quarta-feira, julho 04, 2007

Destino























Ranking da Bertrand das Amoreiras. Quando isto acontece, temos o país condenado.

João Teago Figueiredo

sábado, junho 09, 2007

Querem ver se põem o país inteiro a voar daqui para fora, é o que é

Vital Moreira parece descontente com a possibilidade de haver um novo estudo sobre as localizações do novo aeroporto de Lisboa. Da mesma forma, parece incomodá-lo o facto de querer entregar esse estudo primeiro ao Presidente da República. Parece que, segundo Vital Moreira, está aqui em causa a separação de poderes, e que o "órgão competente para decidir a localização de aeroportos é o Governo"[sic].

Não sou constitucionalista, nem li muito da nossa Constituição, mas não vejo onde esteja aqui em causa a separação de poderes. Mais esteve quando um juiz do TC salta para Ministro de Estado, mas nesta altura creio que Vital Moreira nada disse. Ora, o Presidente da República tem, ou costumava ter, direito de veto. Precisamente por isso os estudos sobre a Ota e sobre localizações alternativas devem ser do seu máximo interesse. Porque, caso os estudos indiquem claramente que a Ota não é a melhor solução, há que por fim ao autismo do Governo. E para isso, só mesmo o Presidente da República. Claro que essa possibilidade - de o PR inviabilizar a Ota - deve ser aterradora para um socialista que se pre

Quanto ao Governo ser o órgão competente para decidir a localização de aeroportos, eu recordo a Vital Moreira os brilhantes discursos de Mário Lino e de Almeida Santos. Há ali competência mesmo?

Quanto a mim, que sou leigo, creio que a melhor solução seria mesmo Portela+1. Para além de deixar de se colocar o problema da economia da cidade de Lisboa, poupavam-se uns belos milhões. Que poderiam, por exemplo, ser investidos num qualquer concelho do "deserto" a sul do Tejo.

João Campos

sexta-feira, junho 01, 2007

Ah, o belo do flaming II

Caro anónimo. Ou melhor, caro Zé. É um bocado chato estar a tratar alguém por "anónimo", e como insiste em não assinar o que escreve (é um fenómeno deveras curioso, o dos anónimos da blogosfera que comentam, discordam, insultam,e criticam, escondidos debaixo da capa do anonimato, bloggers cujos textos são assinados), recorro a esta solução de compromisso. Como é um nome razoavelmente comum, pode ser que acerte. Adiante. Caro Zé: agradeço os parabéns, mas com esta não posso ir ao Guiness, já que houve pelo menos uma nota mais alta, no mesmo trabalho, na turma. 17, se não me engano. Sim, sou novinho - não um "bebézinho", mas ainda me posso orgulhar da minha juventude. Que a câmara de Odemira faça imensas coisas, não duvido. Que essas coisas constituam prioridades já é outra questão bem diferente. Para ilustrar esta situação, passo a publico novamente um artigo que escrevi há três anos, no meu primeiro blog (entretanto fora da rede):

[Sabóia] É uma terra simpática. É pena que esteja tão abandalhada. É que é mesmo esta a expressão: abandalhada. Sim, porque graças a Deus, temos uma Câmara Municipal que se preocupa muito connosco e com o nosso bem-estar!
Passo a explicar os motivos que me fazem falar da Câmara Municipal de Odemira de forma tão irónica e depreciativa, no que à minha aldeia diz respeito:
Chegar a Sabóia é um sarilho. Temos a EN 123 que, em território alentejano, quase parece um pista do circuito nacional de rallies (quando passamos para o lado algarvio, na Serra de Monchique, deparamo-nos com uma estrada excelente; a diferença é como a do dia para a noite, ou da água para o whisky). E temos a estrada municipal, que liga Sabóia à Boavista dos Pinheiros. Nem falo desta estrada, porque dificilmente encontrarei no nosso léxico palavras que a descrevam. Se têm amor aos vossos carros, keep away!
E depois há os engenheiros e empreiteiros ao serviço da Câmara, que são uns tipos com visão. E com jeito para a coisa. As estradas são péssimas, cheias de buracos (correcção: não há, na minha zona, estradas com buracos. Temos, sim, buracos com bocadinhos de estrada lá pelo meio, bem escondidos para passarem despercebidos). E, quando alguém se lembra de fazer obras para melhorar as coisas (após milhões de interjeições proferidas pelos desgraçados dos condutores que por lá conduzem), o que faz? Arranjam a estrada como deve ser? Não. Enchem os buracos com uma mistura de alcatrão e gravilha. Resultado: em vez de buracos, passamos a ter lombas irregulares (segunda correcção: deixamos de ter um buraco com estrada para ter uma lomba com estrada à mistura). Escusado será dizer que os condutores não circulam muito depressa por lá.
Outro talento natural dos manda-chuva lá do sítio manifesta-se na área da construção civil. Vamos a um exemplo prático? Há tempos começou a ser construída a segunda parte do Bairro Social de Sabóia (onde agora tenho uma casita). Como o terreno era inclinado, teve de se recorrer a uma terraplanagem. Demarcaram-se os lotes, que foram sorteados e atribuídos. Até aqui, tudo bem.
Segundo os poucos conhecimentos que tenho de planeamento e urbanização, creio que as coisas se costumam processar, normalmente, assim: após a demarcação dos lotes, e todos os procedimentos legais (e que, de acordo com a boa tradição portuguesa, são tão burocráticos que não lembram ao Menino Jesus), entram em acção as equipas de construção camarárias, que fazem os arruamentos, saneamento básico, rede de distribuição de água e electricidade. Os equipamentos para a rede telefónica são preparados para a empresa responsável. As ruas são dotadas de passeios pedestres e iluminação. E somente depois disto tudo é que os diferentes empreiteiros pagos pelos donos dos lotes entram em acção e começam a construir as habitações.
Pois. Evidentemente que nada disto aconteceu lá. Porque duvido que alguém naquela Câmara (que deve ter três vezes mais funcionários do que necessitava para funcionar a 100% - típico dos socialistas) alguma vez tenha ouvido falar em planeamento e ordenamento urbano. No meu bairro, a Câmara não mexeu uma palha. Mal os lotes foram sorteados, os diferentes empreiteiros foram para o local construir as residências. O que foi muito curioso: estavam algumas casas quase prontas, e ainda nem os esgotos estavam a começar a ser feitos. A CMO, para não dar muito nas vistas, e até porque os primeiros "colonos" (entre os quais me incluía eu e a minha família) estavam a chegar ao local, mandou construir o saneamento básico e a rede de distribuição de água. E mais nada, até à data da minha visita ao local, a 29 de Fevereiro do corrente ano. Ou seja: desde Setembro de 2003 que moro numa casa sem telefone e que só tem electricidade porque o Presidente da Junta de Sabóia – por sinal, o empreiteiro que construiu a casa – colocou lá aquilo a que nós chamamos de "luz de obra". Mas o quadro eléctrico é evidentemente fraco para servir quatro habitações (construídas e habitadas até agora), o que faz com que ele dispare de por acaso a minha mãe e a vizinha de baixo ligarem, de noite, as máquinas de lavar roupa ao mesmo tempo. Iluminação na rua, só em noites de céu limpo e lua cheia. A rua não existe – é terra batida, ou seja, poeira de Verão e lama de Inverno. Passeio pedestre junto à porta? Era bom, era. A borda do passeio já está feita. Mas o enchimento geral não. É um buraco. Ou melhor, um fosso (aquilo parece quase um castelo medieval). Tivemos de construir estrados de madeira para conseguirmos colocar o carro na garagem e para entrarmos em casa sem nos enfiarmos fosso adentro. Positivo.
Cada fim-de-semana que vou a casa é uma descoberta. A expectativa é sempre grande: "será que aqueles gajos já fizeram alguma coisa?" Desde Outubro, esta é a minha desilusão quinzenal.
Claro que as coisas não vão ser sempre assim. Quanto muito, seis meses antes das eleições a Câmara, numa cruzada pelo voto, manda para o terreno as suas tropas e deixa aquele bairro num brinquinho. Bom, mesmo, era que houvesse eleições autárquicas de seis em seis meses. Assim, aquela cambada estava sempre a trabalhar.

Não sejamos, no entanto, injustos: a situação já está resolvida há algum tempo. Desde, se não me engano, 2005. Com as eleições autárquicas a aproximarem-se, e até porque há tachos a manter, lá foram, como bem escrevi em 2004, os paladinos da câmara tratar de por o bairro municipal num brinquinho. E puseram, de facto. Electricidade, arruamentos, iluminação de qualidade - sem ironia, aqui. A rotunda de Sabóia foi arranjada, e a estrada até à Boavista também, e como deve ser. Veja lá, a dita estrada, pela primeira vez em tantos anos de existência, soube o que eram sinais de trânsito, rails e traços contínuos! Mas - e aqui está o busílis - foi arranjada apenas até à ponte antes do Monte Sobreiro. De lá até à Boavista continua miserável. Lá está, entretanto as eleições aconteceram, foram ganhas, já não há motivo para continuar maquilhado.

Zé, percebe o ponto? Que me interessa a mim que a câmara faça imensas coisas, até "em prol dos mais jovens", quando durante dois anos eu e a minha família vivemos naquela miséria graças à incompetência da câmara. Que me interessa a mim os arquivos da câmara quando eu bem sei a realidade em que vivi durante 18 anos da minha vida? Na estrada municipal acima referida, houve alguns metros, a seguir a Sabóia, que com as cheias de 97 abateram. Foi arranjado? Não: rememdado. Colocou-se alcatrão em cada uma das extremidades da cratera, fazendo assim duas pequenas rampas. Ou seja: quem lá passasse, entrava no buraco, atravessava o buraco, e saía do buraco, isto por milagroso engenho das dita rampas de alcatrão.

E mais exemplos podiam ser dados, que vão muito mais além do "diz que disse".

O Zé sabe o que é o sentido figurado. Parabéns - há muita gente que não sabe. Mas o Zé até sabe mais. Aliás, sabe tanto que até consegue dizer, melhor que o próprio autor da prosa, quando este faz uso de tal recurso estilístico. Confesso, apanhou-me. Realmente, vi a minha amiga semi-nua, agrilhoada à secretária, desgrenhada, mal nutrida, a ser chicoteada e com uma "funcionária normal" a tocar tambores atrás para marcar o compasso do trabalho. Não era de todo sentido figurado.

Camarada Zé, aqui respeitam-se opiniões. Tanto que respeito a sua que até respondi - e, para além do mais, comentários não são abundantes nesta humilde casa, pelo que a oportunidade não era, de todo, de deixar escapar. O tom mais sarcástico já faz parte, como costuma dizer a Maria Helena. Mas respeitar é diferente de "concordar", sabe?

Quanto à raiva, tenho as vacinas em dia. Mas concordo consigo - mais vale prevenir que remediar.

João Campos

Mas eu, bem lá no fundo, até sou um gajo porreiro

E disponibilizo aqui ao camarada anónimo alguns links antigos para artigos sobre o tema:

Sobre as últimas Autárquicas: aqui e aqui.

Sobre as acessibilidades: aqui.
(artigo a requerer actualização, dado terem havido progressos na matéria... em tempo de eleições, claro está. A câmara só se lembra de Sabóia nessa altura)

Este é da Helena, e muito bom: aqui.

Há mais uns quantos, mas não têm muito que ver com a câmara, mas com outras situações lamentáveis no concelho.

João Campos

Ah, o belo do flaming

A grande novidade aqui para estes lados - que, nos últimos meses, têm andado muito paradinhos - é que um artigo referente à câmara municipal de Odemira suscitou alguma azia a um anónimo - suponho que odemirense - tão pronto a dar respostas como a assumir a identidade. Não se preocupe, caro amigo, que aqui ninguém morde.

Como a oportunidade é rara, creio que merece uma pequena e humilde resposta.

1º a pessoa a que se referiu não é estágiária mas sim uma funcionária normal como qualquer outra que se encontra na Câmara Municipal

Não o era na altura, lá vão já largos meses (mais de um ano, eventualmente?), e quem mo disse foi a própria. Se já é, passe a expressão, "funcionária normal", dê-lhe por mim os mais sinceros parabéns, já que é uma pessoa que estimo.

2º nesta autarquia não existem escravas mas sim pessoas que tentam dar o seu melhor para uma resposta rápida e eficiente

O caro anónimo não conhece o sentido figurado, mas tudo bem, já sei que no nosso país a educação anda pelas ruas da amargura. De qualquer maneira, a parte da "resposta rápida e eficiente" foi deveras curiosa naquela situação concreta. E em tantas outras que se ouvem aqui e ali. E falo só da câmara enquanto edifício e respectiva organização - se vou falar no trabalho da câmara a nível do concelho, não saio daqui nos próximos dias. Mas, se o caro anónimo quiser, dê uma vista de olhos pelos arquivos deste simpático espaço, que encontra vários posts com relatos do nosso mui amado concelho.

De resto, apraz-me saber que não há escravas na câmara de Odemira. É que sempre aprendi que Portugal foi pioneiro na abolição da escravatura, e Odemira não ficaria muito bem na fotografia.

3º se nunca errou tenho que lhe dar os meus parabéns porque errar é humano,assim tem que se inscrever para o guiness porque ganha quase de certeza.

O clássico na blogosfera, e provavelmente a coisa mais próxima que tive de um insulto em quatro anos de blogs. Do fundo do coração, obrigado. Um blogger só é um verdadeiro blogger depois de um bom flaming. Já agora, sabe dizer-me qual é o prémio, lá do Guiness?

mas já agora a assistente social fica no edificio em frente à Câmara de barras azuis no r/c à direita tambem facil de encontrar

Chegou tarde, caro amigo. A entrevista com a assistente social foi feita, a reportagem foi escrita, a classificação foi dada, valeu um bonito 16. Foi há um ano atrás. Pode ser que ainda a publique algures um dia destes. De qualquer maneira, obrigado pela informação. Foi mais eficiente do que as três "funcionárias normais" e a estagiária que estavam na câmara quando lá fui na altura.

Cumprimentos,

João Campos

domingo, maio 27, 2007

O camelo

Lembro-me de ouvir a seguinte anedota quando era miúdo:

- Sabes porque é que o Alentejo é um deserto?
- Não, porquê?
- Porque os camelos dos lisboetas o atravessam no Verão para irem par ao oásis do Algarve (ou All-Garve, se quiserem).

E agora, que já tenho amigos lisboetas (e que não são camelos nenhuns, apesar de muito bom lisboeta corresponder à descrição), o ministro Mário Lino vem confirmar a anedota. E Almeida Santos junta-se à festa. Este fim de semana não é preciso ver o Gato Fedorento.

João Campos

terça-feira, maio 22, 2007

Diz que é uma espécie de contrato

Depois de o Bloco ter proposto que os divórcios pudessem ser pedidos unilateralmente (ou seja, a pedido de uma das partes, independentemente da vontade da outra), estou à espera de ver a proposta segundo a qual um patrão pode despedir um "trabalhador" apenas por ele não cumprir os objectivos de produtividade que seriam supostos. E assim de repente vem-me à ideia a Câmara Municipal de Odemira, um belo exemplo de gestão socialista, cuja recepção tem quatro empregadas (correcção - três empregadas e uma estagiária que, como se pode imaginar, é a escrava lá do sítio) mas que nenhuma delas faz a mais pequena ideia da localização da assistente social da câmara, por exemplo. E dos cafés do centro da vila, sempre cheios por volta das dez da manhã (coffee break) e a seguir ao almoço (alargada para segundo coffee break).

Por isso, cá espero a lei do Bloco.

João Campos

quinta-feira, maio 03, 2007

Pai só há um, e não é o estado

Não! Não é perseguição, meus caros. Nada disso. Juro que o estado (o nosso não merece letra maiúscula, e não é apenas por estas cruzadas menores...) não quer perseguir e ostracizar os fumadores. Aliás, de onde poderia surgir tão disparatada ideia? O que o Estado quer é proteger os cidadãos. Evidentemente. Ele quer que os seus cidadãos sejam saudáveis, de pulmões imaculados, sem ponta de vício. E, evidentemente que era necessário começar por qualquer lado (pergunto-me é como isto vai acabar...).

Claro que o facto de as multas aplicáveis a quem infringir as novas leis serem superiores às multas aplicáveis ao consumo de drogas - substâncias ilegais, note-se, coisa que o tabaco não é (e porquê, se faz tanto mal?) - é apenas um pormenor irrelevante. Há que conduzir as ovelhas tresmalhadas ao caminho certo, afinal. Claro que o facto de a nova lei ser, tirando um ou dois pontos, um golpe violentíssimo nos direitos de propriedade, é coisa de somenos. Afinal, pode-se abrir um restaurante vegetariano - quem não gosta, como eu (hmmm... carne...), não frequenta; mas um restaurante/café/bar/etc. para fumadores, não. Temos de nos regular todos pela mesma medida, pela mesma lei disparatada. É a saúde, a ditadura dos novos tempos.

Bom, resta-me o consolo de que ao menos o preço do tabaco vai diminuir, assim. Ah, não? Pois, claro, como poderia? Lá se ia uma bela receita suplementar para o estado. E nesta alegre hipocrisia caminhamos nós. As pessoas habituam-se, dizem algums. Claro que sim. E, daqui a uns tempos, habituamo-nos todos a não beber café, a não comer gorduras nem carne vermelha (enchidos e fritos nem pensar), a ingerir apenas uma dose diária recomendada de açúcar, e, claro, fiscalizações constantes a restaurantes a ver se cada prato que conste da ementa cumpre rigorosamente as quantidades exigidas na rodinha dos alimentos. Uma cervejinha para acompanhar o repasto? Não, nada disso. Nem Coca-cola, que faz mal. Afinal, estamos todos a zelar para o seu bem.

E assim, um dia seremos todos fortes e saudáveis (e será que os danoninhos serão legais?), sem vícios, de pulmões limpinhos. Pena que nessa altura o ar da Terra seja provavelmente demasiado irrespirável para que os possamos aproveitar bem. Seremos todos perfeitos, sem ponta de vício, verdadeiras virtudes vivas. E loucos. E, suprema ironia, ainda mortais. Prometo que, se viver para conhecer este mundo, no dia em que for fazer tijolo hei-de soltar uma valente gargalhada.

João Campos

sexta-feira, abril 13, 2007

300

/sarcasm on

Peço desculpa. Equivoquei-me no último post. O filme 300 está, realmente, pejado de conotações políticas que se podem identificar com uma certa realidade política actual. É tão evidente que até uma criança de cinco anos repara nisso. Mas é claro que Xerxes (impressionantemente representado pelo brasileiro Rodrigo Santoro; mas quem é que o reconhece com aquela caracterização?) só pode ser uma alegoria a um qualquer ditadorzeco do Médio Oriente - como o camarada Ahmadinejad (que diabo, não arranjavam um nome mais fácil ao rapaz?), e que o numeroso exército persa lembra, logo, os guerreiros mujahedins ou até aqueles árabes do Lawrence da Arábia. E é evidente que os Espartanos - esses malucos que combateram até à morte - são uma alegoria do.... da... do quê mesmo? Dos americanos? Dos nazis? No meio da salganhada de críticas, perdi-me um bocado.

/sarcasm off

Agora a sério. O que vi em 300, em primeiro lugar, foi a adaptação cinematográfica de uma graphic novel com o estilo muito próprio e muito peculiar de Miller. E, como tal, o filme tem, também ele, uma estética muito peculiar. Os cenários, as cores predominantes, os planos que, por vezes, quase parecem vinhetas da banda desenhada. É uma estética particular, tal como o foi em Sin City (outra adaptação da obra de Frank Miller). É violento? Muito. Sangue a rodos, cabeças a rolar - literalmente -, membros amputados, homens e animais estropiados. Mas a guerra da Antiguidade era assim - travava-se corpo a corpo de espada ou lança na mão, na poeira do campo de batalha. Não havia espingardas de francoatirador (havia arcos, e já nem era nada mau), lança-rockets, granadas de fragmentação, artilharia aérea e bombas inteligentes. Na Segunda Guerra Mundial, no entanto, já havia quase disto tudo, e isso não impediu Spielberg de filmar os trinta minutos absolutamente gore - e absolutamente extraordinários - do início do Saving Private Ryan. A violência aqui não choca. Na verdade, a forma como é filmada, a estética que lhe é dada, confere-lhe uma beleza invulgar - tal como já acontecia em Sin City. Miller não é um autor de banda desenhada comum. As suas histórias, uma vez transpostas para filme, não poderiam nunca ser filmadas de forma comum. É dado um grande predomínio à estética? Sim, é. So what?

Quanto ao rigor histórico, convém lembrar de que 300 é um filme de ficção, ainda que baseado num acontecimento histórico verídico, e não um documentário (e vai na volta, até é bem capaz de ser bem mais rigoroso do que certos documentários aclamados por a crítica...). Claro que há quem diga que sim, que é rigoroso, e quem diga que não. Francamente, não creio que seja o ponto fundamental para criticar - não está em causa, no meu entender, o rigor histórico, mas sim o rigor para com a história (ou para com o guião, se quiserem). Tal como não era isso que estava em causa, por exemplo, com Braveheart (outro grande filme). E, deste ponto de vista, parece-me ser bastante coerente. Não creio que a ideia fosse fazer uma recriação exacta da Batalha de Termópilas, e parece-me que se fantasiou um pouco com os imortais (perdoem-me se estiver errado), que quase pareciam samurais japoneses, ou com aquela espécie de troll. Poder-se-ia ter dado um pouco mais de destaque às maquinações políticas e à rainha, mas possivelmente isso implicaria uma maior quebra na acção. Não terá sido por acaso que, a título de exemplo, Peter Jackson excluiu Tom Bombadil no seu The Lord of the Rings. Se houve coisa que recentemente aprendi, é que as histórias cinematográficas são necessariamente diferentes das histórias literárias ou, até, das histórias históricas (passe a redundância).

Há quem critique 300 por pegar em elementos de outros filmes - e, para ilustrar a tese, comparou-se o volley persa sobre os espartanos à saraivada de flechas sobre os escoceses em Braveheart. Sim, faz lembrar, mas é caso único na história do cinema? Ainda há dias em aula se comparava uma cena do filme Os Intocáveis, aquela do carrinho de bebé nas escadas, com outra análoga no clássico The Battleship Potyomkin. Sim, o realizador de Os Intocáveis pode bem ter ido beber ao clássico russo. Não terá certamente sido o primeiro, nem será o último. Puro nonsense, esta pretensão de originalidade enquanto algo absoluto. Toda a arte está pejada de elementos dos movimentos que se lhe antecederam; atacar isto será, por exemplo, reduzir toda a literatura de fantasia à obra de Tolkien, ou toda a ficção científica ao Dune de Herbert, ou ao Star Wars (ou, se quiserem ir a fontes mais antigas, às mitologias da antiguidade, ou a Júlio Verne).

Os actores cumprem o seu papel. Rodrigo Santoro no papel de Xerxes é uma surpresa, de tão bem caracterizado que está (não sei se corresponde ao real Xerxes, e nem me interessa). No geral, creio que a caracteriação é bastante boa: os nobres do conselho estão sujos e envergam togas desbotadas e gastas -o que nem sempre acontece em filmes do género, como bem se sabe.

Não é um filme imperdível, uma vez que tal conceito não existe. Certamente agradará bastante aos fãs de Miller, entre os quais me incluo. Não apanhei nada de significados ou de mensagens políticas. Vi, sim, um filme de guerra fantasiado, sim, e extremamente bem conseguido. Os heróis são, realmente heróis, e a sua bravura (e loucura) é mostrada em todo o seu esplendor. Não tem, no meu entender, nenhuma cena tão marcante como a carga da cavalaria de Rohan n'O Regresso do Rei - para mim, a melhor cena de guerra à antiga que já vi no grande écrã, mas não deixa de ser um grande filme. Com ou sem mensagem política.

João Campos

quarta-feira, abril 11, 2007

Significados políticos?

Está aí a polémica sobre o filme 300, adaptação para o cinema da graphic novel de Frank Miller, autor de Sin City (brilhantemente adaptado para filme). A polémica, contudo, não é tanto se o filme é bom ou mau - o que é sempre discutível, sobretudo se entramos nos nebulosos critérios dos críticos habituais. A polémica está em volta do significado político do filme.

Isto faz-me lembrar uma outra pequena polémica (pequena porque o filme foi alegremente ignorado pela crítica) à volta do V for Vendetta, mais uma adaptação de banda desenhada para o cinema. A história de V é mais ou menos simples: num futuro próximo, a Inglaterra vive mergulhada num regime totalitário, o qual se vem a saber que foi responsável por ataques biológicos em território do Reino Unido a fim de consolidar o seu poder a partir do caos. O protagonista, que se identifica com a letra V, é um terrorista com uma capacidade física fora do normal, devido às experiências que nele foram conduzidas, e que se quer vingar do que lhe fizeram. Mais do que isso, é um idealista da liberdade. Ora, não faltou quem daqui tirasse ilações curiosas. Que o filme era uma banhada anti-americana, por exemplo. Quando, a meu ver, o filme não tem qualquer significado do género. É uma adaptação, um elogio à luta pela liberdade. E, acima de tudo, um excelente filme, com Hugo Weaving a dar, mais uma vez, provas de um talento brilhante, e Natalie Portman... bom, a rapariga fica sempre bem nos filmes, não há muito a dizer.

Quanto a 300, amanhã irei ver. Claro que à partida o filme toca num ponto escaldante, a partir do momento em que retrata uma guerra que envolve os persas. O governo iraniano, furioso, já barafustou. Tal como barafustou pelos cartoons, e como barafustará sempre que no mundo ocidental alguém desenhar um povo muçulmanos como os mauzões da fita. Mas desse filme já estamos nós fartos, ou não?

O que acho curioso é que o mesmo género de críticas não se manifeste contra banhadas anti-americanas como Farenheit 9/11 ou An Unconvenient Truth, ambos premiados com um Óscar (o que só atesta a qualidade do dito galardão...). Esses, sim, são documentários credíveis e de qualidade. E com claro significado político. V for Vendetta é apenas um filme. Mas há, como sempre, quem confunda as coisas.

João Campos

terça-feira, março 27, 2007

Mas...

... agora que leio pela blogosfera detalhes sobre a forma como Ana Gomes e a inenarrável Odete Santos - provavelmente, a única personalidade política que, no dia-a-dia, consegue superar a sua boneca do Contra-Informação - abrilhantaram o show de ontem, até estou vagamente arrependido de não ter assistido à Gala dos Grandes Portugueses. Chatice, pá, alguém estava na sala a ver a Bela e o Mestre (...). Pode ser que apanhe uma repetição, mas creio que a sensação deve ser a mesma de ver o Benfica de 1993 jogar na RTP Memória.

Ou então não. É que ver aquela equipa até dá um certo gozo.

João Campos

segunda-feira, março 26, 2007

O Grande Português

Salazar ganhou os Grandes Portugueses. Prestasse-me eu a tais delírios telefónico-televisivos, e também nele teria votado - estando impossibilitado de votar em Viriato, meu herói pátrio de estimação, ao menos sempre daria o meu dinheiro por bem empregue, nem que fosse apenas para amanhã poder ler artigos furibundos em jornais e blogues, ou para me divertir com o silêncio dos mesmos blogues e comentadores da imprensa.

Julguei, inicialmente, que Salazar ganhasse pela polémica que a sua não-nomeação inicial gerou. Mas iludo-me - tivesse o nome do ditador figurado na lista inicial e os mesmos que tanto criticaram o documentário de Salazar teriam barafustado. Como podia, afinal, num estado democrático premiar-se um ditador? A polémica teria estalado à mesma, apenas por outro lado. Há pessoas que não sabem mesmo ficar caladas quando devem.

E, de resto, que se esperava? Salazar ganhou - democraticamente, note-se a ironia - um concurso feito à sua medida. Ou querem ideia mais salazarista do que a de eleger o maior português da história? A polémica inicial, bem como a diabolização do documentário, apenas ajudaram à festa. Mas neste tema, quem tem mesmo razão é Henrique Burnay, no 31 da Armada:

A vitória de Salazar não é merecida, é lógica. Salazar não foi o maior português, mas o tempo de Salazar foi um tempo de portugueses. Por mais que nos custe aceitar, o Estado Novo não foi uma monstruosidade imposta, é um episódio da nossa História. Nos gostávamos de ser heróicos como Camões, visionários como o Infante, generosos como Aristides Sousa Mendes, únicos como Dom Afonso Henriques. Não somos. Somos malandros, somos mesquinhos, somos medíocres, temos inveja, gostamos do respeitinho e de violar as regras pela surra. Somos o que de pior há em nós e que nos fez fazer o que fizemos. É pena, mas o Estado Novo fomos nós. Por isso é que a vitória de Salazar é merecida. Era bom sermos diferentes, não somos. O entusiasmo de quem votou em Salazar – para lá dos que votaram pelo gozo fino de ver a elite embaraçada – é um entusiasmo mesquinho. Se pedissem aos votantes em Salazar que desfilassem na Avenida não encheriam um passeio. É pena, mas somos assim.

Nem mais.