quarta-feira, março 30, 2005

Carreira Sabóia-Odemira

Compreendemos o verdadeiro alcance dos efeitos da televisão e o baixo nível da programação das emissoras quando andamos de autocarro algures no Alentejo, se vislumbra pelas janelas quase opacas da sujidade um burro (jumento, asno, rucilho, como quiserem) e uma idoso aponta, exclamando: "olha! Um 'Pavarotti!' [sic - ou será mais adequado 'tvi'?]".
João Campos

sábado, março 26, 2005

Uma teoria de relatividade

Quando estou em Lisboa, mais precisamente, refugiado no meu bunker da Estrela, desconfortavelmente sentado na sala escaldante onde posso ligar o meu portátil à ligação Netcabo (mais instável que os humores de Santana Lopes), tenho saudades dos tempos da minha free-wireless, onde, no conforto (também ele relativo... muito relativo...) do meu quarto, me podia ligar ao mundo, completamente à vontade, de frente para a janela, sem me preocupar com limites de downloads ou outros pormenores técnicos. No entanto, quando venho para a santa terrinha de férias, e durante duas semanas tenho de gramar com a minha old-fashioned ligação analógica da Clix, a pagar ao minuto, e lenta como o trânsito na Duarte Pacheco, o meu coração deixa-se invadir de saudades do calor abafado daquela sala, da ligação sempre a cair, do fumo do tabaco, das cadeiras desconfortáveis. Fernando Pessoa tinha razão: ser descontente é ser homem.
João Campos

quinta-feira, março 24, 2005

Um diálogo racista

Senhor P. : Tu não tens cor.
Senhor B. : Tu és de cor.

Miguel Moura Santos

Um diálogo não racista

Senhor P. : Tu és branco.
Senhor B. : Tu és preto.

Miguel Moura Santos

quarta-feira, março 23, 2005

Como melhorar um dia cinzento

Ler as crónicas antigas que este senhor escreveu no seu Dicionário Crónico, da Maxmen.
João Campos

Inversão da Lei

Let me see if I got it straight: uma vez que é impossível escaparmos ao problema do défice no contexto do Pacto de Estabilidade, e já que a coisa interessa também a gauleses e germanos, altera-se o PEC com a estratégia de Lisboa e ficamos todos felizes? Ou seja, infringimos sistematicamente uma lei, e ao invés de tentarmos alterar a nossa conduta, alteramos a lei, de modo a que a infracção se torne norma. E fazemo-lo mais rapidamente quando temos parceiros maiores a suportarem-nos.
Gosto da ideia. E, pela sua lógica, qualquer dia as coisas mudam para o seguinte:
a) Como toda a gente foge aos impostos, quem os paga está a infringir a lei;
b) Como toda a gente é pedófila, quem não fornicar com criancinhas tem comportamentos sexuais desviantes;
c) Como toda a gente luta pelos 'direitos' dos casais homossexuais, um casamento heterossexual deixa de ser válido e reconhecido perante a lei;
d) Como toda a gente adora meter baixa, aqueles que forem regularmente ao trabalho serão penalizados no seu salário mensal;
e) Como toda a gente em Lisboa infringe diariamente o Código da Estrada pelo menos vinte vezes (estou a ser ingenuamente optimista), passa a ser permitido estacionar onde quer que seja, da forma que se quiser, serão apagadas as passadeiras e as faixas de rodagem na rotunda do Marquês, os semáforos apenas terão a cor verde, e quem andar a menos de 100 km/h será multado;
f) No ensino, como os alunos gostam de se baldar, aqueles que forem às aulas serão penalizados em termos de classificação. E aqueles que se atreverem a estudar podem até chumbar o ano;
g) Como os jovens não usam preservativo, a sua utilização passa a ser proibida (espera lá, mas esta agradava à Igreja! Raios!);
h) Como os portugueses não vivem sem cuspir para o chão, todo e qualquer cidadão nacional que não escarre, pelo menos, duas vezes por dia para a calçada será multado;
i) Como os jovens de hoje em dia, na sua maioria, fumam, ou pelo menos dão umas passas, aqueles que não fumarem incorrem em graves penalidades sociais;
j) Como qualquer pré-adolescente consome bebidas alcoolicas quando lhe der na real gana, o consumo de alcool deixa de estar interdito a "menores de 18 anos, a quem se apresente visimelmente embriagado ou a quem aparente possuir anomalia psíquica";
l) Como agora é moda matarem-se polícias nos bairros periféricos à capital, quem residir na Amadora ou na Cova da Moura e não matar, pelo menos, um polícia por semana, arrisca-se a pena de prisão; Quem não for ao Brasil raptar a mãe de um jogador de futebol arrisca-se mesmo a pena capital;
m) Quem andar na EN 125 ou no IP5 sem espatifar o carro verá a sua viatura apreendida;
n) etc, etc. You got the point, right?
João Campos

Será que Deus basta?

Ao ser abordado por uma estação televisiva sobre o rapto da sua mãe, Rogério, um jogador de futebol, disse estas palavras: "Está tudo nas mãos de Deus... e da polícia".

Miguel Moura Santos

terça-feira, março 22, 2005

Uma proposta indecorosa

Lembro-me que eu estava a ler La lozana andaluza na rede do corredor e a vi por acaso inclinada no lavadouro com uma saia tão curta que deixava a descoberto as suas curvas suculentas. Dominado por uma febre irresistível levantei-lha por trás, baixei-lhe as cuecas até aos tornozelos e investi pelas costas. Ai, senhor, disse ela, com um queixume lúgubre, isso não se fez para entrar mas para sair. Gabriel García Márquez, in Memoria de Mis Putas Tristes
Miguel Moura Santos

segunda-feira, março 21, 2005

Utopia da Comunicação (II)

Quando se fala do conceito de Aldeia Global de MacLuhan pensa-se quase de imediato na ideia da união de todos os cantos do planeta Terra pelas tecnologias de cominicação e de informação. Os anos subsequentes e o advento da Internet foram progressivamente tornando o conceito do canadiano ainda mais actual. No entanto, a tese da Aldeia Global é muito mais do que esse fluxo de informação virtual que as fibras ópticas e os satélites transmitem initerruptamente. Quem vive, ou viveu, numa aldeia, entende o que quero dizer: é verdade (pelo menos parcialmente) que, sendo um meio pequeno, onde toda a gente se conhece, a informação circula mais depressa e a integração estará, à partida, facilitada. No entanto, não é menos verdade que esta situação acaba por ser mais vezes negativa do que positiva, quando as fontes não são divulgadas, quando se promove o boato e a mentira, quando se recorre à contra-informação como meio para obter determinados fins. A comunicação - em todos os sentidos da palavra - aumenta efectivamente, mas a desconfiança cresce em proporção directa. Assim como o controlo.
João Campos

Hedonism

"But wrong and right, time itself, meant nothing to the mers, formed no concept that Moon could recognize in their scheme of things. Unmolested they lived for hundreds, perhaps thousands, of years. A different set of parameters took precedence in their brains: They lived for the moment, for the ephemeral beauty of a bubble rising into the light and vanishing - for the act of creation, of becoming. There was no need, and no purpose, to a lasting artifact; for the song, the dance, the act, was itself a work of art, like a flower or a life, made mor beautiful by its impermanence. The tangible, the material, were no more use or consequence to them than time itself. Their lives were endless by human standards, and they lived hedonistically, absorbed in the sensuous caress of their passage through the supple water, the flow of heat and cold, current and surge - the stunning schism between water and air, the fluid heat of desire, the shooting pressure of a clinging child."

Vinge, Joan D. (2001 [1980]), The Snow Queen, Warner Books, New York, p. 218
Nunca a velha máxima latina do carpe diem adquiriu em palavras uma expressão tão sublime. Talvez uma lição de vida, não?
João Campos

Jesus Cristo e o Ensino Superior

Carlos: não sei se Cristo, como disseste aqui, quer ou não abrir uma clínica, ou dar aulas em alguma universidade, ou possuir Alexandra Solnado (apesar de mais adequada, a expressão "encarnar" é infinitamente menos divertida), ou whatever more. Mas agora que escrevo, e estou numa das salas de informática da nossa escola, deparo-me com um tapete de rato com a seguinte inscrição na língua de Camões (salvo seja): "JESUS ESTEVE AQUI".
Spooky.
João Campos

domingo, março 20, 2005

Singing in the Rain

Como é bom caminhar pela rua ao crepúsculo, de face estendida aos céus, e sentir o doce cair da chuva a fustigar-me o rosto... já quase esquecera a sensação...
João Campos

sábado, março 19, 2005

Utopia da Comunicação (I)

Dizer que os caminhos abertos pelo progresso voraz das tecnologias da comunicação aproximam o globo do conceito (de MacLuhan?) de Aldeia Global é verdadeiro, mas desvia a atenção de pormenores importantes do quadro maior. Se é verdade que, a cada dia que passa, mais um passo em frente é dado nesse sentido, não será menos verdade que esse caminho está mal pavimentado, não tem sinalização suficiente e esconde inúmeros perigos que a maior parte de nós desconhece e não está interessado em conhecer. E que aqueles que desafiam a lógica dominante são os "velhos do Restelo" do século XXI, os pessimistas de serviço, eternos saudosos da Idade da Pedra Lascada.

(tema a ser desenvolvido em posts futuros)

João Campos

Dia do Blogueiro

As coisas que se descobrem: parece que agora a 20 de Março se comemora o "Dia do Blogueiro" (pelo menos foi o que li num comentário no blog de uma amiga). Não sei porquê, mas cheira-me a invenção brasileira... com o título de "Blogueiro", só pode.
Até sugeria "Bloguista", mas iria assemelhar-se demasiado a "Bloquista", o que traria a todos nós uma conotação bem mais negativa... o que não se quer de todo..!
Já agora, que estamos em maré de inventar, porque não arranjar um santo padroeiro para os blogs?
João Campos

Mensagem para ninguém

O advento dos blogs permitiu a qualquer cibernauta poder criar um autêntico diário online, de fácil acesso e de prática actualização. Isto já toda a gente que por estas paragens virtuais navega está cansada de saber. Tornou-se muito mais fácil a publicação de texto na internet, uma vez que para fazer uma página tradicional minimamente apresentável é necessário ter conhecimentos básicos de codificação em linguagem html (não me venham com a treta dos editores... há aspectos do código que têm de se saber). O blog não exige isso: cada servidor tem ao dispor dos utilizadores um leque mais ou menos variado de templates por onde escolher. E, para aqueles que percebem do assunto, há sempre a possibilidade de mexer à vontade nas taglines do template, ou de criar um à imagem e semelhança daquilo que se quiser.
Existem, porém, outros utilizadores, cujo conhecimento de html não é suficiente para criarem de raiz um template que satisfaça as suas exigências de natureza estética - é o meu caso, mais uma vez. Não falo deste blog, mas do meu mundo paralelo (the darkside rebirth) de "fantasias" adolescentes. Descobrindo nessa imensidão de utilizadores um "nicho de mercado", alguns cibernautas com mais conhecimentos fundaram na internet sites onde expõem templates concebidos por si, de temas variados, para os mais diversos gostos - com bandas musicais e celebridades, de aspecto infantil ou gótico, entre tantos e tantos outros. Na maioria destes sites, a utilização dos templates é gratuita, o que me leva a crer que os custos de manutenção serão pagos por alguma (pouca) publicidade. Os criadores apenas "pedem" (na internet, o verbo "exigir" perde a sua força) que os créditos não sejam removidos do código. É criada, assim, uma pequena indústria paralela de html.
Isto tudo para quê? Estes servidores amadores também falham - por exemplo, o meu template agora está cheio de erros, as imagens não aparecem, etc. Inicialmente julguei que tivesse sido eu que, descuidadamente, tivesse apagado alguma tagline, como já aconteceu antes. Uma rápida visita a blogs amigos "alimentados" pela mesma fábrica de templates negou a minha teoria. O que me fez regressar aos tempos de html. Não sei muito do assunto, mas há anos que observo e creio ter chegado o momento de fazer algo curioso em html. Já ando a perder horas nisto. E a ganhar dores de cabeça. Mas ando a batalhar para que o resultado final valha a pena.
Deduzo que os (poucos) leitores habituais do meu lado negro, para quem este post poderia ser "dedicado", não costumam ler este espaço. Se o fizerem, no entanto, já têm a explicação para a falha gráfica do blog.
Já agora, boas férias de Páscoa para todos!
João Campos
(P.S.: desculpem o uso algo excessivo de estrangeirismos, mas não consigo adaptar-me aos termos "blogue", "sítio", entre outros. Acho que são ridículos e anti-estéticos.)

Semana da Juventude

A começar na próxima Segunda-feira, em Lisboa. Entre outras actividades, destacam-se os concertos de bandas nacionais na Aula Magna... grátis. Basta para isso ir pedir os bilhetes à Loja da Juventude do C.C. Amoreiras (dois bilhetes por pessoa).
Dia 21 serão os inigualáveis Blasted Mechanism.
À organização: obrigado! E promovam mais iniciativas destas!
João Campos

Eleições Autárquicas, já!

Há cerca de um ano, publiquei no "the darkside", o meu blog da altura, (quando ele ainda não tinha uma linha editorial bem definida), um artigo sobre o meu bairro, na aldeia alentejana de Sabóia. Ou melhor: sobre a falta de condições de habitabilidade no meu bairro. E sobre a violação de uma série de princípios elementares de planeamento e ordenamento urbano.
Um breve resumo: mudei-me para aquela nova urbanização em Setembro de 2003. A casa estava concluída, mas as ruas não estavam pavimentadas, os passeios não se evidenciavam por serem um plano superior ao asfalto (que nem sequer existia), mas sim inferior. Não havia ligação telefónica. E apenas havia electricidade porque o empreiteiro da obra - por acaso também presidente da junta - deixou lá o quadro da "luz de obra". Que abastecia quatro casas em simultâneo, e ia abaixo de cada vez que a minha mãe e uma das vizinhas ligavam as máquinas de lavar roupa em simultâneo. Decerto que não será difícil de deduzir que a iluminação de exterior dependia das fases da Lua.
Nas vésperas do Natal de 2004, foram activadas as ligações telefónicas (be welcomed, internet world!). Apenas as ligações telefónicas.
Há pouco, em conversa com o meu pai (por telemóvel), ele dá-me a grande novidade: a minha mãe já pode cozinhar descansada no forno eléctrico. E as armadilhas da rua já podem ser vistas de noite. Que é como quem diz: a electricidade, invenção da Segunda Revolução Industrial (na segunda metade do século XIX), chegou hoje (ontem), dia 18 de Março de 2005 d.C., ao Bairro Municipal da Ladeira, na aldeia de Sabóia, concelho de Odemira.
Já andava a planear o artigo "Bairro da Ladeira revisited", com fotografias e tudo, mas afinal aquilo começou a evoluir. Bolas. Já a Câmara me estragou um belo momento de ironia.
Apenas por curiosidade: as eleições autárquicas são lá para o final do ano, não são?
João Campos

sexta-feira, março 18, 2005

A 'nova' equipa deste blog

Nova em aspecto, entenda-se. Somos os mesmos de sempre - apenas com uma "cara" nova. É verdade. Surgiu-me hoje, a ideia de associar a cada elemento do grupo deste lado do espelho uma das "personagens" das tiras do Calvin and Hobbes, uma óptima banda desenhada da qual todos sem excepção gostamos.
Assim, por razões mais ou menos óbvias: A mim coube-me o intrépido Astronauta Spiff - só podia, dada a paixão que nutro pela ficção científica (fico mais giro louro, não fico?). Ao Miguel coube o filosófico Hobbes (tinha de ser, não é?)... não está na sua pose mais filosófica, mas é o que se arranja de momento. E, como não podia deixar de ser, ao Carlos calhou um Calvin desportista (a jogar futebol americano... o Calvin não joga futebol, Carlos).
E afinal sempre temos uma [cara nova]: Alexandre Gonçalinho, meu antigo companheiro "de armas" e de política em tempos de Secundário, actualmente a estudar Enfermagem, junta-se à equipa cá Deste Lado do Espelho. A expressão do seu Calvin é um pouco difícil de definir, mas a verdade é que não temos um Calvin enfermeiro (o miúdo ainda não pensa nessas brincadeiras com a Susie...). Anyway, welcome aboard!
Ena, que isto hoje é só novidades!
João Campos

Y

Diz-se, na capa do Público de hoje, a propósito da película "Um Peixe Fora de Água", que Bill Murray é "provavelmente o maior actor do cinema contemporâneo". Não pretendo de modo algum retirar mérito ao excelente actor que é Murray. Todavia, considerando os desempenhos em Se7en, The Negociatior, The Usual Suspects, e, particularmente, em American Beauty, creio que o "prémio" terá de ir para Kevin Spacey.
João Campos

quinta-feira, março 17, 2005

Pequeno exercício de estilo

(Uma pequena ideia que me ocorreu hoje na aula de Teoria da Notícia e Géneros Jornalísticos sobre a evolução do estilo jornalístico.)

Um lead, ou parágrafo-guia, de uma notícia vulgar num qualquer jornal poderia, possivelmente, resumir-se ao seguinte:

«Duas pessoas morreram ontem à tarde na Rua Dr. José Camandro (nome fictício, evidentemente), vítimas de atropelamento por um autocarro da Carris.»

No entanto (à luz de um excerto de "Uma Campanha Alegre", do grande Eça, que se leu hoje em aula), se o estilo dos finais do século XIX perdurasse, o mesmo lead para a mesma notícia poderia ser qualquer coisa do género:

«Na soalheira tarde de ontem, 16 de Março de 2005, dois transeuntes foram fatalmente colhidos por um veículo de transporte urbano de passageiros, ao cruzarem descuidadamente a rua que guarda o nome do eminente Dr. José Camandro, conhecida pela sua constante e frenética agitação.»

Em pleno século XXI, podemos ter a seguinte variação, que creio corresponder mais ou menos àquilo que uma TVI faria, em televisão, ou que um 24 Horas faria, em imprensa escrita diária:

[entoação à Manuela Moura Guedes] «A falta de segurança nas ruas de Lisboa voltou a fazer vítimas. Ontem à tarde, duas pessoas foram violentamente atropeladas por um autocarro da Carris quando atravessavam a Rua Dr. José Camandro. As queixas da população contra a falta de sinalização que incita os condutores à velocidade, e contra a existência de poucas passadeiras, já são antigas, e, como de costume, há muito ignoradas pela Câmara Municipal.»

João Campos

quarta-feira, março 16, 2005

Guerra aos Lobbies

Diz-se por aí, entre muitos venenos destilados, que o Governo de Sócrates, ao lançar a polémica da venda livre de medicamentos que não necessitam de receita médica, está a atacar o lobby das empresas farmaceuticas. Pode ser. E, a ser mesmo assim, e não apenas uma manobra de atirar areia para os olhos [do eleitorado], é uma medida de louvar, neste país em que os lobbies assumem dimensões fabulosas.
Usando o mesmo raciocínio daqueles que, com ou sem razão, defendem que, pelas mesmas razões que os E.U.A. invadiram o Iraque, deviam invadir o Irão, a Coreia do Norte e alguns outros países, acho que teria lógica se o governo declarasse guerra também ao lobby da construção civil (que já devastou o Algarve e que parece querer fazer o mesmo à costa alentejana), e a tantos outros. Por uma questão de coerência.
João Campos

domingo, março 13, 2005

Spooooooooooorting!

"Um rude golpe"

Manifesto: proponho que nunca mais neste país se fale do lendário Gabriel Alves em tom jocoso. O homem até parece perceber de futebol se comparado aos comentadores da TVI.
João Campos

sábado, março 12, 2005

Comunicação Interna - Escola Superior de Comunicação Social

Aquela conversa de início de aula foi curiosa (aliás, todo aquele início da aula de THI foi curioso). Para quem não sabe: na Escola Superior de Comunicação Social, onde estudo, existe uma certa "oposição" (falta-me um termo mais apropriado) entre os alunos dos cursos de Jornalismo (entre os quais se incluem eu e o Carlos) e de Comunicação Empresarial. Este atrito surge devido ao trabalho que envolve cada curso - e os nossos colegas de CE são os auto-proclamados mártires da escola, sempre atarefados, sempre cheios de trabalhos complicadíssimos, sempre a abdicar da sua vida própria em prol do curso, etc, etc.
Tudo bem. Sejam mártires à vontade - isso é com eles, assim como ser homem ou mulher bomba das brigadas suicidas islâmicas é lá com eles (whether they're brainwashed or not). O atrito surge quando os alunos de Jornalismo ganham a fama de, passe a expressão, "não fazerem a ponta de um corno."
O que não é de todo verdade. E era contra isso que a Susana, uma das poucas pessoas que conheço com "aquele" rasgo de genialidade (um beijinho, rapariga... as ondas, têm estado boas?), se indignava naquele começo de aula. Porque esse estereótipo ridículo partia da parte dos colegas de CE, porque eles têm muitos trabalhos práticos, é verdade, mas não têm que ler sequer metade daquilo que nós temos para as nossas frequências, recensões, ensaios, trabalhos de investigação, dossiers de imprensa. Porque os nossos colegas de Audiovisual e Multimédia e de Publicidade e Marketing estão na deles, fazem a sua vidinha e não se estão para se chatear com estereótipos.
Faço minhas as palavras da minha amiga. E mais acrescento: não parte apenas dos colegas de CE, mas de alguns professores também (há histórias). Não parte de todos - dou-me bem com pessoas de CE, muito bem, até, com algumas. Mas conheço as bocas da praxe: "achas que tenho tempo? Sou de CE!", ou "estou tão cansada desta me#+@", ou - e são estas aquelas que me chateiam - "deves pensar que sou como tu, que não faço nada". Hey! Spare me, if you don't mind. Acredito que o curso de CE exija muito trabalho, mas não me venham com tretas: a malta de Jornalismo farta-se de ler, de pesquisar, de escrever - mais, muito mais, do que os futuros Relações Públicas da escola. Como disse: sejam mártires à vontade. Mas é incorrecto quererem martirizar-se por comparação.
Espero sinceramente que os caloiros deste e dos próximos anos lectivos consigam ir apagando estes estereótipos. A ver se algumas conversas mais azedas se extinguem.
João Campos

quinta-feira, março 10, 2005

A vida da criação

"(...) "But for the artist the real joy is in the creation of the thing. When you feel something growing up under your hands, you grow with it. You're alive, the energy flows. When it's finished, you stop growing. You stop living. You only live for your next creation." (...)"
- Fate Ravenglass to Sparks Dawntreader
Vinge, Joan D. (2001 [1980]), The Snow Queen, Warner Books, New York, p. 64
João Campos

quarta-feira, março 09, 2005

Cidade de merda (post com linguagem mais obscena)

Hoje às 20h30, o passeio pedestre da Avenida Álvares Cabral parecia estar lavado em merda de cão.
Recordo-me de uma aula há dias, na qual se discutiu o civismo do povo português, e rapidamente se chegou à conclusão que, regra geral, portugueses e civismo são como água e azeite. Não preciso de falar da nossa perícia automibilística: basta deambular pela cidade durante algumas horas e observar a forma como se cospe o catarro do fundo dos brônquios ou a saliva a mais para o chão, ou o ar descontraído e indiferente dos senhores e das senhoras que levam os cachorrinhos à rua para mijarem para os pára-choques dos carros ou para cagarem para calçada, oblívios a tudo o resto.
Percebo, sem no entanto compreender, o "drama" das famílias que possuem cães em apartamentos (por isso prefiro gatos; para além do mais, os cães não têm aquele ronronar...). No entanto, a rua não é de quem tem cães: é de todos os cidadãos, incluindo aqueles que gostam de caminhar livremente, sem estar sempre a olhar para o chão para ver onde está a bosta (são as minhas antipessoais urbanas).
A solução? "Acomodar devidamente o cocó", como dizia o tipo do filme indiano, não é solução. Mesmo que os donos dos animais andassem de trela numa mão e de pá e vassoura na outra, a porcaria ficava na calçada à mesma. Seria, digamos, um mal menor.
A solução seria civismo. Em doses grandes. Mas disso não há em genéricos, pois não?
João Campos

terça-feira, março 08, 2005

D. I. M. (Dia Internacional da Mulher)

Será que este dia faz sentido? A resposta é negativa por três razões:
1 - O D. I. M. corresponde à discriminação da feminilidade;
2 - O D. I. M. contribui para que sejam ocultados os problemas das mulheres;
3 - O D. I. M. confere ao lugar social detido pelas mulheres a dimensão de axioma.
Nos trechos subsequentes, procurarei desenvolver estas ideias.

Miguel Moura Santos

segunda-feira, março 07, 2005

Uma simples proposta

Leiam O Túnel, de Ernesto Sabato. Poucos livros deverão tão bem ter descrito o mundo do génio e o génio no mundo.

Miguel Moura Santos

A não perder

O artigo de Vasco Pulido Valente, no Público de sábado. Realmente progressista. Francamente interessante.

Miguel Moura Santos

sábado, março 05, 2005

A verdade oculta de um género marginal

"(...) Science Fiction really isn't about the future; it's about the present, which concerns SF writers as much as it does anyone else.SF's much-reviled "escapist genre rubbish" is in fact a rich and varied field of fiction. It gives a writer more freedom to explore ideas as well as experiment with style than any other literary form. The best SF, truly "mind-bending", holding up a fun-house mirror to our reality, warping the reader's fixed perceptions about society, and giving them a fresh and liberating parallax view."

Vinge, Joan D.(2001 [1980]), The Snow Queen: "Reading Group Guide": "A Conversation with Joan D. Vinge", Warner Books, pp. 417-418
Pena que, neste cantinho à beira mar plantado, não se perceba (nem se queira perceber) esta verdade tão elementar. Raras são as vezes em que digo a alguém que leio e escrevo ficção científica e que não e sinto como um extraterrestre. Por cá, a ficção científica literária é praticamente desconhecida, apenas um género marginal que uns malucos americanos, de tez alucinada, escrevem para um público fisionomicamente semelhante, que vive a olhar para o céu e que acredita em vida alienígena. Estereótipo recorrente, e absolutamente errado, como Joan D. Vinge, uma das grandes figuras do género (e que, por curiosidade, adora Portugal), escreve num dos apêndices do seu romance premiado, The Snow Queen.
João Campos

A bolinha vermelha

N'O Acidental. A não perder.

João Campos

sexta-feira, março 04, 2005

Intelectuais e pensadores

Durante os séculos, houve sempre intelectuais e pensadores. Mas estes termos não são sinónimos uma vez que correspondem a realidades bastante distintas. Os intelectuais observam a conjuntura. Os pensadores observam a estrutura. Os intelectuais e os pensadores não residem portanto em universos paralelos. Os intelectuais querem a fama. Os pensadores querem a glória. Erigindo uma analogia, poderiam ser comparados aos intelectuais os políticos e aos pensadores os filósofos. Mostrando um exemplo, poderia ser exibido como intelectual Pacheco Pereira e como pensador José Gil.

Miguel Moura Santos

Estilo

O Público de hoje está cheio de estilo. Literalmente.

João Campos

quinta-feira, março 03, 2005

Nuno Serras Pereira

Segundo Nuno Serras Pereira, prescreve o artigo 915 do Código de Direito Canónico que se não pode "dar a sagrada comunhão eucarística a todos aqueles católicos que manifestamente têm perseverado em advogar, contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes". Nesta categoria, estão incluídos os que usam "diversas pílulas, DIU [dispositivo intrauterino] e pílula do dia seguinte" e os que recorrem a "técnicas de fecundação extra-corpórea, selecção embrionária, criopreservação, experimentação em embriões" e outros métodos de reprodução medicamente assistida. Posto isto, qual é o argumento fundamental de Nuno Serras Pereira? O da negação da existência dos indivíduos. Mas será que as práticas enunciadas constituem maneiras de negar a vida? Parece que não, visto não haver qualquer vida, no momento anterior ao período da concepção. Logo, não pode ser colocado o problema da "morte de seres humanos inocentes", porque não existem quaisquer seres humanos. Adiante, Nuno Serras Pereira ergue novas questões, como as do aborto e da eutanásia. A primeira impõe que seja apurado se uma criança, estando na placenta, possui vida. A segunda requer que seja definido se uma vontade de rejeição da própria vida corresponde à promoção da "morte de seres humanos incentes". Estas questões merecem uma reflexão séria de todos, pelo que opto por não tomar já uma posição.

Vazio

Excepcionalmente, não marcaram presença no programa Parlamento quaisquer elementos dos partidos da antiga coligação. Esta situação só pode revelar o vazio existente nos dois partidos.

"Tempo de ninguém"

Na última edição da Quadratura do Círculo, António Lobo Xavier difiniu o actual momento político como o "tempo de ninguém". Devo confessar que não tinha pensado nesta expressão. Embora seja bastante feliz.

quarta-feira, março 02, 2005

Polémica blogosférica

Um dos mais fascinantes fenómenos da blogosfera são as polémicas que os artigos (ou as interpretações que deles são feitas) e suscitam, nas caixas de cometários ou mesmo em artigos dedicados noutros blogs. A mais recente - que não terá decerto sido a mais recente, mas foi a última que apanhei - teve lugar no blog Barnabé, a propósito deste artigo do barnabita Nuno Sousa (e subsequente contra-ataque), e que teve "apoios" dos seus "camaradas" Rui Tavares e João MacDonald.
Recordou-me uma outra, mais antiga, no Gato Fedorento, devido a uma piada de Miguel Góis sobre Stephen Hawking, e que deu origem a um dos melhores textos que já li na blogosfera. Lamentavelmente, não pude ler os comentários acerca da piada de Hawking.
Mas li os do Barnabé. E tirei algumas conclusões interessantes: quem comenta leva os textos demasiado a peito, coloca-os num patamar estritamente pessoal, como se eles constituíssem um ataque (creio que não foi o caso); tende a misturar assuntos que não se devem misturar (acho que ser de Esquerda não implica ser ateu, ou ser de Direita não implica ser católico... dê-se espaço à promiscuidade, por favor!); facilmente se esquece de que se trata de um blog colectivo, o que consequentemente fará com que seja errado generalizar para todos os seus membros características induzidas apenas num indivíduo; e, regra geral, os portugueses que frequentam a blogosfera escrevem mal como o raio, ou então são preguiçosos (ou um bocadinho grande das duas - inclino-me mais para esta hipótese). Se é para se fazerem acusações de fundamentalismo, então, considerando os artigos e os comentários que li, tão fundamentalistas serão aqueles que defendem a posição de Nuno Sousa como aqueles que o atiram para a fogueira.
Afirmações estranhas surgem sempre: A SIDA como praga divina, o papa como responsável pela propagação da doença? OK, eu posso estar equivocado, até porque ainda sou novinho e tenho muito que aprender. Não creio a Igreja Católica, por muito *fundamentalista* que possa ser, como reponsável por 60% da população do Quénia estar infectada com o VIH. Não será decerto o Papa (que, no fundo, é o rosto visível de uma organização muito mais vasta, que o transcende largamente), nem sequer os seus cardeais, arcebispos, bispos, padres, frades, freiras e monges, beatas e outros que mais, que andará pelas Áfricas a impedir que os preservativos (que nos países ocidentais custam uma fortuna, diga-se de passagem: cerca de oito euros para doze quecas) cheguem às populações que, antes de mais, necessitam de alimentos, água potável, medicamentos e vacinas para combater doenças mais elementares, entre tantas e tantas mais coisas. Há que ter cuidado com estas falácias.
Pessoalmente: concordo com parte das críticas, tanto de um lado como do outro. O artigo tem o seu quê de mau gosto, ao gozar com a debilidade física e com a enfermidade de alguém que sofre de uma doença terrível. No entanto, sentir pena dessa pessoa é infinitamente pior do que isso. A liberdade de sentimentos permite isso mesmo: que se respeite ou não, que se goze ou não. A liberdade de expressão, por seu lado, dá não só a Nuno Sousa todo o direito de escrever aquilo que escreveu, como também concede o direito de crítica a quem o desejar fazer, no tom que lhe convier. É a democracia, meus caros.
João Campos

terça-feira, março 01, 2005

Dificuldade de comunicação

Ontem, comprei um livro do autor germânico Walter Benjamim. O seu título é Imagens de Pensamento. Numa página, descobri esta afirmação: "Convencer é estéril". Para ser franco, nunca tinha lido uma frase que tão bem sintetizasse a dificuldade de comunicação entre os homens.

Miguel Moura Santos

Quem ri por último...

Tenho amigas (e amigos, também, se bem que as minhas conversas sobre cinema sejam quase sempre com o sexo oposto - don't ask me why) que se riem com intensidade variável cada vez que afirmo gostar dos desempenhos do libanês Keanu Reeves em The Devil's Advocate, The Matrix (plus Reloaded and Revolutions) e Constantine. Well, laugh at will. Ainda não foi desta que o vosso Leo ganhou uma estatueta dourada.
João Campos