos

domingo, janeiro 16, 2005

"Isto progride..."

O fim está no princípio e no entanto prosseguimos” no Teatro da Trindade. Até 13 de Fevereiro.

João Campos

Acreditem:

Foi a última vez que saí de casa sem um papel e uma caneta. Ela anda aí. Inspiração, palavras soltas ao vento frio da noite. E a tecnologia não é de fiar, assim como a nossa etérea memória...

João Campos

sábado, janeiro 15, 2005

Onde há fumo...

Estar uns dias desligado da blogosfera faz-me sentir desactualizado. Volto, aprendo os segredos das bombas sexuais do exército americano (querem maior prova de insanidade?) e descubro que João Pereira Coutinho escreve, agora, também para a brasileira Folha Online (ainda bem, que assim fico com mais textos dele para ler...).

O seu primeiro artigo na publicação virtual - fantástico, como sempre - incide numa temática sobre a qual já muito reflecti (escrevi inclusivamente umas linhas no meu caderno, mas não cheguei a publicar) - a questão do tabagismo. Nunca tinha visto as coisas pela sua perspectiva, mas é um ponto de vista indubitavelmente interessante. Não percebo toda a conversa em torno deste tema. Assim como não compreendo, muito menos aceito, as ridículas campanhas anti-tabagistas que se fazem e se prometem fazer. Não está aqui em causa eu fumar ou não: isso não interessa para nada. O que está em causa é a liberdade individual de cada um. E, se é verdade que quem não fuma tem o direito de ser incomodado pelo o fumo dos outros, não menos verdade é que fumar é uma escolha individual. Tão somente uma escolha individual. Vicia, a nicotina? Verdade; mas quem começa a fumar fá-lo por que quer. É um flagelo para a Saúde Pública? Pelo amor de Deus: flagelo para a Saúde Pública neste país são as condições de hospitais e de centros de saúde, a manifesta incompetência de uma parte considerável dos médicos, e o sistema nacional de saúde em si, que não funciona de todo. Quem fuma sabe os problemas que isso acarreta; não creio que alguém, nos dias que correm, precise de ler num maço de Lucky Strike ou de Português Suave, em letras grandes, gordas e feias, "FUMAR MATA". Continua a ser uma escolha individual e consciente. Ninguém pode escolher nascer. Mas pode escolher como quer viver. Se quiser fumar, o problema é seu e só seu. E mais ninguém tem nada a ver com isso (mas como se explica isto a um português..?).

João Campos

quinta-feira, janeiro 13, 2005

O futebol...

...é somente um jogo. Pelo menos para mim, que não sou adepto. Não me consigo emocionar com um jogo - e, como é evidente, sou incapaz de compreender como um jogo consegue suscitar as emoções, acções e reacções que todos já vimos vezes sem conta.

Ontem acabava de jantar quando começou o desafio entre o Chelsea e o Manchester United, a contar para a Taça da Liga inglesa. Não me fui embora da sala, vi a primeira parte. Recordo o momento em que um jogador do Manchester é travado em falta na grande área adversária. O árbitro deixa seguir, não assinalando o penalty. Pormenor a reter: não houve jogadores a rodearem o árbitro, teinadores a praguejarem que nem uns desalmados, objectos voadores não identificados arremessados pelos adeptos. Não vi o depois, mas duvido que na conferência de inprensa tenham havido declarações ácidas de treinadores (mesmo sendo Mourinho e Queirós portugueses) ou troca de postas de pescada nos tablóides desportivos do dia seguinte. Após o lance, jogo seguiu, bem disputado, ao mais alto nível como só o futebol britânico consegue. Gostei daquilo que vi, sinceramente. E não consigo deixar de pensar: comparado com o profissionalismo, o fair-play e a entrega ao jogo das equipas inglesas, o futebol português - leia-se Superliga - é triste, amador, provinciano - quase um solteiros versus casados da santa terrinha. É a diferença evidente em lidar com gentlemans ou com peixeiras.

João Campos

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Deixa ver se percebi bem:

Os "génios" do Bloco de Esquerda propõem, como forma de conter o défice, que as despesas "de investimento na qualificação do trabalho, serviço público de saúde e criação de capacidade produtiva [?] não são incluídas no défice" (são onde, então?). E mais: propõem, caso a União Europeia "não aceitar estes critérios para um novo Pacto, Portugal deve declarar uma situação de emergência" (porque me parece que tem esta frase contornos de ultimato?).

Pergunta o meu amigo Azurara, e muito bem, porque seriam só aquelas despesas a não serem contabilizadas. Pergunto eu, ao Dr. Louçã, que faria ele, então, se a União não aceitasse mesmo os critérios que o Bloco proporia, e o tal estado de emergência fosse declarado.

Gostava também de perguntar ao Bloco - é uma daquelas curiosidades que mordem cá atrás da orelha e que não há coçadela que as faça desaparecer! - que revolução é que, afinal, defende, e que tanto apregoa em cartazes, outdoors e afins. Mas isso já seria um pouco demais, não?

João Campos

domingo, janeiro 09, 2005

Meu caro Sampaio,

em nome da Nação, decida-se! (Pessoalmente gosto mais de dizer isto com a deliciosa expressão anglo-saxónica "make up your mind"... enfim, estrangeirismos!) Sei bem do mal de que padece o nosso mui amado Presidente da República: inconsequência crónica, provocada por socialismitte aguda, assim do lado esquerdo do corpo. Primeiro, quando devia ter convocado eleições antecipadas, indigita Santana Lopes. Quatro meses, e muitos disparates depois, dissolve o mesmo governo, de maioria parlamentar. E vem agora o nosso Presidente falar na Sic Notícias em reforçar os mecanismos eleitorais, de forma a facilitar a formação de maiorias absolutas. Sou só eu, ou há aqui qualquer coisa que não encaixa?

O que o senhor Sampaio quis dizer é que pretende arranjar forma de dar a Sócrates uma maioria absoluta. Entendo porquê, se analisar a questão com o critério da cor. Não entendo porquê, segundo o mesmo critério: será que Sampaio, afinal, não considera Sócrates capaz de conseguir essa maioria, essencial à estabilidade que lhe é tão cara, sem, como se diz na minha santa terrinha, "meter lá o bodelho"..?

João Campos

sábado, janeiro 08, 2005

A ver se a gente se entende:

Maremoto e tsunami não são sinónimos. Sim, sei que o tema está mais do que batido na blogosfera lusa. Mas olho para a primeira página do Público de ontem (estou atrasado, bem o sei) e volto a ver o mesmo erro repetido: "(...) para acudir às nações do Índico atingidas pelo sismo e pelo maremoto (...)". Ok, não se fala aqui em tsunami. Mas, ou muito me engano, ou o jornalista usou a palavra sismo para se referir ao maremoto e esta referindo-se à onda gigante?
Não sou geólogo nem nada que o valha. A última cadeira que tive da área das ciências naturais foi Ciências da Natureza, no meu longínquo oitavo ano. Mas posso tentar explicar isto com o meu senso comum:
Maremoto é um sismo que ocorre no fundo do oceano. Os motivos que estão na sua origem são os mesmos dos sismos. Uma boa parte dos tremores de terra que sentimos em Portugal são, tecnicamente, maremotos - uma vez que ocorrem no fundo do Atlântico. Podem ou não causar ondas gigantes capazes de atravessar oceanos inteiros.
Tsunami é a palavra japonesa adoptada por todo o mundo que designa essas ondas que os maremotos podem causar. O seu tamanho e intensidade variam com a magnitude do sismo, da mesma forma que a água de um alguidar se agita mais ou menos conforme o tamanho da pedra que se lá se deixar cair. No mar, o tsunami assume a forma de uma onda longa e não muito alta, que se desloca rapidamente. Quando se aproxima de terra, perde velocidade sem no entanto perder força, e ganha a altura que lhe dá forma. Na praia, nota-se a maré a descer a um ritmo fora do vulgar, por vezes até distâncias que nem a maré mais baixa deixa à superfície. A rebentação da onda é idêntica à de outra onda qualquer - mas com uma força incomparavelmente maior, capaz de provocar uma devastação como aquela que todos já vimos.
O assunto não se esgota aqui: um tsunami não tem necessariamente de se manifestar numa onda gigante. Não raras vezes, assume a forma de uma subida de maré incrivelmente rápida, que inunda as áreas costeiras. Menos violento, mas ainda com efeitos devastadores.
É isto que os jornalistas portugueses parecem não saber nem querer saber. Qualquer manual de Ciências da Natureza do sétimo ano de escolaridade diz isto que acabei de dizer - uma investigação de cinco minutos, uma pequena leitura na diagonal, e muitos disparates na comunicação social tinham sido evitados. Já que não se pode evitar um tsunami, ao menos que se faça uma cobertura minimamente rigorosa quando ele acontece.
João Campos

Ok, chega:

andei perdido tempo demais. Já é altura de provar a mim mesmo que não sou artífice das palavras somente para dar existência material ao meu evanescente lado negro e a outros mundos não menos etéreos. Facto: desde que o projecto do blog Miradouro (ainda on-line, mas clinicamente morto) que não faço uma tentativa de comentário, que se adeque mais à minha área de estudos - o jornalismo.

Sim, eu sei: o jornalista não comenta, deve primar pela objectividade, deve abstraír-se da sua opinião e dos seus pontos de vista, etc, etc. Já sei a cartilha de cor: passei muitas noites em claro (a última foi ontem) por causa dela. Poderia argumentar que não sou ainda jornalista, apenas estudante de - mas isso seria estúpido. Considero simplesmente que há tempo e espaço para tudo. Não pretendo escrever notícias ou expor reportagens neste blog - apenas pontos de vista sobre isto e aquilo. Em resumo: sobre as múltiplas realidades deste lado do espelho.

Continuo a contar com parceiros neste espaço. Não ainda, mas eles ou elas hão-de aparecer (I hope...).

João Campos