segunda-feira, outubro 31, 2005

Como se sentir especial

Pequena ironia do dia: receber um e-mail forward de um amigo de longa data, enviado em simultâneo para um número incontável de endereços, a dizer "especialmente para ti".
João Campos

Constatação de última hora

Depois da tempestade, o céu enche-se de estrelas.

Susana

sábado, outubro 29, 2005

Naval 1-Benfica 0, aos 70 minutos, mais ou menos

O Naval acabou de marcar um golo ! Buhaáááááááááá !
Vivó Benfica ! Vivó Glorioso ! Vivó Benfica sempre e a todas as horas ! Vivó Benfica ao pequeno-almoço, ao almoço e ao jantar ! Benfica p'ra cima, Benfica p'ra baixo, Benfica p'rá esquerda, Benfica p'rá direita ! Para além do Nuno Gomes, do Simão Sabrosa, do Quim e do Moreira, e do recém-chegado Rui Nereu (schulrp !), não sei nomes de mais nenh«um jogador. Isso, porém, não me impede que chore com as derrotas e exulte com as vitórias. Eusébio à Presidência ! Benfica, über alles !

quinta-feira, outubro 27, 2005

Paciência

Apanho o autocarro 58 da Carris em Benfica, junto à universidade, com o intuito de regressar ao meu bunker. Vejo-o chegar, a expectativa e o desejo de me ir embora desvanece-se no ar como o fumo cinzento do seu escape à medida que o vejo aproximar-se do apeadeiro. Deixo de ver um autocarro; passo a ver uma lata de sardinhas amarela, gigante, com rodas. Suspiro e entro (Eufemismo: senti-me apertado). Dou graças a Deus pelos meus 185 centímetros de altura, que afastam o meu nariz da axila infecta de alguém. A cada paragem sai uma pessoa, entram quatro. Quando não mais ("look at them... like flies to cow pies..." é o pensamento triste que me atravessa a mente). A situação toca os limites do absurdo. Toda a gente a reclamar, a barafustar. Pára o autocarro, mais uma manada desenfreada que invade aquele espaço aos empurrões. O espaço desaparece, deixei de precisar de me segurar onde quer que fosse, uma vez que não havia para onde cair. Uma senhora, muito dona de si, num claro grito de ordem como se ali tivesse algum poder, querendo à força entrar num espaço que já ultrapassara a lotação esgotada havia muito, brada aos céus "Furem! Furem!". Resposta categórica de outra senhora, evidentemente não menos iluminada: "Ó minha senhora! Quem fura é o Black & Decker!". Gargalhada geral, resmungos irados entredentes, que a frontalidade há muito se perdeu. Olho a custo pela janela, ainda tanto caminho pela frente. Shakespeare podia ter alguma razão ao afirmar que "a paciência é a mais nobre das virtudes". Mas Shakespeare nunca viajou com a Carris.

(reedição de um artigo escrito por mim no antigo blog "Miradouro", no qual colaborava com o nosso saudoso camarada Miguel)

João Campos

Ora bolas!

Percebemos que estamos no curso errado quando esse curso é Jornalismo e, depois de termos analisado jornais radiofónicos e televisivos, de termos gravado voz em estúdio, de termos redigido notícias para rádio, televisão e imprensa, de termos participado numa reunião de redacção do 8ª Colina, concluímos que o ponto alto da semana foram as (breves) referências da professora de História a Descartes, Espinosa e Hume.
Susana

quarta-feira, outubro 26, 2005

Lembrei-me há pouco:

retiro o que disse há bocado. A analogia feita neste blog, dito não oficial, entre Soares e o Super Mário, não é de todo ridícula, mas ironicamente acertada. Note-se que o célebre canalizador na Nintendo celebrizou-se no GameBoy, nas primeiras consolas Nintendo e, convém não esquecer, naquelas consolazitas de treta que se vendiam (e talvez se vendam ainda) nas feiras. Isto nos anos 80, período da revolução gráfica dos videojogos. O canalizador bonacheirão tornou-se no rosto da Nintendo, tal como anos mais tarde a Sega havia de celebrizar o ouriço azul Sonic. Mas ambos entraram em declínio à medida que os anos 90 avançaram e a caixinha cinzenta da Sony arrasou o mercado - sem nenhum rosto visível, apesar de Crash Bandicoot, Lara Croft (Tomb Raider), Jill Valentine (Resident Evil), Tiffa Lockheart e Squall (Final Fantasy) terem representado muito bem a marca japonesa. Tanto Mário como Sonic foram mais ou menos ressuscitados no final dos anos 90 com o aparecimento das consolas de 64 bits, mas o surgimento das 128 bits acabariam por assinalar o seu fim. A Sega abandonou o mercado de consolas e o ouriço ficou órfão. O Super Mário ficou perdido pela Nintendo, e é para os miúdos que agora se iniciam no mundo dos videojogos o mesmo que o célebre Pong é para mim: um mito.
A ironia é que, em termos de política activa pós-25 de Abril, Mário Soares notabilizou-se sobretudo nos anos 80, quando iniciou a sua primeira presidência. Saiu do poleiro e desapareceu. A sua passagem pela comissão europeia foi uma tentativa de ressureição a 64 bits. Esperemos que tenha sido a última. Como a do canalizador.
João Campos

(muito) breves considerações sobre as presidenciais

1) Alegre acaba por desiludir no recua-pára-avança digno da fila da ponte 25 de Abril às oito e meia da manhã. Não vi nada do poeta recentemente (devia voltar a ver televisão), mas recordo-me do seu discurso inicial, no qual afirmou que não se iria candidatar - entre outros motivos, para não gerar eventuais divisões no PS. Afinal avança. E divide (mais ou menos). Como se vai resolver o imbróglio, esperamos para ver. No entanto, as metáforas de alguns dirigentes socialistas a propósito de futebol (lá no Rato o desporto-rei deve ser verdadeiramente popular) foram de muito mau gosto. Como são sempre, quando é Jorge Coelho ou António Costa quem as profere.
2) Cavaco avança - finalmente. Há quem diga que esteve bem. Há quem diga que esteve mais ou menos. Há quem diga que as ilusões acabaram. Não vi, não li, não sei. Informar-me-ei acerca do assunto. E aguardo para ver a campanha.
3) Para além do ateísmo e do anti-benfiquismo, agora há o anti-cavaquismo. Parece que nenhum dos canditatos da canhota quer ganhar - apenas derrotar Cavaco. Negativo. Seguindo a recente tradição de qualidade (em queda livre) das eleições portuguesas, os candidatos a Belém parecem apostados em denegrir o antigo primeiro-ministro como puderem. Espero para ver os contraditórios. No entanto, um aviso gratuito à Esquerda: o que não nos mata...
4) A verdadeira campanha passa-se aqui na blogosfera. Que o blog de Cavaco seja uma criação da Esquerda para o (tentar) afundar, não me surpreende - não seria, afinal, a primeira vez que algo do género acontecia por estes lados. Agora associarem Mário Soares ao canalizador da Nintendo... parece-me, no mínimo, ridículo. Talvez a ideia seja dar ao candidato um ar jovial - que ao vivo não consegue transmitir de todo. Não vou criticar a idade - nas sociedades orientais, os idosos são respeitados (no Ocidente é que é o que se sabe...). Assuma-se o candidato como é. Com a idade que tem. Seria mais sério...
4) Onde anda Vieira?
João Campos

sábado, outubro 22, 2005

POEMA


Susana, criou este poema ? If so, congratulations are in order ! It quite cute !

sexta-feira, outubro 21, 2005

Lisboa



À noite, por esta hora
Lisboa veste-se de vermelho
Pinta os lábios delicados
E olha-se ao espelho

À noite, por esta hora
Entoam alto a ladainha
Os estudantes, encantados:
Outubro chegou – sê minha!

Susana

quinta-feira, outubro 20, 2005

Shagging ( Palavra obscena à brava ! Não repetir !


for me, o que as girls ( ou seriam les filles ? ) queriam era dar uma voltinha no money do rapaz e, talvez, porque não, respirar um pouco da fama dele. A não ser que o 'esgraçado se tenha entusiasmado e vai daí zuca-que-zuca-zuca- laruca ! Em princípio, porém, é só aborrecidíssima e inconveniente fumaça e as mecinhascalarão-se-ão-se.
O Xôpxôr Cavaco Silva lá descortinou o tabú ( 'Tabú' era uma marca de perfume barato, muito em voga na década de 60 ). Ele conhece isto, ele conhece aquilo, ele sabe aqueloutro, disse. O discurso de CV teve algo de Sebastianista. Tal como Sampaio, também ele quer acabar com o pessimismo dos portugueses. Muito gostava eu de lhe dar o benefício da dúvida, mas não consigo. Também eu já caí, vitimada pelo pessimismo. Bahhhh ! Cheers !

aquilo que realmente interessa(va)

Detalhes à parte - afinal o Cristiano Ronaldo não foi preso, mas dirigiu-se voluntariamente à polícia -, o mais interessante de toda esta embrulhada de alegada violação ficou por saber. Afinal, houve queca ou não?
João Campos

quarta-feira, outubro 19, 2005

Sódaaaad, sódaaaaad !

Hoje, o Xô Primeiministro levantou-se e disse: 'Ehpá, como e que vou fazer a malta largar os aumentos-de-tudo-menos-dos-salários e o orçamento e as portagens nas SCUTs ? Ah ! Eureka ! A co-incineração. Pois claro !

Ai, Xô Sócrates, bem haja ! Nós já tínhamos tantas saudades da co-incineração !

Breaking News

Segundo a Sky News aqui, Cristiano Ronaldo foi hoje detido pela polícia inglesa por alegada violação a uma rapariga a dois de Outubro, num hotel londrino. Apenas não compreendi ainda como foi a miúda parar à penthouse com o futebolista, mas há-de ser para responder a isso e a muito mais que ele está a ser interrogado.
Apenas por curiosidade - uma vez que já não seria a primeira vez que corriam na imprensa britânica boatos menos simpáticos acerca de Ronaldo, dei uma olhadela ao site do diário The Sun. A notícia lá tem um destaque de breaking new, mas não está desenvolvida. O que, penso, elimina a possibilidade de sensacionalismo (pelo menos da parte do Sun).
João Campos

terça-feira, outubro 18, 2005

Investimentos

Comprar casa? Mudar de carro? É já a seguir!

"Quase metade dos jovens portugueses (46 por cento) têm como principais objectivos ter carro e casa própria, juntamente com outros bens materiais." [sic] in Metro, 18/10/2005(aquele jornal distribuído debaixo da terra e que faz concorrência ao Destak)
Algum comentário acerca da falta de ambição dos jovens portugueses?
(TPC: descubra os erros que esta frase contém. O primeiro prémio é um micro-ondas a preto e branco)
João Campos

as bestas do apocalipse

Repenthe, sinners! The end is near! The wrath of God is falling upon us, and from His high seat He looks down on us and laughs! The birds are now the beasts of the apocalypse, bringing merciless death to the wretched souls who dared play His role! Knee, oh, knee, you miserable souls! Cry out for forgiveness! For we all shall die in agony!
Discurso ligeiramente alterado da OMS a propósito da gripe das aves. O assunto é sério - demasiado sério - para brincar, mas não será decerto o alarmismo que o irá resolver.
(Maria Helena, estou aberto a correcções. Queria ter escrito isto num inglês mais "arcaico", mas o que li de Poe e o que vi de Monty Python ainda não foi suficiente para me deixar completamente familiarizado com os "thy", "thee", "shalt" e tudo o resto)
João Campos

domingo, outubro 16, 2005

«não quero já missão nenhuma»



«Por mim, não quero já missão nenhuma,/ senão tal jogo de onda e mais onda,/ a surpresa da espuma e a profunda/ tentação de morrer em cada onda!» David Mourão-Ferreira



Susana

sexta-feira, outubro 14, 2005

Pandemia de ignorância

Aquilo que mais impressiona no panorama social luso é aquilo a que classifico de “autoridade moral oca”. Isto é, em variadíssimas situações na nossa vida social colectiva observamos, quase com olho de sociólogo em part time, os portugueses exigirem de outrem procedimentos que eles próprios nunca tomariam nem, tão pouco, colocariam como uma hipótese válida de comportamento.
Um dos quadros em que esse facto toma traços pitorescos é o caso da fuga e evasão fiscais. Se atentarmos a uma conversação entre dois cidadãos típicos que verse sobre fuga ao fisco, percebemos de imediato que para essas duas pessoas os dois únicos contribuintes sérios e pagadores são exactamente eles os dois. E que os restantes nove milhões novecentos e noventa e oito são os aldrabões que não pagam e é por causa deles que este país não vai para a frente.
Aos políticos profissionais (porque políticos amadores somos todos nós), chamam-se todos os nomes que se conseguem imaginar e até mesmo aqueles em que nunca pensamos possíveis de chamar a alguém, e rotulam-se, os políticos, com adjectivos que em muitos casos se aplicam milimetricamente aos qualificadores. Quando ouço alguém ‘varrer’ a classe política do adjectivo corrupta, numa espécie de generalização abstrata e impresisa, fico logo a pensar que essa mesma pessoa potencialmente será corrupto genética e inconscientemente. Não sei se por uma questão de pontaria minha se por qualquer outra razão que desconheço, isso se confirma na realidade. Maioritariamente verifico que em Portugal quem acusa alguém de forma vaga de algo é, normalmente, portador desse ‘algo’. Essa acusação de corrupção geral e instalada que é maximizada com a existência de jornais como o ‘Correio da Manhã’ ou o ’24 Horas’, é leviana e injusta, na medida em que, estatisticamente a probabilidade de exitirem cidadãos corruptos é a mesma em todas áeras. É uma razão de lógica matemática que o determina, e contra isso nada se poderá fazer. Para além disso verifico que as mesmas pessoas que negoceiam valores irreais nos imóveis para pagarem menos valor do antigo imposto de SISA (agora IMI) são exactamente os mesmos seres que no café com os amigos e no meio de uma golada na ‘mini’ dizem : ”O Sócrates?!? Esse é igual aos outros...mete o dinheiro ao bolso...”.
João Teago Figueiredo

Um reflexo virtual da globalização

Em Portugal, na Eslovénia ou na Islândia, os jovens preferem colocar as suas frases pessoais do Messenger em inglês.

João Campos

Uma "curte" europeia

Quanto mais leio sobre o assunto, mais penso que, em toda a questão que envolve a adesão da Turquia, a Europa anda a conportar-se como um adolescente com hormonas em ebulição. A miúda moreninha de ar simpático olhou para ele devagar, demoradamente. Sorriu. O adolescente sorriu, fez aquele sorriso "garanhão" (de como quem pensa "já estás!"), bebeu um gole da bebida e aproximou-se. Dançaram uma música descontraídamente. À segunda já se abraçaram; à terceira, os olhares cerraram-se, as línguas entrelaçaram-se. Abrem os olhos; ela quer ficar com ele, mais do que tudo. Ele hesita, pensando em antigas relações e compromissos passados. Um dia, o adolescente perceberá que o passado apenas serve para aprender a construir um futuro; não o constrói por si. Não assegura nada. Pena que quando o adolescente perceber isso, já a moreninha terá saído com outro rapaz, mais simpático. E a discoteca estará a encerrar.
João Campos

terça-feira, outubro 11, 2005

C'est la vie ...


Pois é, Johnny ! O PS 'ékstáadar' ! Quando cheguei a Odemira, estava na Câmara o dr. Justino, ( aka Dr. Justeninho, sem ofensa para o belo sotaque madeirense do antigo autarca ). Era simpático e parecia ser muito popular. Tive, até, um aluno chamado Justino, em homenagem ao dito cujo. Após dezassete anos, Justeninho saiu e foi substituído por Percheiro. Era ainda a CDU, mas já não era a mesma coisa. Cláudio não era nem é Justino. Talvez por isso, veio o PS ... que dará lugar ao PSD, quando se impuser a ideia de que, no Alentejo, há mais cores, para além do vermelho e do rosa. Mas o desgaste virá, muito rapidamente para os social-democratas, tal como tem vindo para os outros. Não nos iludamos.
Por outro lado, ao olhar para os cartazes de propaganda que enfeitam a rotunda de Odemira (aka Rotunda Ali-há-latas), pergunto-me: se todos estes senhores fossem, para mim, completos desconhecidos, eu votaria neles ? A fotografia dos candidatos socialistas mostra cinco ou seis caras, todas perdidas no mesmo tom cinzento, de onde se distinguem outros tanto pares de olhos escuros, que dão aos fotografados o ar de corujas. Os sete moços do PSD ( quais sete magníficos ) têm o ar de uma banda folclórica de província, só lhes faltando os ferrinhos, os bombos e as violas. Nunca se sabe, porém ! Talvez o Zé Gabriel seja melhor do que parece; porém, lá figura um professor, confesso adepto da 'pedagogia do estalo' como método de ensino, ( às vezes, não está sozinho, garanto-vos ... ) e, que há uns anos, tinha o curioso hábito de dizer que eram de sua autoria os trabalhos que os seus colegas professores faziam nos respectivos estágios. Por fim, a cara porcina de Percheiro também não chega a lado nenhum, mesmo que venha ao lado da carinha laroca da Piedade Barradas.
Conclusão: uma eleição não é propriamente um concurso de 'misses', mas ... novos rostos precisam-se, porque estes já deram o que tinham a dar. Enquanto a nova geração não avançar, com ideias e renovação, tirem o 'little horse' da 'rain', porque vão ter que os 'gramar' ainda por muitos e bons.
'A Geração' vem aí ! Brevemente, num simpático blogue perto de vós. Cheers !

Coisas que me chocam

Confirma-se: às seis da manhã ainda é de noite. (suspiro).

Susana

segunda-feira, outubro 10, 2005

Coisas que não se percebem

Segundo consta, lá no distante concelho de Odemira o candidato socialista venceu com maioria absoluta - para ser preciso, com 48,34% dos votos. Para mim, o Alentejo será sempre uma desilusão em eleições. O poleiro resume-se a comunistas e a socialistas. Logo, um votante mais inclinado para a direita fica forçosamente sem escolha.
Sucede que o novo vencedor não é novo - o antigo autarca venceu a sua re-eleição. Ver estes números na internet chocou-me. Nos últimos anos, que fez a câmara de Odemira - socialista - por o concelho? Gastou milhares num... marramacho (é um sobreiro feito com alfaias agrícolas; eu e os meus amigos chamamos-lhe de chaparro mecânico, e é das coisas mais pavorosas que já vi) que está em exposição numa rotunda, quando o que não falta são casas mais isoladas sem luz eléctrica. Pavimentou e repavimentou a ligação Odemira - Aljezur, quando a estrada (ou estradas) municipal que liga a aldeia da Boavista dos Pinheiros a Sabóia continua, desde há anos esquecidos, digna de um circuito de rali. Deixou o meu bairro (social, note-se, de projecto camarário) sem luz eléctrica durante dois anos, e sem arruamentos dois anos e meio - com pessoas a viver lá desde Setembro de 2003 (segundo parece, em Luzianes-Gare a coisa prolonga-se). Encheu a Câmara Municipal de funcionários para tudo e mais alguma coisa - mas que são mais facilmente encontrados nos cafés da vila à hora do expediente do que atrás das suas secretárias. E muitas histórias ficam, algumas mal contadas - como aquela acerca da utilização das verbas de subsídio para as cheias de '97.
Basicamente, e por o trabalho que vi nestes últimos anos - e, sobretudo, pelo trabalho que não vi -, a câmara socialista em Odemira resume-se na seguinte expressão: uma merda. E venceram, com maioria absoluta. Não consigo perceber. Transcende-me. Das duas, três: ou as obras de campanha eleitoral resultaram mesmo; ou a rede familiar de funcionários camarários é ainda maior do que julgava; ou as duas. O que levou as pessoas do concelho a votar naquela nulidade é algo que me intriga. Talvez seja caso para citar Cristo, aqui: perdoai-lhes, Senhor, porque não sabem o que fazem.
Diz-se que o povo tem os políticos que merece. Pelos vistos, a frase aplica-se que nem uma luva em Odemira.
João Campos

Devaneio à Groucho II











- A faltar às aulas, Susana? Que é lá isso?
- É outro dos efeitos que você tem em mim, Outono: vontade de não sair de casa.
- Está outra vez a ser desagradável.
- Olha quem fala!
- Mas, ó Susana, não está assim tanto frio.
- Não é nada disso. Você é feio, pronto.
- Mas se ainda ontem dizia que me achava bonito!
- Com o devido respeito, Outono, você já se viu ao espelho hoje?
- O mesmo lhe pergunto eu a si.
- E eu respondo-lhe que sim. Se estou com cara de sapo é porque, na verdade, dormi de mais.
- Está a ver? Devia era ter acordado às seis da manhã e ter ido às aulas, como estava previsto.
- Às seis da manhã ainda é de noite, Outono. Ainda sou mas é assaltada, se me ponho a andar na rua a essa hora.
- Tem de começar a habituar-se. Olhe que já tem idade para se acostumar a essa rotina.
- Oh oh oh. Ironia para cima de mim não!
- Não estava a ser irónico.
- Olhe, Outono, o que eu acho é que a gente não se entende. Se me der licença, eu vou ali à mercearia.
- Mas não tinha dito que não sairia de casa nem para ir às aulas?
- Apetece-me um chocolate.
- Ah, bom!

Susana

domingo, outubro 09, 2005

Devaneio à Groucho*



- Olá, eu sou o Outono.
- Olá, Outono.
- ...
- ...
- Então, surpreendida?
- De maneira nenhuma, Outono. Já me tinham dito que chegava hoje.
- Então que história foi aquela de andar a dizer a toda a gente que não ia chover até ao final do ano? Sabe, Susana, os seus amigos não vão gostar nada de saber que lhes andou a mentir.
- Não tenho culpa, ouvi na Rádio.
- Qual Rádio?
- Numa qualquer.
- Já leu o que o seu colega e amigo Carlos escreveu aí em baixo? As aulas começam amanhã.
- Já li, já.
- E então?
- Olhe, Outono, isto agora não vai poder ser. É que eu tenho de ir votar.
- Então e vai votar em quem?
- Que lhe interessa isso?
- Nada, na verdade. Estava só a tentar fazer conversa.
- Pois, mas eu agora tenho mesmo de sair.
- Ainda tem o dia todo, Susana. Porque não fica mais um pouco?
- Não vai mesmo poder ser, Outono. Tenho coisas para fazer mais tarde. Para além do mais, você deprime-me.
- !
- Não é que não seja bonito, nada disso - bem sabemos como bastam coisas destas para me deixar bem-disposta. Mas isto de já ser noite às sete e meia da tarde... E não vê que já não posso andar na rua de chinelos por sua causa?
- ...
- Pois é. Bom, deixe-me lá calçar os sapatos para ir ali à escola.
- Bate leve, levemente, como quem chama por mim...
- Que diz?
- Será chuva, será gente...
- ?
- Gente não é certamente...
- Oh homem, ganhe juízo!
- E a chuva não bate assim.

Susana

* Mas sem metade da piada, evidentemente.

sábado, outubro 08, 2005

Tipologia do aluno


"Trazem sempre os cadernos imaculados, com argolinhas nas folhas que teimam em cair. O seu estojo é um sarcófago de canetas multicolor e borrachas que nunca se gastam. Não escrevem nos manuais para não "estragar". Sublinham os sumários com cores diferentes consoante a disciplina ou o dia da semana. Perdem tempo, no fundo, com uma multiplicidade de tarefas desnecessárias que servem para encobrir o facto de nada terem para dizer ou acrescentar ao que é dito na aula. Fazem os exercícios a medo, e quando são chamados a responder lá vem a vozinha sumida, entre a quebra de tensão e o enjoo, e a medo respondem qualquer coisa."

Nest post, Gold descreveu os alunos de CE da ESCS e nem se apercebeu!
Susana

Erro irreversível


Alguém que, de uma vez por todas, explique aos responsáveis pela RTP1 que Irreverssible não é um bom filme para se passar na televisão pública, s.f.f.
Obrigada.
Susana

Ecos


À noite, por esta hora, até as ruas fazem eco.
Susana

quinta-feira, outubro 06, 2005

Precisando (ou Enquanto eles praxam)


Ao longo desta semana, prestes a terminar, tem decorrido na Escola Superior de Comunicação Social a chamada Semana de Praxes. O facto de lá ter estado hoje a assistir ao ritual e a leitura que acabo de fazer de um artigo publicado no nº 1 do Oitava Colina leva-me a proceder a uma (simples, clara, óbvia) precisão (tão simples, clara e óbvia que chega a ser inútil).
Afirma-se, no referido artigo, que na ESCS “[...] há uma hierarquia mais ou menos clara entre os estudantes. O vértice superior da pirâmide é ocupado por quem frequenta a escola há mais tempo, a base pelos alunos do 1º ano, os caloiros” (p. 20). “Uma coisa que é preciso perceber é que há uma hierarquia” (p. 20), terá dito a douta-veterna (é assim que se escreve?) Cláudia Soeiro às jornalistas responsáveis pela peça. Ora, isto pode muito bem ser verdade em contexto de Praxes (às quais, felizmente, só adere quem quer). O que não pode é ser confundido com o estatuto oficial de estudante do chamado “caloiro”.
A verdade é que, dentro do universo do Ensino dito Superior, não há nada que distinga um aluno que tem duas ou mais matrículas de um aluno que se matricula pela primeira vez. Perante a Escola ou a Faculdade, perante os órgãos de gestão e órgãos científico-pedagógicos, perante os serviços e gabinetes, perante os professores, seguranças e funcionários responsáveis pelas salas e pelo material, a diferença entre um “caloiro” e um “douto-veterano” é nenhuma. Se os senhores douto-veteranos pagaram as propinas, parabéns – os caloiros também as terão pago, com certeza. O que faz deles alunos da escola exactamente na mesma medida que os alunos que se vestem de capa e batina (com direito a usar elevador e tudo). Em termos de direitos e de deveres institucionais, “caloiro” e “veterano” são exactamente iguais. Ou seja, têm o mesmo estatuto.
É por isso que não se pode falar numa “hierarquia entre os estudantes”, quando essa hierarquia não passa de uma ficção criada pela Comissão de Praxes (CP) para “apavorar” os novatos. Na verdade, nada os distingue. Não há cá vértice nem base de pirâmide nenhuma. Se lhes dá jeito falar em “hierarquia”, que tenham ao menos o cuidado de aplicá-la apenas à CP, em vez de estendê-la à escola inteira.

Susana


Nota: Não tenho nada contra a CP. Aliás, até acho que eles ficam muito sexys dentro do traje, e elas muito elegantes (o que se torna muito agradável à vista, sentido que deveras prezo). E até me consegui divertir razoavelmente à custa dos pequenos eventos que foram organizando ao longo do dia. Mais: até sei que não lhes estou a dar novidade nenhuma, que eles bem sabem que, fora do contexto de Praxes, nada os distingue dos chamados “caloiros” (o que, aliás, é bem demostrado ao longo do ano lectivo). O que se pede é um bocadinho mais de precisão nas cabeças e nas palavras. (“Tu e o raio da precisão”, dirão alguns. Tenho esta mania, que querem?).

quarta-feira, outubro 05, 2005

'Ó xôr Primeiministro, não dê ideias à 'balta' !




Povo ! O 'inginheiro' Sócrates disse hoje 'que até achava que os portugueses não estavam a protestar com muita força, que, em democracia é normal protestar, e mais não sei quê. Ah, sim ?! O ké isto ? O homem quererá greve geral ? Sendo assim, que tal engrevidarmos todos ! O texto 'A Geração' está mesmo quase. Brevemente, num simpático blogue perto de si. Cheers !

Com bacon, cogumelos, pepperoni e azeitonas, s.f.f.

Quando um tipo (como eu) vive mais ou menos sozinho, e se tem de preocupar em pagar contas, limpar a casa, lavar roupa, lavar loiça e, sobretudo, cozinhar, o número de telefone que mais jeito dá ter à mão é, sem dúvida, o da Pizza Hut.
João Campos

Wow!

"Margarida Rebelo Pinto sempre se queixou da incompreensão e da indiferença do meio literário. Com alguma razão, reconheça-se. Afinal, é a escritora mais lida em Portugal, vende dezenas, centenas de milhares de livros, e a crítica literária, ocupada no seu próprio tédio, nunca tem tempo para a ler. Ignora-a. Não faz o seu papel, não emite opiniões fundamentadas e especializadas. É inaceitável, por exemplo, que os portugueses, pelo menos aqueles que a lêem, se vejam privados das solenes meditações de um António Guerreiro ou de um Manuel de Freitas, isto para referir apenas dois nomes, dos mais destacados, que representam as últimas gerações da crítica literária jornalística. Ora isto é de uma injustiça feroz. Perante tal situação, perante a crónica incapacidade dos críticos para lidar com obras de inusitado êxito comercial, decidi mergulhar, de cabeça, na obra completa de Margarida Rebelo Pinto, até agora oito livros: cinco romances – Sei Lá (SL), Não Há Coincidências (NHC), Alma de Pássaro (AP), I’m in Love with a Pop Star (LPS), Pessoas Como Nós (PCN) – e três colectâneas de crónicas e minificções publicadas em jornais e revistas – As crónicas da Margarida (CM), Artista de Circo (AC) e Nazarenas & Matrioskas (NM). Todos eles foram lidos, relidos, minuciosamente sublinhados, rabiscados e anotados nas margens, as páginas dobradas, amarrotadas e vincadas."

E eu que me achava uma valentona (como dizem os brasileiros) por ter entrado em Carcavelos este fim-de-semana! João Pedro George sim, é corajoso e valente! Eis o resultado. Bravo!

Susana

segunda-feira, outubro 03, 2005

Os miseráveis


Recentemente li, algures, uma interessante referência ao romance de Victor Hugo e meti na cabeça (ingénua mas decididamente) que havia de o ler ainda antes de começarem as aulas. Esta manhã fui à Biblioteca Municipal e peguei, pela primeira vez, num exemplar. E toquei de perto o assombro. E deixei-o ficar.
Susana

Apagão

Durou aproximadamente 30 minutos e afectou toda a zona onde vivo. Breve mas exemplar, o silêncio involuntário.
Susana

Not right

Queixo-me do preço do bilhete de comboio, e de autocarro, mais de 4 euros (na moeda antiga, quase mil escudos) para ir a Benfica e voltar, um absurdo. Dizem-me, com grande naturalidade, que não se percebe do que me queixo, que “é o normal”. Queixo-me do mau funcionamento dos Serviços Académicos da ESCS em período de matrículas, do que aconteceu na passada sexta-feira (longo tempo de espera, atendimento brusco), do calendário escolar 2005/2006, que volta a “roubar-nos” metade do Verão, e agora também aquela semana de interrupção antes da época de frequências e exames (o jeitão que dava para fazer apontamentos...). Respondem-me, na maior das descontracções, que não se percebe do que me queixo, que noutras faculdades é a mesma coisa ou ainda pior. Queixo-me dos abusos dos rapazes/homens que se passeiam à noite pelas ruas animadas do Bairro Alto*, de garrafinha de cerveja SuperBock na mão, muito compostos de traje mas cambaleando já, por vezes tropeçando, cuspindo palavras atrevidas para cima das raparigas, mulheres. E ouço exclamar, como quem diz o que há de mais óbvio: “Helloooooooo! ‘Tás em Portugal, que queres? É normal”. O mesmo me dizem se me queixo deste ou daquele político...
Das duas uma: ou as pessoas ainda não se aperceberam de que a norma está errada e, por isso, a aceitam com a serenidade com que nos cabe aceitar o que está certo, ou então sempre o souberam e já se conformaram. E embora consiga, com algum esforço, perceber a primeira, não há maneira de conseguir perceber a segunda.
Susana


* Não sou grande fã, verdade seja dita. Lost in Lisbon engana-se: não é a única.

domingo, outubro 02, 2005

A enfermeira

M. punha nela os olhos magníficos e lá estava a enfermeira maravilhada e a perceber a traição que seria magoar aquele rapaz. “Não tenhas medo que não dói nada”, dizia, enquanto se preparava para lhe espetar no braço uma agulha dolorosa.
M. sentia-se, subitamente, tranquilo. Via-a sorrir com (aparente) gosto e supôs que lhe dizia a verdade. É tão fácil enganar uma criança.
Susana

Exemplar

O melhor telejornal da televisão portuguesa é, sem dúvida (minha), o da 2. Tem início às 22 horas (o que, pessoalmente, me convém) e a duração de aproximadamente 30 minutos, tempo mais que suficiente para transmitir o que é importante. Ou seja, a informação.
Susana

Tentativa de definição

O machismo é uma reacção baseada no preconceito. O feminismo é uma reacção contra o preconceito.
Susana

"O meu CV é maior do que o teu"

Isto a propósito da recente polémica entre alguns blasfemos, Paulo Querido, Afixe e eventualmente outros blogs:
1) nesta discussão, tão baixo foi mencionar os currículos quanto exibi-los. Subitamente parece que voltamos ao velho argumento de Louçã. Opinar, opina quem quer. A validade dos argumentos é outra questão. Ter um currículo bom ou mau, no fundo, pouco quer dizer alguém. Nem sequer se o tem com mérito ou não (atenção: isto não é provocação). O que o currículo não pode ser é arma de arremesso em discussões de egos - mas é.
2) mais cedo ou mais tarde, as provocações a propósito da escrita surgem como arma. Sobre isto, duas considerações: 1) só dá erros quem escreve, e só é possível acusar alguém de ter cometido um erro de ortografia, semântica e sintaxe se o texto for tornado, de algum forma, público; 2) "quem nunca pecou que atire a primeira pedra". E até parece que voltamos ao maldito argumento do Louçã.
3) Não conhecia Paulo Querido nem o Afixe. Leio o Blasfémias desde que entrei na blogosfera. Não serão as acusações de falta de credibilidade, os erros de ortografia, as incoerências que inevitavelmente surgem que me farão deixar de ler os blasfemos. Da mesma forma que não serão estes motivos - ou outros - que me farão começar a ler os outros.
João Campos