quinta-feira, junho 30, 2005

Leituras de época de exames

Podia estar aqui horas a debitar palavras acerca da vida desta senhora em Portugal, quando morava no Porto e o seu namorado tripeiro lhe deu o chuto no rabinho. Isto foi quando J.K. Rowling (visite-se o seu site, que vale a pena) começou a escrever as histórias que agora valem seiscentos euros por palavra. Podia falar disto, mas não vale a pena: o João Pereira Coutinho já dissertou (ver artigo de 6 de Novembro), genialmente, sobre o tema. Fico à espera da estátua.


João Campos

Leitores

O que não consegue existir sem ler é leitor por vício; o que consegue existir sem ler é leitor por prazer.

Miguel Moura Santos

quarta-feira, junho 29, 2005

Podridão Lusa

Com a atenção com que costumo encarar os fenómenos sociológicos e comportacionais do nosso país, fico alucinadamente espantado com a contestação social que, neste momento, se exerce sobre o Governo. Para tentar explicitar de forma mais eloquente o meu ponto de vista sobre o que se passa na sociedade portuguesa vou recorrer a uma analogia que me parece inexoravelmente elucidativa. Pensemos num veículo automóvel, do início do século, em que os pneus estão todos furados, o motor tem o carburador entupido, as velas queimadas, já não tem bancos nem volante, o eixo da direcção e o diferencial estão partidos, o manípulo da caixa de velocidades já não existe e as lâmpadas dos faróis há muito estão fundidas. Perante todo este cenário continua a pensar-se e incessantemente perssiste a peregrina ideia de que mudando apenas o condutor o carro passará a andar. Não será isto a prova do atraso deste país? Que ainda não se consciencializou de que caminhará irreversivelmente para a podridão se não interiorizar que esse caminho tenebroso só será invertido se todos fizermos por isso, se não esperarmos paciente e ociosamente no café do bairro que um qualquer Sócrates resolva aquilo que apenas a todos nós, como povo, cabe.
João Teago Figueiredo

Early Morning Blogs #5446368743

Hoje começa-se o dia à JPP. Aqui vos deixo o meu poema preferido:



















Com gelo, se faz favor.

João Campos (bom dia!)

Actos falhados e lapsos linguísticos

Palavras homófonas são uma coisa tramada. Especialmente numa língua estrangeira. Não bastava ter desejado que Eugénio de Andrade descansasse aos pedaços (piece) e não em paz (peace), como também no post anterior (entretanto corrigido) transformo os terroristas ambientais da Greenpeace ("paz verde") num "pedaço verde" (greenpiece). Ainda agora, quando escrevia o significado literal do nome da afamada organização, em vez de "paz verde" já escrevia "paz merde". Já começam a ser actos falhados e lapsos linguísticos a mais para eu atribuir as culpas ao sono, à falta de descanso, ou à incessante deambulação da mente. Não sei porquê (ou se calhar até sei), mas aposto que Freud teria uma excelente explicação para este fenómeno. Vou investigar, que isto vai na volta e ainda é recalcamento.
João Campos

terça-feira, junho 28, 2005

Life has a twisted sense of irony

Empenhado no meu papel de Comissário da Guerra no futuro PREC (não confundir - a coincidência da sigla é apenas isso mesmo - uma coincidência. O "meu" PREC significa "Partido Revolucionário de Extremo Centro), brincávamos eu e o Nuno, velho companheiro de longas conversas, empenhado cientista e filósofo que não consigo convencer a dedicar-se às lides blogosféricas, sobre a ideia de workshops de temáticas variadas: "como fazer um genocídio em três lições", "técnicas de demolição em massa para maximização do massacre" e disparates quejandos. Isto entre muitas gargalhadas e, no meu caso, entre valentes copadas de vodka pura. Até parece que algum cabeçudo do Bloco ouviu as nossas risadas perversas (muhahahaha) e desprovidas de maldade! Agora, segundo consta na imprensa nacional, um acampamento de Verão do Bloco de Esquerda terá workshops diversos: artes circenses, pinturas murais (a.k.a. vandalismo urbano), equilibrismo (num partido de extrema? weird...), e... desobediência civil. Ao que parece, o direito à desobediência civil vem consagrado na Constituição - não sei, nunca tal coisa li, para grande falha minha, bem sei. Mas o conceito é interessante. De inspiração na Greenpeace, "exemplo internacional de desobediência civil bem sucedida" (laugh laugh laugh).
Fico, agora, curioso acerca da opinião da malta acerca desta ideia peregrina, que só poderia sair de uma shitstorming das cabecinhas bloquistas. O Bloco, na sua linha, podia por os seus jovens camaradas a ler Marx, Trotsky, ou qualquer outro cérebro de esquerda. A ver se os afastava de palavras ocas e Morangos com Açúcar. Mas ensina a desobediência civil, as artes circences, pinturas murais, equilibrismo. E depois dizem que eu sou de extremos.
João Campos
(P.S.: ó Nuno, temos de ver se levamos a coisa avante, que isto anda mal, pá! E, já agora, tenta arranjar-me uma garrafita de Moskovskaya!)

"Com as secretárias de Santana Lopes é que não ia ficar"

... diz José Sócrates aos jornalistas, no final do debate mensal na Assembleia, a propósito da polémica nomeação de secretárias para o seu gabinete.
Não percebo porquê. Lá na aldeia, que me recorde, conheci dois presidentes de junta - o primeiro pela CDU, o segundo pelo PS (o que não importa ao caso), e em vinte anos de memória, foram apenas eles que mudaram. Todo o restante staff - secretárias (uma das quais é esposa do presidente da CDU), tesoureiro, motorista, empregadas de limpeza - se manteve ao longo destes anos todos.
Claro que recursos limitados obrigam a gestões imaginativas e, acima de tudo, contidas. Ou deviam obrigar.
No entanto, o que esta saída de Sócrates revela é o seu lado obscuramente genial. Assim, do nada, acaba de resolver o berbicacho da sua imbecil promessa eleitoral. É que, de uma penada, já só falta arranjar 149983 empregos. Pronto. Ele apenas prometeu arranjar 150000 novos empregos. Os equivalentes 150000 despedimentos serão uma mera casualidade. É como as obras camarárias a ficarem prontas pelo Natal: desde que não se diga qual é o Natal, a promessa não será quebrada...
João Campos

segunda-feira, junho 27, 2005

Quando começa a Volta a Espanha?

Em época de exames vale tudo.

João Campos

sexta-feira, junho 24, 2005

Uma proposta estival - 2

E eis que por aí circula a guerra, já a devem ter visto, continuou Klober, pois a guerra é o que mais se encosta à verdade do Homem, por isso assusta tanto. Mas esta guerra, como todas as outras, ainda não é a verdade final do homem, ainda não é um elemento capaz de excluir por completo a possibilidade de mentira; a última guerra, a verdadeira, a que se afastará desta imitação, será aquela em que cada um combaterá todos ou outros, em que cada homem será o início e o fim do seu exército; a guerra verdadeira, a guerra exacta, a guerra que demonstrará finalmente o que é um indivíduo, essa guerra, que ainda não veio, que jamais se viu em qualquer outro ponto, mas que virá, estou certo, essa guerra é aquela onde quaisquer dois corpos que se aproximem o farão por ódio. Toda a aproximação será para matar, ou ainda não estaremos perante verdadeiros Homens. Gonçalo M. Tavares, in A máquina de Joseph Walser

Este é o livro que deve ser lido por quem não gosta do calor. O que quer isto dizer? Saberão.

Miguel Moura Santos

Uma proposta estival - 1

As mãos nos bolsos de Klaus. Como era estranho aquele seu gesto de esconder as mãos nos bolsos. As mãos e os olhos eram o fundamento da guerra: sem mãos é impossível odiar, odeias pela ponta dos dedos, como se estes fossem o canal habitual e único de uma certa substância química má. As mãos nos bolsos são um processo de educar o ódio, processo lento quando comparado com aquele bem mais forte que é a amputação dos braços. Mas só com as mãos nos bolsos os homens já acalmam. Gonçalo M. Tavares, in Um Homem: Klaus Klump
Este é o livro que deve ser lido por quem não gosta do calor. O que quer isto dizer? Saberão.
Miguel Moura Santos

quinta-feira, junho 23, 2005

Limpar a vista

Ó Miguel, não tinha a noção de que a tua zona, por volta das seis e meia da tarde, era tão bem frequentada!
João Campos

terça-feira, junho 21, 2005

Nota de Verão

Será possível distinguir um estúpido de um filósofo, num areal lusitano? Não, porque os filósofos não simpatizam com areais - dirão alguns. Sim, os filósofos são os que aparecem no final da tarde - dirão outros.

Miguel Moura Santos

Há vida para além do défice

2006 será mais um ano sem silly season política - agora que Sócrates decidiu que, no que à trapalhada governativa concerne, não quer ficar atrás de Santana Lopes. Para o jornalismo é bom: acabam-se os dois meses a encher chouriços e trabalha-se à séria. Para o país, será um osso duro de roer. Num estado onde a silly season assume significado literal, o cidadão vive massacrado por impostos, por um ordenado que mal permite ir as duas semaninhas da praxe fritar até ao superpopulado Algarve. O povo anda deprimido, triste - e quando o mercúrio chega aos 40º, ainda mais enfadonho do que é costume.
A solução, a meu ver, é simples. Legalizem-se as drogas leves, mas em larga escala - a cada lar, o seu alegret de cannabis. Em cada bar e café, um calhauzito para venda. E ervinha diversificada nos mosqueteiros e quejandos, entre as alfaces e a fruta da época. Aos domingos, excepcionalmente, permita-se uma risquinha de coca - coisa regulamentada, três centímetros e não mais. O défice não iria baixar. A vida dos portugueses não iria melhorar. O seu sorriso é que seria outro.
João Campos

domingo, junho 19, 2005

Imbecilidade electrónica

Não há dia que passe em que não receba, em qualquer das minhas caixas de correio electrónico, um e-mail imbecil. Outro francamente imbecil. E outro que, de tão imbecil, já constitua em si um atentado à própria imbecilidade. Anos passam e a dúvida subsiste: que fazem as pessoas que dedicam meia hora que seja a mandar via e-mail coisas ridículas e absolutamente inúteis?
Se calhar é melhor reformular: que não fazem as pessoas que dedicam meia hora que seja a mandar via e-mail coisas ridículas e absolutamente inúteis?
Uma polémica pessoal acerca do tema, faz agora um ano, suscitou respostas curiosas. Revoltei-me contra aquelas correntes electrónicas segundo as quais, se não passarmos as missivas a não-sei-quantos endereços, sofremos um castigo místico qualquer, uma maldição virtual - a acreditar nisso, nunca mais na vida vou dar uma queca. Disseram-me que me mandavam forwards porque se lembravam de mim. Porque gostavam de mim. Disparate. Mandam-me forwards porque, simplesmente, têm o meu endereço de e-mail, e na hora de re-enviar, ele está ao alcance do ponteiro do rato. Ninguém - salvo uma honrosa excepção - arranja um texto que fale sobre o mito do Ragnarok ou de Arienrhod e pensa "sei que o João adora mitologias, deixa cá mandar-lhe isto, que de certeza que ele vai gostar". Em compensação, sou fuzilado constantemente nos meus domínios electrónicos com ficheiros de powerpoint melodramáticos que nunca vejo (dá demasiado trabalho e rouba-me tempo para jogar computador ou, de vez em quando, para estudar) e com anedotas já celebrizadas ridiculamente por Fernando Rocha. Curioso - salvo a mesma honrosa excepção (que já merece que lhe mande um beijo), já perdi a conta de há quantos anos não recebo um e-mail que diga simplesmente "olá! como estás?".
O reenvio de forwards não é uma forma de se lembrar de alguém, nem uma forma de manifestação de afecto, mesmo que se mande um powerpoint que, em doze diapositivos, diga 2843528434637 vezes "amo-te". É apenas uma moda bacoca que, subliminarmente, vai passando diariamente milhões de endereços de correio electrónico para bases de dados responsáveis por spam diverso, que não raras vezes inclui vírus informáticos. É um disparate generalizado movido por indivíduos que mais não têm que fazer do que criar ficheiros inúteis e sem autoria para difundir globalmente. É, de forma velada, um consumismo gratuito que muito bem atesta o desinteresse, por exemplo, pela forma como os deuses nórdicos arrasaram os seus inimigos na derradeira batalha. Ou por uma vasta míriade de assuntos verdadeiramente interessantes. Em suma: é a promoção do facilitismo, em detrimento do conhecimento.
João Campos

Brindes repetidos

Quando fazemos anos, adquirimos sempre brindes repetidos. E lamentamos não ter recebido outra coisa. Mas não devemos adoptar tamanha postura. Uma oferta repetida é uma amostra evidente de que os outros sabem aquilo que nos encanta.

Miguel Moura Santos

Votar em branco

Tomei uma opção: votar em branco. Não por estar triste ou me considerar ludibriado. Apenas entendo que devo ser franco com os que gostam muito de orientar Portugal. Se votar em branco, serei franco, porque não direi a alguém que o seu oponente não é tão verdadeiro.

Miguel Moura Santos

sexta-feira, junho 17, 2005

Causa - Efeito

Intolerância gera intolerância. Violência gera violência. Um ressurgimento de ideologias, ainda que pequenas, de extrema-esquerda, originará inevitavelmente um processo análogo no outro extremo do espectro político. A História faz-se de balanços. De equilíbrio. Mas de equilíbrio temporal. Assim sendo, e porque tudo aquilo que aconteceu na História da Humanidade foi perfeitamente enquadrado num fluxo de espaço e tempo, será um redondo disparate comparar as vítimas dos regimes comunistas às vítimas da Igreja Católica. Ou culpar os portugueses do ano 2005 pela colonização de África que começou nas Descobertas, há quinhentos anos atrás.
João Campos

Naïve

Na caixa de comentários de um artigo d' O Acidental a propósito de Cunhal, apanho a seguinte pérola:

"(...) se não houvesse tanta ganância talvez a ideia funcionásse. [sic]"

Eu sou manifestamente um ignorante. Mas, se houve coisa que aprendi no que à Filosofia concerne, é que tanto Rousseau como Marx contam-se entre os seres humanos mais ingénuos que este planeta já conheceu. (tema a desenvolver em artigos futuros)

João Campos

Comunicado

Devido a um erro desconhecido no directório batráquio onde estão alojadas as efígies dos caríssimos comentadores deste blog (raio de ironia - deixei o servidor de blogs do sapo vai para um ano porque só me dava problemas... querem ver que eles descobriram que uso o meu espaço de alojamento web para redicionar as imagens para a minha rede de blogs no Blogger, servidor da concorrência?), estaremos temporariamente indisponíveis em imagem, na coluna lateral. Prometemos regressar com a imagem habitual assim que os problemas técnicos se encontrem resolvidos - ou assim que eu encontre outro servidor gratuito, preferencialmente menos problemático. Não obstante, a publicação de artigos continuará com a regularidade habitual - ou seja, nenhuma.
João Campos
Departamento de Comunicação e Relações Públicas ('lol')

Manif

Nunca tinha visto o Largo do Rato com tanta gente como hoje, na manifestação da função pública, que com gosto parou à porta da sede do Partido Socialista para fazer barulho. Já a marcha seguia pela Rua de S. Bento abaixo, e ainda não lhe via o final na esquina do Rato que segue para o Marquês. Impressionante.
João Campos

René Bertholo (1935-2005)

Eugénio. Cunhal. Bertholo. Este também morreu. Ninguém fala dele. Poucos sabem quem foi. Poucos sabem quem é. Um pintor. Um grande pintor. Um pintor esquecido.

Miguel Moura Santos

quarta-feira, junho 15, 2005

Preto no Branco

E eis que de repente se levanta um alarido nacional entre aqueles que defendem o luto nacional por a morte de Álvaro Cunhal e aqueles que acham ridículo o país se enlutar por um "criminoso marxista", como por aí se anda a dizer. E é o luto pela mana Lúcia que regressa à agenda por arrasto, e afinal por que não se faz antes luto por Eugénio de Andrade?
Cá para mim esta discussão toda é irrelevante. A incoerências do género já este país me acostumou. É decretado luto nacional? Go ahead. Para mim é indiferente. Não estou de luto por Cunhal. Como não estive por Lúcia, por Amália. E como não estarei por qualquer personagem da nossa História actual. O luto é uma farsa - mas, a desempenhar tal farsa, que se desempenhe por quem for realmente querido. Não por qualquer senhor que, por grandes feitos ou ironia do destino, conste dos livros de História do décimo-segundo ano de escolaridade.
João Campos
(Quanto à ideia peregrina de se permitir que no Porto alguma rua tenha o nome de Cunhal e Vasco Gonçalves - consultar a Blasfémia para mais detalhes -, eu, humildemente, sugiro apenas que se restitua à velhinha ponte sobre o Tejo o nome do responsável pela sua construção - Salazar. Afinal, o senhor também foi uma figura histórica incontornável no século vinte português, de carácter firme e coerente nos seus ideais.)

terça-feira, junho 14, 2005

may you rest in piece

O último contacto que tive com o senhor foi no exame nacional de Português A do ano lectivo de 2002-2003. Confesso que a poesia não é propriamente o meu forte, por isso, talvez nunca tenha prestado a merecida atenção aos seus bonitos poemas de linhas simples e algo melancólicas. No entanto, não me é indiferente o "passamento" de Eugénio de Andrade, poeta contemporâneo que estudei com algum prazer. Recordando aquele que terá sido talvez o mais rico período da minha existência - o meu décimo-segundo ano de escolaridade -, é com alguma estranheza que, com a morte de Sophia no ano passado, e com o falecimento de Eugénio, me apercebo de que todos os autores estudados no ensino secundário já não se encontram entre nós. Coisas da vida, deste mundo que continua a girar, indiferente àqueles que nele vivem e sobrevivem. Eugénio deixará de certo saudades. E, a grande questão que da sua morte se retira levantou-a hoje a Susaninha: onde estão agora os nossos poetas?
João Campos

sábado, junho 11, 2005

The Battle of Carcavelos

Um tipo sozinho a assaltar é um ladrão. Quatro são uma quadrilha. Oito já farão um gang. E quinhentos? Um exército, decerto.
Então porque são enviados para lá entre cinquenta a cem polícias? Onde estão os nossos Fuzileiros?
João Campos

sexta-feira, junho 10, 2005

Immanuel e Carcavelos

No que respeita ao ocorrido em Carcavelos, gostaria de recordar uma pequena afirmação: «O mundo de nenhum modo perecerá por haver menos homens maus» (Immanuel Kant, in A Paz Perpétua).

Miguel Moura Santos

quinta-feira, junho 09, 2005

Subvenção vitalícia de estupidez

Após o corajoso anúncio de Sócrates de que acabariam as subvenções vitalícias para os detentores de cargos públicos acreditei utopicamente que este seria o ponto da História em que Portugal deixaria de ser a vergonhosa capital dos corporativismos e dos lobbies.
Munido de dotes adivinhatórios soberbos, já estava a estranhar o tardar das reacções de parlamentares que iriam sofrer com esta medida, aqueles que esta legislatura acabam os penosos e longos 8 (oito) anos de trabalho na Assembleia da República e por isso teriam direito à dita subvenção. É claro que esta semana esses mesmos senhores se manifestaram para dizer que não aceitam que lhes seja sonegado o direito a tão ridícula prestação que eles próprios estabeleceram para eles próprios (perdoem-me a redundância).

Pensarei de forma errónea quando acho que é por coisas como esta que a nossa 'Lusitânia' é sistematicamente ocupante alegre da cauda da tabela?!?

João Teago Figueiredo

Meia volta

"Numa prova de dez dias com pólos de atracção como a Senhora da Graça ou a Serra da Estrela, seria difícil contemplar o Algarve e o Alentejo", diz o director da organização da Volta a Portugal em Bicicleta, à laia de justificação para o facto de o Sul do país ter sido esquecido nesta edição da prova de ciclismo.
E, de facto, para quê? Que tem o Alentejo de interessante? A maldita wasteland é sempre a direito; e quando não o é, as suas serritas escanzeladas não fazem sombra aos gigantes graníticos das terras de Norte. É só terra ressequida ou queimada a toda a volta. Para além do mais, só lá vivem meia dúzia de velhos suicidas. Não teria piada nenhuma para os ciclistas, nem daria boas imagens televisivas, nem traria lucro à organização. Se o Alentejo é desperdício, deve então ser esquecido.
Muito bem. Já é habitual este tipo de pensamento cá na Lusitânia. O Alentejo tende a ser esquecido, excepto quando serve para chegar ao Algarve. É assim nos transportes, nas telecomunicações, nas políticas. No desporto, agora também. Fique lá a organização da Volta com os seus pólos de atracção a Norte. Agora, por uma questão de respeito e de coerência, mude o nome à prova para "Meia Volta a Portugal em Bicicleta". Pode até dar o subtítulo de "Com as grandiosas passagens pela Serra da Estrela e pela Senhora da Graça!"
João Campos (Alentejano)

quarta-feira, junho 08, 2005

Contraditório

Como o meu mais recente artigo suscitou polémica, decidi deixar uma resposta em jeito de artigo.
Nockaas: o King a que me refiro não é o Stephen, mas o J. Robert, autor de vários mundos entre os quais se inclui Magic: The Gathering. Livros como The Thran, Invasion ou Apocalypse são excelentes narrativas de ficção.
Pakalolo: entendeste-me mal. Literatura não é para gente crescida. Não sou nem pretendo neste momento ser um "homemzinho", mas um adolescente contente com esse facto. Apenas com o decorrer dos anos o interesse maior pela Filosofia tornou-se secundário, e ganhei outros interesses que mais me dizem. Literatura de fantasia e ficção científica - dois géneros marginais, cuja inquestionável riqueza faz muito bom erudito torcer o nariz. Poderia ser o percurso inverso. Pode o "bichinho" ainda voltar - não sou vidente. Não sou mais adulto ou maduro por deixar de gostar de filosofia - nunca o quis afirmar. Sou, simplesmente, eu. Eu, João Campos. O texto é estritamente pessoal. Não estou a fazer qualquer crítica. Apenas a dissertar acerca de uma situação da qual te relembras. Ser um ser comunicativo não implica ter preocupações acerca do processo de comunicação - e, a tê-las, não implica forçosamente ler Luhmann. Mas, e perdoa-me o egocentrismo, o que estava em causa no artigo era eu e apenas eu.
José Carlos Ferreira: Antes de mais, obrigado pela visita e pelo comentário. Mas nada existe de prazeroso em dizer que Nietschze não está nos meus interesses. É, tão somente, a constatação de um facto. Seria equivalente a dizer que gosto de bacalhau à brás e não gosto de bacalhau com natas (estou a plagiar a comparação - RAP que me perdoe o abuso). Aliás, nem sei nada de substancial acerca do Frederico. Poderá um dia ser um mestre cá no sítio - mas, por enquanto, em Filosofia, existem prioridades. Como Hume e Kierkegaard. Acredito que ler Nietschze implique um esforço que o homem médio não esteja disposto a suportar. Mas isso aplicar-se-à a inúmeras coisas. O que está aqui em causa - e isso parece que foi esquecido - é uma opção puramente pessoal. Um gosto. Nesta fase, sinto que tenho mais a aprender acerca do mundo e de mim mesmo noutras fontes. Posso estar errado, mas será o meu erro. Serão as minhas opções para me descobrir. De que me serviria ser um "homem que nasce póstumo" se morresse sem me descobrir?
João Campos

segunda-feira, junho 06, 2005

Filosofia vs. Literatura

A verdade é que creio que o melhor estudo de Filosofia se faz na solidão, e não com um professor diante ao centro da sala a debitar as suas considerações. Por isso li, há algum tempo, O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder - para ter um "índice" de filosofia que me permitisse escolher aqueles que mais me agradassem e estudá-los autonomamente. Já conhecia Hume e Kierkegaard, apenas vagamente, e ler as passagens do autor norueguês acerca dos mestres David e Soren apenas aumentou a minha curiosidade. Por Kant nem por isso. Nem por Nietchze.
E sim, Susana, dá-me mais prazer ler sobre eles do que sobre Luhmann, ou sobre qualquer outro que tenhamos estudado nestes dois anos de curso - abram-se excepções talvez a Gabriel Tarde, Ortega y Gasset, MacLuhan e pouco mais. Estranho num aluno de Comunicação? Talvez. Mas a verdade é que não sou um aluno de Comunicação. Ou, a sê-lo, apenas por acidente.
Já tive a minha fase do "bichinho" da Filosofia. Nessa época, talvez adorasse as teorias da comunicação e essas coisas todas. Mas descobri-me, e isso passou. Não sou filósofo ou teórico. Ponto. O meu mundo é a ficção. Por isso, os meus mestres serão sempre Tolkien, Vinge, Grubb, King. Os seus mundos já estão imaginados, mas permitem-me imaginar mais além.
Se estou no curso errado? Sem dúvida. No entanto, preciso de pão para a boca de forma independente.

João Campos

Ateliers teóricos

Uma cadeira cuja denominação começa com o termo de origem francesa "atelier" (que entretanto já deve ter sido aportuguesado, como de costume) supõe-se naturalmente prática, correcto? Esta a que me refiro não engana nada: Atelier de Tecnologias de Informação. Actualmente, trabalha-se com câmaras, programas de edição e afins. E hoje realiza-se teste teórico, no qual os alunos de memória infinda devem dissetar acerca do conhecimento que adquiriram, não em contexto teórico, mas em contexto prático.
São estas ambiguidades que me desenham um sorriso amargo no rosto (ao menos são tema de post, o que já não é nada mau). Se a Sociologia da Comunicação Social tivesse de realizar estudos sociológicos, ficava lixado - a cadeira é teórica, o seu regime de avaliação faz-se por frequências. A ATI não. O bicho é prático, mas temos de saber a teoria toda na ponta da língua. Ou então é teórico-prática, e, como de costume, ninguém me disse nada.
João Campos

O Senhor dos Anéis ou Peter Jackson na teia de Shelob

Não seria possível que Tolkien tivesse cometido tão crasso erro. Sim, que os génios não se enganam - quanto muito, deslizam ligeiramente, por vezes, da verdade, mas não mais do que isso. E, de facto, seria grave - apesar de paradoxalmente natural - que um erro tão evidente (mas no qual nunca atentei alguém reparar) tivesse escapado primeiro à imaginação febril, e seguidamente à revisão cuidada do escritor. Como tal, urgia investigar-se o assunto, a fim de se justificar a conversão de Peter Jackson em bode expiatório.

É certo que nenhuma conversão de filme para livro será perfeita. Nem sequer de um videojogo, um mundo que, à primeira vista, pode parecer mais aproximado - e os desastres de Resident Evil e Tomb Raider atestam-no. Não sendo perfeita, como muitos me disseram, a conversão de O Senhor dos Anéis estava boa. Muito boa. Fantástica. Desviava-se da narrativa escrita? Um bocadinho, disse a maioria, mas tal era necessário. O que compreendo: um filme não é um livro, e o traço que lhe confere a sua maior especificidade - a imagem - ao mesmo tempo limita-o mortalmente quando comparado à literatura. Demorar mais de três horas a ler um livro é natural, faz-se de seguida ou aos bocadinhos, conforme o tempo e a disposição. Mas um filme de três horas começa a cansar a maioria das pessoas, mesmo que seja genial.

Na altura limitava-me a acreditar nos testemunhos que recolhia aqui e ali, visto não ter ainda lido o conto. Apaixonei-me pela Terra Média sem a ter lido - apenas visto. E, na altura, considerei a obra de Peter Jackson brilhante. Considero, ainda, agora que devoro as últimas páginas de O Regresso do Rei. Creio que as opções narrativas do realizador foram as melhores, e denotam um cuidado profundo e um vasto conhecimento da obra. Talvez por isso mesmo lhe tenha escapado tão flagrante erro.

No caminho de Cirith Ungul, acima de Minas Morgul, cidade dos espectros, Smeagól conduz Frodo e Samwise à toca de Shelob, milenar guardiã daquelas paragens, aranha gigante, malévola e esfaimada. Jackson torna a cena mais cinematográfica, acentuando a traição do pérfido Gollum, e alegando que o próprio Frodo mandara o seu criado halfling embora. A coisa resulta. Frodo enfrenta Shelob com a luz que Galadriel lhe deu, e corre pelos desfiladeiros apertados. E a coisa continua a resultar. E eis que entra a cena espectacular em cinema - a malvada aranha esgueira-se pelo desfiladeiro e desfere um golpe violento com o seu ferrão - aproximadamente do tamanho de um braço de um hobbit, e aparentemente aguçado como um sabre - no abdómen do infeliz Frodo, que se contorce e cai redondo no chão. E aqui, na cena de maior impacto, para qualquer conaisseur como para qualquer espectador mais atento, a coisa deixaria de resultar.

Retrocedamos, para que a lógica se perceba: até à longa travessia das minas de Mória pela Irmandade. A primeira batalha tem lugar na sala do túmulo de Balin, rei dos Anões de Mória, quando os orcs invasores entram pela sala com um troll das cavernas. Antes de os guerreiros liderados por Gandalf desbaratarem o inimigo até ele dispersar, o imenso troll - entretanto fustigado pelos golpes dos minúsculos halflings e pelas setas certeiras de Legolas - esmaga uma enorme lança contra Frodo. Pensa-se que ele irá perecer, mas eis que o hobbit revela a cota de malha de mithril que lhe salva a vida. Acontece que Frodo, até os orcs lha roubarem na torre de Cirith Ungul, não chega a tirar a cota de mithril. E, se o roubo é subsequente à sua provação com a terrível aranha, então Shelob jamais poderia ter cravado o espigão daquela forma no hobbit. Estando ele a envergar a cota de malha, ela protegê-lo-ia contra tão singular ferrão, como o fez no túmulo de Balin; caso contrário, o golpe seria equivalente em jeito e em força ao de uma espada cravada num abdómen apenas protegido por trapos - e o seu destino seria a morte.

Uma vez que, algumas cenas mais tarde, é focado o orc a escapar da confusão da torre justamente com a cota de mithril roubada, tal erro torna-se ainda mais evidente. Foi um desvio de adaptação narrativa - porventura o único, mas feroz. Como é evidente, Tolkien não o cometeu: para todos os efeitos, e apesar de o ferrão da Shelob voraz ser grande, ela picou-o no pescoço. Picou-o. Não o cravou nem o espetou. Picou-o, simplesmente. É nestas coisas que, diga-se aquilo que se disser, a literatura e a palavra hão-de estar sempre um passo em frente em relação às artes visuais.

João Campos

sábado, junho 04, 2005

Sede de cultura

Quando há tempos fiz o meu teste de bússola política, não consegui evitar o riso quando me deparei com uma questão acerca de a água possuir uma marca e ser comercializada, e se isso não seria um triste reflexo da sociedade actual. "Pergunta típica", pensei, "do clássico pseudo-intelectual de esquerda, quadrado como um cubo, que tem Marx na mesa de cabeceira e que julga que todos os males da Terra tiveram a sua origem no capitalismo." Não que tenha mudado de ideias - creio é que a comercialização da água conhece alguns abusos. Pensemos em espaços ditos culturais, por exemplo. Vou à Feira do Livro, ali ao Parque Eduardo VII, às três e meia da tarde - hora de ponta do calor. Para além dos vendedores ambulantes de farturas e gelados - que aparecem em toda a parte, existem alguns aguadeiros ambulantes, e um pasquim da própria organização da feira. Mas ninguém vende uma garrafita de água, meio-fresca (que é como quem diz tépida passados cinco minutos), de trinta e três centilitros, por menos de um euro. Na moeda antiga, duzentos escudos.
A cultura anda com sede, concluo, quando a última gota da garrafa se esvai e a secura permanece.
João Campos

sexta-feira, junho 03, 2005

Não, ao desconhecimento

Julgo não estar a incorrer numa dedução ilegítima quando penso que é óbvio que noventa e nove por cento da população portuguesa (nos quais eu me insiro) não sabe o que é uma constituição, muito menos o que é o tratado constitucional europeu.
Assim sendo, que sentido faz votar em algo que não conhecemos?
Que legitimidade democrática terá um voto referendário se não sabemos o que votamos?

Julgo que nenhuma.

João Teago Figueiredo

quarta-feira, junho 01, 2005

We don't need no water, let the mother fuckers burn!

Após alguns artigos por estas e estas paragens blogosféricas, fui também, movido por curiosidade literária, consultar isto: a lista dos livros considerados como os mais perigosos dos séculos dezanove e vinte.
Imensamente mais interessante que o top de vendas da Fnac (apesar de os livros que por lá figuram serem potencialmente mais perniciosos do que aqueles da lista dita oficial lá nas terras do Tio Sam). O paizinho da canhota, Karl Marx, tem lá dois - O Capital e O Manifesto Comunista. Hitler e o seu Mein Kampf, como é evidente, também por lá anda, juntamente com outros tipos porreiros como Mao, Kinsey (Freud é que era tarado - este era cientista), Dewey (ó Carlos, lembras-te do Dewey?), Betty Friedan e a sua Mística Feminina (nasty...), Comte, o pai do equívoco positivista, Frederico Nietzsche e, como não podia deixar, um economista - Keynes, pois então!
Ou seja: filósofos, sociólogos, tarados, ditadores, economistas, cientistas e senhoras desconhecidas (para mim - perdoem a ignorância) são todos potencialmente perigosos, todos enfiados no mesmo saco de rótulo "Índex". Já estão todos nas minhas leituras obrigatórias - excepto Keynes (por motivos óbvios - já ter de aturar o Samuelson em Julho é xarope) e Kinsey (Freud é best-seller aqui no bunker). Os outros servem para cultivar. Quanto à Mística Feminina, estou francamente curioso - perigoso? Investigação, exige-se!
João Campos

Desvantagens de uma dieta nutritiva

Um gajo chega ao bunker estoirado de um dia de aulas que termina com uma filosofia que relaciona os conceitos de Matrix com a génese da sociedade capitalista e, eterno problema! Que jantar? O bunker não tem cozinha - apenas um micro-ondas labrego que serve para os utentes esquentarem as provisões de combate adquiridas em estabelecimentos comerciais das imediações ou, em caso de desespero, para aquecer o atentado de saúde pública a que a ordem da casa pomposamente (diria maliciosamente, mas estamos em casa de Deus) chama de "refeição".
A sorte é que o mesmo Deus traquina fez com que o Augusto Santos Silva inaugurasse as modernas instalações do ISEG aqui perto - e lá há cantina que serve jantar. Evidentemente que por 1,90€ não se pode esperar grande repasto, mas já dá para aguentar um bocadinho. Quando ainda servem, claro. Ou quando a fila não é demasiado grande e a comida demasiado pouca. Ou quando.... ok, é para esquecer. Sobe-se a Calçada da Estrela, e, perante um saldo bancário estimulante, decide-se caçar o jantar em paragens da Sonae - que é como quem diz o Modelo Bonjour cá do gueto. Agora, sim, entramos no campo da comida nutritiva. Na falta dos franguitos assados atestados de hormonas, vai a célebre pizza frutos do mar do Continente. Paga-se, carrega-se para o bunker, timer clock do micro-ondas labrego a rolar, e eis que a pizza lá sai - escaldante, esturricada em cima e dura 'que nem cornos' em baixo.
Pois. Um gajo quer fazer uma alimentação saudável, ah e tal porque é jovem, estudante, e saco vazio não pára em pé, e depois dá nisto. Depois admiram-se que nós, académicos, bebamos que nem esponjas - então se mal conseguimos comer! Quase abdiquei de um dos mais importantes princípios que norteiam a minha existência. Mas o MacDonalds mais próximo é na Alexandre Herculano. E os cachorros quentes carregados de mostarda e ketchup da Select são já aqui ao lado.
João Campos