terça-feira, março 27, 2007

Mas...

... agora que leio pela blogosfera detalhes sobre a forma como Ana Gomes e a inenarrável Odete Santos - provavelmente, a única personalidade política que, no dia-a-dia, consegue superar a sua boneca do Contra-Informação - abrilhantaram o show de ontem, até estou vagamente arrependido de não ter assistido à Gala dos Grandes Portugueses. Chatice, pá, alguém estava na sala a ver a Bela e o Mestre (...). Pode ser que apanhe uma repetição, mas creio que a sensação deve ser a mesma de ver o Benfica de 1993 jogar na RTP Memória.

Ou então não. É que ver aquela equipa até dá um certo gozo.

João Campos

segunda-feira, março 26, 2007

O Grande Português

Salazar ganhou os Grandes Portugueses. Prestasse-me eu a tais delírios telefónico-televisivos, e também nele teria votado - estando impossibilitado de votar em Viriato, meu herói pátrio de estimação, ao menos sempre daria o meu dinheiro por bem empregue, nem que fosse apenas para amanhã poder ler artigos furibundos em jornais e blogues, ou para me divertir com o silêncio dos mesmos blogues e comentadores da imprensa.

Julguei, inicialmente, que Salazar ganhasse pela polémica que a sua não-nomeação inicial gerou. Mas iludo-me - tivesse o nome do ditador figurado na lista inicial e os mesmos que tanto criticaram o documentário de Salazar teriam barafustado. Como podia, afinal, num estado democrático premiar-se um ditador? A polémica teria estalado à mesma, apenas por outro lado. Há pessoas que não sabem mesmo ficar caladas quando devem.

E, de resto, que se esperava? Salazar ganhou - democraticamente, note-se a ironia - um concurso feito à sua medida. Ou querem ideia mais salazarista do que a de eleger o maior português da história? A polémica inicial, bem como a diabolização do documentário, apenas ajudaram à festa. Mas neste tema, quem tem mesmo razão é Henrique Burnay, no 31 da Armada:

A vitória de Salazar não é merecida, é lógica. Salazar não foi o maior português, mas o tempo de Salazar foi um tempo de portugueses. Por mais que nos custe aceitar, o Estado Novo não foi uma monstruosidade imposta, é um episódio da nossa História. Nos gostávamos de ser heróicos como Camões, visionários como o Infante, generosos como Aristides Sousa Mendes, únicos como Dom Afonso Henriques. Não somos. Somos malandros, somos mesquinhos, somos medíocres, temos inveja, gostamos do respeitinho e de violar as regras pela surra. Somos o que de pior há em nós e que nos fez fazer o que fizemos. É pena, mas o Estado Novo fomos nós. Por isso é que a vitória de Salazar é merecida. Era bom sermos diferentes, não somos. O entusiasmo de quem votou em Salazar – para lá dos que votaram pelo gozo fino de ver a elite embaraçada – é um entusiasmo mesquinho. Se pedissem aos votantes em Salazar que desfilassem na Avenida não encheriam um passeio. É pena, mas somos assim.

Nem mais.

sexta-feira, março 09, 2007

A responsabilidade individual é só para alguns

Por mais estranho que seja, assumo: concordei na íntegra com um post do Daniel Oliveira, sobre o tabaco e as novas leis que por aí vêm. Seguem-se alguns comentários à caixa de comentários - passe a redundância - do respectivo post:

De facto, o ideal seria essa discriminação positiva, dando liberdade ao mercado de se ajustar e definir públicos alvo. O problema é que nenhum dono de um café se vai chegar ao pé de um cliente que esteja a fumar e pedir-lhe que não fume ali, mesmo sendo um local para não fumadores. Ou seja, ficaria tudo na mesma... [José]

- Não é verdade. Aqui mesmo ao lado da minha casa em Lisboa tenho um exemplo disso. Fui lá uma vez tomar café com uma amiga - espaço limpo, bem decorado, com óptimo aspecto. Pedi um cinzeiro, resposta categórica: "neste estabelecimento não é permitido fumar". Possivelmente, dir-me-iam como resposta a isso "e aposto que é o único que conheces". O que não quer dizer que seja o único que exista. E, de resto, a questão intriga-me: se há tanta gente descontente com o fumo em restaurantes e bares, então o nicho de mercado deve ser (imagino) os clientes fumadores. Certo? Têm, então, medo de o mercado se auto-regular?

Quando a nova lei for aplicada, passara a ser considerada tao normal como o status quo atual. Ninguem se queixara de nao poder fumar num restaurante, tal como atualmente ninguem se queixa de nao poder fumar dentro do metropolitano ou de um autocarro. Toda a gente achara normalissima a proibicao de fumar nos restaurantes, tal como toda a gente acha normalissima a proibicao de fumar nos comboios e avioes. E so uma questao de habito. [Luís Lavoura]

- Está bem. Apesar de achar a comparação entre meios de transporte e um restaurante - ou, melhor ainda, um bar - um tanto ou quanto curiosa. Sim, porque está provado que as pessoas têm uma necessidade vital de ir a um bar, mas só andam de metropolitano ou de avião por capricho. O problema da lei é que com ela, está uma vez mais o Estado-Regulador a interferir na vida privada das pessoas - e, para começar, na vida de quem tem um restaurante e não estava minimamente interessado na proibição de nele se poder fumar. Os fumadores agora regozijam, mas quando o Estado-Regulador apontar as baterias para algo que já lhes diga respeito, logo vemos como elas mordem.

Durante muitos anos, infelizmente, os fumadores recusaram se, militantemente, a compreender este facto trivial - que ao fumarem estao a incomodar os outros. Infelizmente, entao, tem que se fazer uma lei para os obrigar a compreender o facto trivial. E pena que se tenha que fazer leis para obrigar as pessoas a compreender coisas que elas deveriam compreender e aceitar sem a necessidade de leis.[Luís Lavoura]

- Pois é, pá. Que chatice, ter de fazer leis para os assaltos e para os homicídios, não é?

Uma (boa) parte dos fumadores são completamente incivilizados (completo desrespeito por terceiros...).[Tiago]

- Uma boa parte dos não fumadores são tão civilizados e altruístas que, por eles, nem zonas para fumadores existiam.

Já pensaram nos trabalhadores dos locais onde se fuma? São obrigados a ficar com o cancro dos outros... Se houver lugares públicos onde é permitido fumar, quem lá TRABALHA fica exposto. É também uma questão de direitos laborais.[Tiago]

- É meramente uma questão de escolha individual. A questão é, se houver possibilidade de escolha - isto é, de o dono de um estabelecimento decidir se é permitido fumar lá ou não -, então há espaço para trabalhadores que não podem ou querem levar com o fumo dos outros, para aqueles a quem a questão é indiferente e para aqueles que querem - talvez porque fumem ou por outro motivo qualquer.

por que é que o patronato tem que subsidiar esse tipo de actividades tendo salas especificas (custo de espaço e ar condicionado)? Em última análise isso seria um benificio que os fumadores teriam em relação aos não fumadores. Enquanto não fumador gostaria de ter em compensação o valor desse benificio reflectido no meu salário.[Tiago (este senhor é um diamante em bruto]

- O benefício que o senhor tem é uma vida mais saudável enquando os dementes viciados em nicotina têm a sua pequena leprosaria. Como disse, e bem, o Daniel Oliveira, isto é mesquinhice. Da mais rasteira, acrescento eu. Apenas vem provar o que está realmente em causa nesta questão...

Não concordo com a diabolização dos fumadores. Mas também não aceito que me tratem a mim, e aos que partilham da minha opinião, como uma flôr-de-estufa apenas com vontade de chatear os outros. É frequente que resvale nisto a posição dos que fumam (não que seja esta a posição expressa pelo Daniel).[Hugo Carreira]

- Tal como é frequente que a posição dos não-fumadores resvale na diabolização dos fumadores.

O fumar só poderá ser um direito individual qd os fumadores assumirem o pagamento integral das doenças que essa "liberdade" lhes causa. Enquanto for o Estado a subsidiar a 100% o tratamento do canro do pulmão, não se pode falar de um direito individial, uma vez que ele tem consequências colectivas.[Vitor]

- Por acaso tem alguma noção do valor dos impostos sobre o tabaco? E sobre o caminho desses impostos? Considerando o Serviço Nacional de Saúde que temos, e do qual já fui vítima várias vezes, essa questão é completamente irrelevante.

O Sistema de Saúde Alemão, baseado em Seguros de Saúde, está a caminhar no sentido de exigir aos doentes que apresentem esse tipo de doenças, maiores co-pagamentos, e essa vai ser a evolução no futuro, quer isso agrade ou não aos adeptos de comportamentos de risco. Não é só sexo sem preservativo que é comportamento de risco. Fumar também é. Toda a gente sabe. Logo não é justo que sejam os não fumadores ( a maioria dos cidadãos) a financiar as consequências dos ditos "direitos e liberdades" aos vícios individuais.[Vitor]

- O que é curioso é que eu até concordo com isto. Mas é evidente: fumar faz mal, toda a gente o sabe. Logo, quem o faz está a fazer uma escolha consciente e, por isso, sabe que ao fazê-lo, poderá sofrer determinadas consequências. Por conseguinte, deverá assumir a total responsabilidade por elas - no caso, pagar do seu bolso todo e qualquer tratamento de doença provocada ou agravada pelo consumo de tabaco. Não podia estar mais mais de acordo. Veja lá que concordo tanto que até acho que foder - para chamar as coisas pelos nomes - é um acto que deriva da escolha pessoal e consciente de cada um, sendo que quem fode sem precauções sabe que pode apanhar uma doença sexualmente transmissível ou engravidar (no caso das mulheres). No entanto, está para breve o aborto no SNS; e, para o caso, a gravidez indesejada é exactamente como um cancro de pulmão: uma consequência de um comportamento do qual se sabiam muito bem as consequências. Pede-se responsabilidade para os fumadores, mas não para quem anda a foder sem cuidado nenhum? Não me fodam.

Razão, razão, têm os Marretas:

PELA NOSSA SAÚDE
Para ser coerente, o Governo tem proibir o fumo em salas de chuto com menos de 100 metros quadrados.
STATLER

João Campos