Danielle Vargas deixou o seguinte comentário a
este meu texto:
É interessante, como brasileira, ler as tuas opiniões. Primeiro, porque achei absolutamente carinhoso saber que alguns portugueses torcem por nós. Aqui, no Brasil, falava-se pouco sobre a seleção portuguesa; mais sobre o Felipão, nosso ex-técnico.Hoje, falamos da Argentina ("nuestros hermanos", sim, e eternos rivais no futebol) e dos times com bons resultados; claro que com Portugal nesta lista. Agora sei até quem é Christiano Ronaldo, apesar de não acompanhar tanto o futebol.Ri muito ao ler sobre os gritos de brasileiros. Teve algum sambinha por aí? Não sei a tua idade, imagino uns 50, mas se experimentares um samba de Chico Buarque, vais alegrar este coração. Aliás, perdôo o puritanismo gramatical, mas não o de alma.Beijos!!!Cara Danielle, não são "alguns" portugueses, mas quase a nação inteira (excepto eu, ao que parece). Mas, bem vistas as coisas, até se compreende: a França invadiu-nos no século XIX, a Alemanha até o queria fazer aquando da Segunda Guerra Mundial; da Espanha nem vale a pena falar. E quanto à Inglaterra, apesar de aliada secular, também nos tramou algumas vezes (recorde-se o Ultimato de 1891). Até o nosso hino nacional, veja lá, foi escrito com marca de ódio aos ingleses (na última estrofe, o original não continha "contra os canhões, marchar, marchar", mas sim "contra os bretões, marchar, marchar". Isto o povo português adora desmoralizar-se e dizer mal de si mesmo e do seu rectângulozinho de terra à beira mar plantado, mas quando são o estrangeiros a dizer mal, sobe-lhe o patriotismo ao nariz e está a burra nas couves). E pronto, os restantes países ficam demasiado longe, ou são demasiado diferentes. Os suecos, demasiado louros. A lasanha italiana não se compara ao cozido à portuguesa. Os argentinos foram colonos espanhóis. E o Gana.... bom, mais de metade do país (bem mais de metade) não faz a mais pequena ideia onde se situa o Gana num mapa do continente africano. Do Brasil, ao menos, conhecemos quase todas as novelas da Globo. E importámos os hábitos de Carnaval (mas aqui, quando é Carnaval estamos em pleno Inverno, por isso os "sambódromos" são sempre mais molhaditos e um tudo-nada mais frios).
Mas samba não houve pelas ruas. Pelo menos, os brasileiros do meu quarteirão ficaram-se pelos gritos e pelas buzinadelas. Mas também, sempre que Portugal ganha é uma chinfrineira ainda pior. E mais irritante.
Samba não ouço, porque não gosto (também não gosto de fado ou de Tony Carreira, e sou português). Não o danço também, até porque consigo tornar qualquer passo de qualquer dança num movimento digno de um sapo dentro de uma máquina de lavar roupa em centrifugação. Chico Buarque? Não aprecio; de música mais "calma", prefiro Marisa Monte, Adriana Calcanhotto e algumas de Rita Lee. Mas do Brasil musical, ficará sempre na memória os grandes Mamonas Assassinas, que infelizmente faleceram num desastre de avião quando vinham actuar a Portugal. E, claro, a memória dos grandes Sepultura. Por agora, tenho de me ficar pelos Soulfly, que são bem bons (o Max é genial ao vivo, vi-o em Maio). E, claro, pelos lendários Ratos do Porão. O puritanismo é meramente gramatical, acredite!
Cinquenta anos? Vinte e um, apenas, e ainda quentes da festa da semana passada. Mas sei que a barba irregular e o cabelo desalinhado por vezes dão-me uma aparência um pouco mais velha. Mas, enfim, agradeço-lhe o facto de não me ter interpretado mal, até porque o texto criticava os portugueses, e não os brasileiros (assim por acaso, um jantarinho de picanha até nem ia nada mal...).
Cumprimentos e volte sempre! Beijos,
João Campos