segunda-feira, janeiro 30, 2006

Deste Lado do Espelho

Esta história da neve e Kioto, faz lembrar a pérola e a ostra. Uma é bela e preciosa, no entanto, é a doença da outra. Que bonita é Lisboa de branco ( mesmo resultando do desrespeito por Kioto ).

domingo, janeiro 29, 2006

E agora todos a cumprir Kyoto para parar o aquecimento global!

E a neve em Lisboa?

João Campos

sábado, janeiro 28, 2006

A Wilde, wilde world

Hum, hum, hum, hum, hum, mfmfmfmf, hum ... Isto é o Alec Scudder e o seu namorado Maurice, na 'beijo-kiss' !, lembram-se daquele 'mail' mais longo que a légua da póvoa, e que teve continuação num dos comentários onde os protagonistas começaram o beijão ?
Vai daí, tinha eu prometido que escreveria sobre Óscar Wilde e cá estou a cumprir, porque não sou política e por isso tenho de cumprir, mas não vou ser tão analítica, aliás, vou ser mais sintética do que analítica, porque isto já vai tarde e estes senhores querem-se ir deitar e está a chover e está um frio do ... 'cara..melo'.
Ora Wilde é um filme sobre o autor irlandês, que, no início do século XX, fazia a sociedade britânica rir-se de si própria com peças, cheias de facécias e trocadilhos. Representado, aqui, pelo compridíssimo actor Stephen Fry, o escritor faz lembrar uma árvore frondosa, de grandes troncos, que providenciam sombra e alimento. Do tronco principal, sai um ramo que representa o Wilde casado com a sua 'constant Constance' ( era um bom marido, tanto quanto possível ) e pai amoroso, se bem que ausente, de dois rapazes. Do outro, sai o escritor brilhante e 'dandy', 'poseur' e extravagante. Por fim, um terceiro tronco sustenta os jovens amantes, dos quais se distingue o terrível marquês de Queenbury. O marquês era um belo moço louro. Tendo, como pai, um homem brutal, que o espancava, Queenbury, lamentamos dizê-lo, explorava Wilde, como se costuma dizer, 'até ao tutano'. O irlandês fazia fortuna com o sucesso das peças, mas arruinava-se com as exigências do amante. Bem, enfim, 'to make a long story short', Óscar foi apanhado em flagrante ( como o visconde Risley, em 'Maurice') e condenado a dois anos de prisão, com trabalhos forçados. Saiu do cárcere, de saúde arruinada. Viria a morrer em Paris.
Tal como as personagens de E. M. Forster, Oscar e o seu marquês teriam que esperar cerca de cem anos para se dedicarem um ao outro, de corpo e alma. A sociedade britânica tarda, mas não falha. Incidentally, a homessexualidade (masculina, já que a feminina parece que era ignorada) foi descriminalizada em 1967.

Texto escrito no dia em que os TVnoticiários anunciaram o 'casamento' entre duas meninas, numa Conservatória de Lisboa. 'destes dias, Mr Cavaco lá terá que considerar assinar uma lei, a permitir à malta 'homo' casar mais branco. Assinará-t-il ? Cheers !

Até já, o ca*****

Como se não me bastassem os quilos de e-mail forwards que semanalmente recebo, graças à campanha de mensagens sms à borla da TMN recebo também "chain messages", que devem ser passadas a x pessoas, "porque é muito divertido". Continuo sem perceber a lógica desta tipo de mensagens - transcende-me, em absoluto, o que possa haver de "divertido" nisto. Não aderi à dita promoção. Mas estou a ponderar aderir apenas para responder às "chain messages" da seguinte forma: olá! estou farto dessa merda de mensagens. não passes esta mensagem a ninguém, ou as tuas esperanças de recuperares a tua vida sexual vão pelo ralo. obrigado.

João Campos

quinta-feira, janeiro 26, 2006

A Mafaldinha morreu

No more trying to change the world. No more fighting against injustice. Caros co-bloguistas, caros leitores, adeus e obrigada.

Susana

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Deste Lado do Espelho

'Cabacu ! Cabacu ! Cabacu ! Cabacu ! Cabacu ! Cabacu !'
(Habitante do Cabaquistão, ainda entusiasmado ...)

terça-feira, janeiro 24, 2006

Deste Lado do Espelho

Já disse aos colegas que participem no blogue do Johnny. Porém:

o Jorginho anda a tratar da mudança da B5 para a B3 ( É verdade, ex-Secodemiristas ! A escola está a sofrer mudanças, no seu espaço físico );

o Armandinho, sempre afogado em papéis;

o Fernandito, sempre a 'apagar fogos' ( ele é a Net que não liga, ou a extensão que falta, ou o documento que não há ...);

o Orlandito, sempre esquecido.

Porém, concordo com Johnny. Seria interessante a colaboração destes profes incorrigíveis ( como Johnny escreveu: 'Once a teacher, always a teacher', se:

1. a natalidade começar a crescer ( malta, toca a dispensar a camisa e a pílula :D);

2. houver, consequentemente, mais alunos ( :/ muito seriamente falando, há profes com experiência e saber, k terão de concorrer, se quiserem ter horas no próximo ano lectivo !)

3. o Ministério abrir cursos atraentes e necessários para fixar a moçada no Concelho ( tarefa difícil, havendo, como há, a presença da Escola Profissional. Quanto a saídas profissionais aqui, estamos conversados. Talvez, quando o xô Belmiro de Azevedo construir o seu projecto de hotéis, moradias e outras mordomias ... Às tantas, é também agora que se concretiza a ameaça, pendente há anos, de um complexo turístico, nos Eivados/ Malhão :( ) E aí, haverá empregos galore.

3. o Ministério for, um pouco menos desmotivante para os profes ( sim, qu'a gente também se desmotiva, kéke pensam !);

Enfim, uma série de 'ses'.

Deste Lado do Espelho

E, para condizer com essa canção, cá vai uma dos 60s, dedicada ao xô recém-presidente e à sua Maria, de ora avante cognominada de Primeira Dama. Intão, cá bai:

Sei quem ele é, ele é bom rapaz
Um pouco tímido até.
Vivia no sonho de encontrar o amor,
Pois seu coração pediá maaaaaais, mais caloooooor !
Ela apareceu e a b'leza dela desde logo o prendeu.
Gostam um do outro e agora ele diz
Qu'alcançou na vida o maior beeeeeeem,
É feliiiiiiiiz !
Só pensa nela a toda a hora
Sonha com ela p'la noite fora.
Chora por ela, se ela não vem !
Só fala dela, cada momento
Vive com ela, no pensamento
Ele sem ela, não é ninguééééém !

Their marriage was made in Heaven !

segunda-feira, janeiro 23, 2006

E porque ne tudo são presidenciais - a nossa quota de música portuguesa:

ela sorriu
e ele foi atrás
ela despiu
e ela o satisfaz

passa a noite
passa o tempo devagar
já é dia
já é hora de voltar

aqui ao luar
ao pé de ti
ao pé do mar
só o sonho fica
só ele pode ficar

(e agora aqui fica a discussão: esta música, cantada pelo Tim, é dos Xutos ou dos Resistência? E já sei que a minha playlist estava errada, e que o título da cantiga é, afinal, "A Noite", e não "Aqui ao Luar", como toda a gente costuma dizer)

João Campos

Vidas...

Eu não sofro de asma, Maria Helena. Apenas de rinite alérgica, sinusite e alergias ao pó (controladas após anos de injecções subcutâneas). Não que a coisa melhore muito. Mas, passe a redundância, a sua surpresa surpreende-me. Creio que quando pela última vez estive consigo (em setembro de 2004, como o tempo passa..!), eu já fumava. Menos, é certo. São coisas que acontecem. Muitos foram os que acharam (e acham) estranho eu apenas ter começado aos dezoito - quando, supostamente, já tinha idade para ter juízo. Estas filosofias são engraçadas, as do tempo. Como se fosse obrigatório almoçar ao meio dia, jantar às sete e meia, não comer enchidos ou melancia depois do jantar. Ou tirar carta aos dezoito. Os dezoito anos são uma óptima idade para não tirar carta. E para começar a fumar.

E, já agora, pão com chouriço às duas da manhã é de dar graças aos céus. Sobretudo no Bairro Alto.

João Campos
Recordo-me da primeira (e única) vez que vi Mário Soares ao vivo. Corria ainda o ano de 2003. Acabado de chegar a Lisboa para ingressar na universidade, estava naquele final de tarde na Fnac do Chiado a assistir à apresentação do livro O Quarto Equívoco, de Mário Mesquita, meu professor no primeiro ano. O ex-presidente lá estava, na apresentação do livro do seu amigo: obeso, vasto numa confortável cadeira. O académico e os seus convidados discursavam, e Soares, com aquela calma proveniente da sua venerável idade, com a cabeça reclinada para trás e com a boca aberta, dormia. Para quem nesta campanha se afirmou culto e acusou Cavaco de não ter maneiras, não creio que tenha sido a melhor demonstração de boa educação. Naquele momento, soube que nunca na vida votaria em Soares para o que quer que fosse.

Ocorreu nesse ano eu ter reprovado à cadeira de Análise Económica (e tornei a reprovar no segundo ano). Seria, portanto, lógico e, até, quase inevitável que fugisse do candidado economicista como o diabo foge da cruz. Aliás, se o meu gosto pelas letras fosse tido em consideração, o meu voto teria ido direitinho para Alegre: rebelde e dissidente, como eu; com gosto pela escrita, como eu; e, ainda por cima, sei que gosta do meu Alentejo (e eu nem por isso aprecio o Algarve). Não sucedeu assim, todavia, que poemas e trovas não enchem a barriga, nem resolvem os muitos problemas que este nosso país atravessa.

De todos os males, o menor, creio eu. O tempo o dirá. Para já, congratulo-me por a coisa ter sido resolvida na noite de ontem, sem necessidade de uma desgastante segunda volta. E, evidentemente, pela derrotazinha da Esquerda. Pena foi que Louçã não tenha ficado abaixo dos cinco por cento. Não se pode ter tudo, não é verdade?

João Campos

domingo, janeiro 22, 2006

Deste Lado do Espelho

Lá estou eu a carregar, mais de uma vez, nos botões, chiça ! Nos próximos três anos, não se prevêem eleições. Chatice ! Agora, que eu estava a gostar de ir votar ...

Deste Lado do Espelho

O dia de hoje amanheceu com nevoeiro. Portugal acabou de eleger o seu mais recente D. Sebastião.

Deste Lado do Espelho

O dia de hoje amanheceu com nevoeiro. Por causa disso, o povo acabou de eleger o mais recente D. Sebastião.

Deste Lado do Espelho

Habitante do 'Cavaquistão': 'Cabaco ! Cabaco ! Cabaco ! Cabaco ! Cabaco !'

A haver segunda volta...

... um dos candidatos vai ter menos de um voto. Porque como neste moderno país temos de nos deslocar ao lugar de residência para votar (mesmo que se um estudante da Universidade do Algarve, em Faro, for oriundo de Bragança), e eu tenho mais do que fazer do que ir à santa terrinha em época de frequências.

João Campos

E tudo por uma cruzinha

Um gajo tem de fazer quase quinhentos quilómetros de comboio em pouco mais de 36 horas, estar um fim-de-semana desligado do mundo (leia-se sem internet) e com os níveis de nicotina a cair para níveis quase stressantes apenas para colocar uma cruzinha num de seis candidatos à presidência desta república, sendo que nenhum desses seis candidatos representa a sua "ideologia", a sua forma de entender o mundo e o país. Votar não é, efectivamente, um dever; mas, para direito, gera demasiada frustração e cansaço. O próximo que me apelidar de "fascista" leva chumbo.

João Campos

sábado, janeiro 21, 2006

Miss Presidente

Ó filhos ! Se fossemos a votar pela beleza física, estavamos feitos. Talvez o avô Jerónimo, com aquela poupa à galã dos anos 50, leve algumas contemporâneas a darem-lhe a cruzinha. E o avô Alegre, com aquela voz que Deus lhe deu ? Que bom deve ser ouvir uma voz assim, a sussurrar coisinhas doces ao ouvido ... Mas, enfim, não são bonitos os nossos políticos, de uma maneira geral (também, em que país é os políticos são Adónis ?). Por isso, para a próxima eleição, proponho que os candidatos sejam todos de Paulo Pires para cima.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Ensaio sobre a coerência

Quando tento resumir em exíguas e concisas palavras aquilo que esta batalha presidencial trouxe ao país choco de frente, como um qualquer acidente frontal no IP5 em época de Inverno, com o vazio que a mesma, em si própria, encerrou. Nesse laborioso trabalho intelectual, ou pelo menos na tentativa de o fazer, encontro uma ideia que talvez alguém que leia este blogue veja como coincidente com o seu pensamento. É a seguinte:
Se tentarmos analisar antropologicamente o país chegamos facilmente à conclusão que em muitos de nós a rejeição do ideal monárquico prende-se com o facto de acharmos, consciente ou inconscientemente, que a figura do possível sucessor ao ‘trono’, Duarte Pio, transmite uma imagem generalizadamente tida como ridícula porque se exprime de uma maneira peculiar, tem fracos dotes oratórios e de retórica, tem uma grave falha na dicção e até porque a sua aparência física em nada ajuda ao compor do quadro.
Ora o pensamento que me anda a fervilhar na cabeça nos últimos dias é que, confiando nas sondagens até agora feitas, este país preparar-se-á para eleger um Presidente da República EXACTAMENTE com as mesmas características, sem tirar nem pôr, até mesmo possuindo três intrigantes e pomposas verrugas no rosto. Para além disso, a maioria dos cidadãos eleitores acha, legítima e convictamente, que essa é a melhor escolha para representar uma Pátria com oitocentos e sessenta e seis anos de História – que não é exactamente a mesma coisa que saber minuciosamente o comportamento do modelo económico AS-AD na economia portuguesa, europeia ou mundial.
Se porventura esta fosse uma nação onde um dos valores nacionais mais valorizados fosse a coerência (que não é definitivamente o caso) todos poderíamos ser convictamente monárquicos já que ficaríamos impossibilitados de usar o argumento de o sucessor ser quem é. É curioso!

João Teago Figueiredo

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Salvação Nacional












Com esta tendência bastava mais uma semaninha e a Pátria estava salva.

João Teago Figueiredo

terça-feira, janeiro 17, 2006

p.s.

(link)

And the Oscar goes to
: Laura Linney.





(Ah não ganhou? Ah nem sequer foi nomeada? Ah. Merda, então).

Susana

sábado, janeiro 14, 2006

'The unspeakable vice of the Greeks'

Ainda a propósito da recente legalização dos casamentos homossexuais na Grã-Bretanha ... Viram Sir Elton John todo feliz com o seu David Furnish ? O amor é lindo ... e, ( como diz Miguel Esteves Cardoso, num título que tenho em lista de espera ), f*****. Muita água correu, no Tamisa, até ser possível a estas duas almas apaixonadas mostrarem as alianças ao mundo !
Quis o destino, o subsídio de Natal, a Amazon, e, já agora, quis também eu, que viessem parar aos meus écrãs dois filmes sobre ser-se homossexual, na Grã-Bretanha do início do século XX. Um intitula-se 'Maurice', o outro 'Wilde'. Este último, é sobre Oscar Wilde. O primeiro é uma adaptação do romance com o mesmo nome, da autoria de E.M. Forster. Comecemos, então, por aqui.
A acção de 'Maurice' passa-se, no reinado de Eduardo VII, no período que antecede a Primeira Grande Guerra. Tudo muito 'upper-middle class', com um pé na 'gentry' (pequena nobreza rural) e outro na 'working class. A produção de Ivory/Merchant é meticulosa e dá um retrato muito convincente da época. Cenários de luxo, senhoras muito bem vestidas, very good-looking gentlemen, uma iluminação preciosa e até um mordomo de ar cínico, que 'sabe de tudo', mas que se mantém, convenientemente, calado. Coisa feita the British way, portanto.
Sendo este romance a história de um homem, 'Maurice' conta, ao fim e ao cabo, o percurso de quatro homens: Maurice, lui-même, Clive Durham, o visconde Risley e Alec Scudder. Os três primeiros são 'upper-middle class', o último é o guarda-caça da propriedade de Clive Durham, o esquire. Os quatro têm, em comum, a sua orientação homossexual.
Exceptuando a Grécia antiga (como é que será na moderna ?), a homossexualidade sempre foi olhada com incómodo ( e, deixemo-nos de coisas. Apesar da onda de legalizações que vai por esse mundo, ainda vai passar muito tempo, até que seja aceite 'como natural'). Na Inglaterra dos anos 10, era considerada mais do que um estigma social. Era uma vergonha, um crime ! Quem fosse apanhado fornicating another fellow, arriscava pena de prisão, com chicotadas ou trabalhos forçados. Foi o que aconteceu ao 'snob' visconde de Risley, surpreendido, pela Polícia uma noite, à saída de um bar, numa esquina, aos beijos a um soldado. Risley tinha sido colega de Maurice e de Clive, em Oxford. Sendo de uma classe social superior, é acusado, pelo juíz de subjugar e de se aproveitar da fraqueza de um 'seu inferior social'. O visconde tenta socorrer-se de Clive, que saira da universidade formado em Direito. Mas, Clive não se atreve a enfrentar a ignomínia de se ver associado a um companheiro caído em desgraça, e, é encolhido atrás do chapéu que vê o outro ser condenado a seis meses. Dos quatro, Clive Durham será o que não vai assumir a sua condição, preferindo o casamento, como fachada. A atitude cobarde ( ou prudente ? ou realista ? ) que toma, esmaga-o e deprime-o, porém. Durante o jantar, que lhe é oferecido em casa de Maurice, e enquanto as senhoras riem de copo erguido, o pobre recém-advogado desmaia. O amigo socorre-o e prepara-se para cuidar dele ( ajuda-o a deitar-se, põe-lhe a botija de água quente, despeja-lhe o bacio ... ). O médico, entretanto chamado, trata de apontar a Maurice a porta do quarto, perguntando-lhe com um olhar desconfiado, 'se não quer também desmamar o bébé' ( !!! )
Cumpre dizer, aqui, que Clive e Maurice se tinham apaixonado, em Oxford. Porém, enquanto o segundo ( ainda sem ter bem consciência do que lhe sucedia ) se quer dedicar, de alma e coração ... e corpo ao amigo, este recusa-lhe as carícias, preferindo que as coisas fiquem pelo campo do amor platónico. Após Oxford, Clive dedicará a Maurice uma amizade possessiva, convidando-o, constantemente, para a sua propriedade. Para Maurice, é um autêntico suplício de Tântalo, ter tão perto o seu amado e não poder tocar-lhe, acariciá-lo ... mas, lá vai passar grandes temporadas em Pendersleigh, onde o espera uma grande surpresa, chamada Alec Scudder.
Esta é uma personagem que tem o seu quê de canino. É um jovem que, na sua qualidade de guarda-caça, segue os senhores, quando estes vão caçar coelhos. É ele que apanha as peças e as leva no bornal. É, também, ele que ronda pela propriedade, enquanto os senhores dormem. É ele, por fim que, numa noite, vislumbra e se deslumbra com Maurice, debruçado da janela, a refrescar-se, debaixo do forte aguaceiro que caía, e com o qual tentava acalmar o desejo que o espicaçava. Muito subtilmente, Scudder vai insinuar-se na vida do hóspede de Pendersleigh, como a chuva que teima em infiltrar-se na fenda de um telhado.
Esta imagem é real, no contexto da história. Estão os senhores e as senhoras, num serão, a jogar às cartas, quando, de repente, começa a cair água de um buraco do tecto, pois lá fora estava pouring down with rain. Scudder é chamado, recebendo ordem para, de manhã, 'atacar o telhado' ... que fica do lado de fora do quarto de Maurice. O rapaz cumpre a ordem, deixando ficar, encostada à parede uma longa escada de madeira ... Na noite seguinte, depois de, mais uma vez buscar acalmia ao frio, Maurice deita-se, inquieto, deixando aberta a janela. E, de repente ...
... vê, perplexo, Alec Scudder passar o parapeito e dirigir-se a ele, dizendo 'I know, sir, I know, lie down, sir' e começar a beijá-lo, a penetrá-lo e a consolá-lo, como a chuva que cai numa terra ressequida. A cena é filmada com tão bom-gosto, que é difícil não aceitar a ternura que nasce entre ambos os rapazes. Normalmente, a imagem de dois homens, a trocar carícias, faria recuar o espectador mais enjoado. Aqui, porém, tudo é contado de um modo tão natural, que é como se Alec e Maurice fossem um do outro e um para o outro, até ao fim dos tempos, sem preceito, nem preconceito ! Deixa de se ver uma história de amor entre dois homens, passa a ver-se, somente, uma história de amor.
A relação que nasce, nessa noite, vai ser igual a qualquer outra. Há arrufos, amuos, mal-entendidos, pequeninas ciumeiras, olhares que se procuram e se desencontram, olhares que se encontram e só eles é que sabem porquê ... Maurice, mais agrilhoado pelas normas sociais, terá ainda dificuldade em assumir o assunto com Alec. Este, por sua vez, sendo um membro ineducated da working class, pouco tem a perder. Do dois, é o mais decidido, o que vai em frente, sem pruridos. Um dia, depois de duas noites, em que esperara, em vão pelo amigo, na casa do barco, resolve meter-se no combóio e ir confrontá-lo ao local de trabalho. Nem mais nem menos que a city de Londres, onde Maurice trabalha, como corretor da Bolsa. Alec, que mostra não ser para brincadeiras, sabe tocar as teclas certas, para 'chamar o amigo à pedra'. Acusa-o de o fazer de parvo e ameaça denunciá-lo. Para Scudder, não há cá leis, há somente o amor que sente pelo amigo. Quer ser tratado em público da mesma forma que foi tratado entre lençóis, e pronto ! Depois de resolverem a sua divergência, combinam dormir juntos, nessa noite. É que, daí a dois dias, Alec emigrará para a Argentina, viagem para a qual já tinha comprado a passagem algum tempo antes ... (continua)

sexta-feira, janeiro 13, 2006

As imagens dizem o que quisermos

Anda a circular na blogosfera uma imagem de Cavaco Silva um tanto ou quanto "alienígena". Cortesia Frangos para Fora:















Não conheço a imagem (desvantagens de não ver televisão), mas não creio que seja uma fotografia. Não parece. O que parece ridículo - sim, admitamos, Cavaco está francamente desfavorecido (eufemisticamente falando) - tem, na verdade uma explicação muito simples. Experimentem a gravar um telejornal em vídeo. Depois, vejam a gravação, interrompendo a imagem aleatoriamente enquanto os pivots falam. Verão as mais absurdas expressões faciais - coisa que, numa imagem fluida, jamais se conseguiria perceber. O audiovisual tem destas coisas.

João Campos

quinta-feira, janeiro 12, 2006

"E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto, o que vos interesse para viver"

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-1a.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
multas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

Jorge de Sena, Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Sobre o meu post anterior:

Não se trata de eu ser fumador e estar a defender a minha dama. Ou melhor, até é isso, mas reduzir-se a minha opinião a esse ponto é não (querer) ver o essencial. Porque, na verdade, toda esta questão do tabagismo está muito para além disso. Que o tabaco faz mal, eu sei. Mata. Pois mata. Prejudica a saúde até daqueles que não fumam. No entanto, se não fumar é uma opção, uma escolha individual, fumar também o é. E por isso tem de ser respeitada.

O que não acontece. Concordo que quem não fume não tem de ser prejudicado por quem fuma - e, por isso, apoio a proibição em espaços públicos. No entanto, se um posto de correios, uma repartição de finanças, um ministério, uma esquadra de polícia são, efectivamente, espaços públicos, a mesma restrição não poderá ser aplicada de forma leviana a bares e restaurantes, uma vez que não são de todo espaços públicos. Serão, sim, espaços onde só irá quem quer. Por isso, aos donos dos estabelecimentos caberá decidir se o espaço será fumador ou não-fumador. Paralelamente, ao cliente caberá escolher se frequentará ou não aquele espaço.

Com o que não poderei concordar será com campanhas anti-tabagistas que promovem a intolerância e a marginalização daqueles que, note-se, pagam essas mesmas campanhas. Sim, porque os 20 cigarros que um maço contém não valem 2,50 euros. Muito mais de metade é imposto. Um imposto que, creio (mas posso estar errado), também financia, pelo menos em parte, o ridículo serviço nacional de saúde. Tudo bem; até se aceita. O que não se pode aceitar é uma restrição ao emprego por se ser fumador (já acontece). Ou uma proibição que chegue à esfera mais privada da vida pessoal. O que está em causa não é a saúde pública; essa é a mentirinha demagógica dos paladinos da vida eterna. O que está em causa é uma gravíssima violação dos direitos do indivíduo. Do livre arbítrio. Ninguém escolhe viver. Se alguém quer fazer uma escolha que o pode matar, tem o direito de a fazer, desde que essa escolha seja consciente e responsável.

Mas para aqueles que adoram estas campanhas, descansem: também sobrará para vós. Quando a humanidade estiver toda de pulmões branquinhos como se tivessem sido lavados com Tide, e os fumadores - os novos leprosos do século XXI - estiverem todos de quarentena numa qualquer ilha remota, a cruzada da saúde pública incidirá sobre o café. Depois, sobre o álcool. Depois, sobre a má alimentação da actualidade, e da defesa de uma dieta vegetariana (ou algo que o valha). And so on. Até que, por fim, a humanidade será pura, imaculada e perfeita. Mas sem qualquer vestígio de humanidade. Ou de sanidade.

E então terá lugar a suprema ironia: essa nova "humanidade" perceberá que a carne apodrece, e que continua a morrer. Que não é imortal. Que não é, afinal, perfeita. E, nesse dia glorioso, o meu cadáver (consumido por uma vida de depravação) dará uma sonora gargalhada.

João Campos

Cada vez mais me convenço disto

Não só porque o sinto na pele, mas porque é esse o feedback que me devolvem (às vezes de forma explícita) os que me rodeiam: eu sou completamente anormal. O que, tendo em conta o que se está a tornar norma nesta triste sociedade, é algo extremamente positivo.

Susana

terça-feira, janeiro 10, 2006

Isto deve ser do ano novo, só pode

Deste Lado do Espelho

Deste Lado do Espelho

Ó diabo ! Estou a repetir-me. Como é que foi isto ? Será virus ou arterioesclerose ?

Deste Lado do Espelho: Happy birthday to us!

Deste Lado do Espelho: Happy birthday to us!

Tenho andado perdida, desde o fim do ano, a espreitar 'maus caminhos' ... :P É por isso que ainda não passei ao Mendes o recado que o Johnny me pediu.

Volto à casa confortável que é este espaço e descubro que 'já passou um ano'. Creio, se a memória não me falha, que sou a 'benjamim' da família DLADE. ENTÃO, 'HERE'S TO YOU' e 'MANY HAPPY RETURNS, DESTE LADO DO ESPELHO'! É para mim uma honra partilhar um local bem frequentado, com boas ideias. Não nos deixemos vencer pelo pessimismo, porém. O futuro só pode ser melhor ! ( Bem, esperemos que não nos metam numa guerra ... e que a crosta terrestre se mantenha o mais quietinha possível ... e que as aves vão espirrar para bem longe ... e ...)

Deste Lado do Espelho: Happy birthday to us!

Deste Lado do Espelho: Happy birthday to us!

Tenho andado perdida, desde o fim do ano, a espreitar 'maus caminhos' ... :P É por isso que ainda não passei ao Mendes o recado que o Johnny me pediu.

Volto à casa confortável que é este espaço e descubro que 'já passou um ano'. Creio, se a memória não me falha, que sou a 'benjamim' da família DLADE. ENTÃO, 'HERE'S TO YOU' e 'MANY HAPPY RETURNS, DESTE LADO DO ESPELHO'! É para mim uma honra partilhar um local bem frequentado, com boas ideias. Não nos deixemos vencer pelo pessimismo, porém. O futuro só pode ser melhor ! ( Bem, esperemos que não nos metam numa guerra ... e que a crosta terrestre se mantenha o mais quietinha possível ... e que as aves vão espirrar para bem longe ... e ...)

Deste Lado do Espelho: Happy birthday to us!

Deste Lado do Espelho: Happy birthday to us!

Tenho andado perdida, desde o fim do ano, a espreitar 'maus caminhos' ... :P É por isso que ainda não passei ao Mendes o recado que o Johnny me pediu.

Volto à casa confortável que é este espaço e descubro que 'já passou um ano'. Creio, se a memória não me falha, que sou a 'benjamim' da família DLADE. ENTÃO, 'HERE'S TO YOU' e 'MANY HAPPY RETURNS, DESTE LADO DO ESPELHO'! É para mim uma honra partilhar um local bem frequentado, com boas ideias. Não nos deixemos vencer pelo pessimismo, porém. O futuro só pode ser melhor ! ( Bem, esperemos que não nos metam numa guerra ... e que a crosta terrestre se mantenha o mais quietinha possível ... e que as aves vão espirrar para bem longe ... e ...)

Deste Lado do Espelho: Happy birthday to us!

Deste Lado do Espelho: Happy birthday to us!

Tenho andado perdida, desde o fim do ano, a espreitar 'maus caminhos' ... :P É por isso que ainda não passei ao Mendes o recado que o Johnny me pediu.

Volto à casa confortável que é este espaço e descubro que 'já passou um ano'. Creio, se a memória não me falha, que sou a 'benjamim' da família DLADE. ENTÃO, 'HERE'S TO YOU' e 'MANY HAPPY RETURNS, DESTE LADO DO ESPELHO'! É para mim uma honra partilhar um local bem frequentado, com boas ideias. Não nos deixemos vencer pelo pessimismo, porém. O futuro só pode ser melhor ! ( Bem, esperemos que não nos metam numa guerra ... e que a crosta terrestre se mantenha o mais quietinha possível ... e que as aves vão espirrar para bem longe ...e ...)

domingo, janeiro 08, 2006

Farewell

Ontem, O DNA e a Grande Reportagem, dois excepcionais suplementos do Diário de Notícias, conheceram a sua derradeira publicação. E, de repente, o mundo jornalístico em Portugal fica mais pobre.

João Campos

Um ano

Há um ano atrás estava o mundo na ressaca da catástrofe que devastou o sudeste asiático, e os jornalistas portugueses misturavam alegremente os conceitos maremoto e tsunami. O primeiro post deste blog foi precisamente sobre isso. Agora que fazemos um ano, não tenho tsunami para esclarecer - e ainda bem. Por isso, agradeço - aos camaradas de blog, que tornaram este desafio numa experiência fantástica, e aos leitores deste blog, tanto aqueles que deixam comentários (anónimos ou não) ou que optam pela leitura silenciosa. A todos, obrigado! Há médias, vodka e whisky cá no bunker, para quem quiser vir festejar (descansa, Carlos, que não há Favaíto)!

João Campos
O cristianismo precisa de uma revisãozinha há muito, muito tempo. Concordo contigo. Também Lutero concordava, e vai daí, espetou lá na porta da catedral de Wittenberg as 95 Teses contra as Indulgências. E, por isto, não posso concordar contigo quando generalizas o cristianismo. As confissões protestantes têm formas diferentes de encarar os ideais cristãos. Mas muito mais não poderei especificar, visto professar nenhuma religião.

Não li Kant. Não sei nada do que ele disse ou pensa. Falha minha, bem sei, mas preferi estudar as teorias de Freud no 12º ano. Mas esquece o debate público. É só demagogia. As coisas não precisam de estar correctas - basta serem bem recebidas pelo público.

Todos os tipos de família são válidos. Quase todos, sim, são desprezados pela Igreja. É verdade. Mas que esperavas? A Igreja é uma instituição religiosa fundada sobre dogmas sólidos há dois mil anos. Não se muda de um dia para o outro. Sobretudo se pensares que nos séculos XIX e XX o mundo mudou a uma velocidade espantosa. Sei que disse acima que a Igreja precisa de revisão há mais de quinhentos anos. É muito tempo. Desde essa altura, muitas coisas foram revistas. Ainda há um longo caminho a percorrer.

Mas o papel da Igreja em Portugal nos dias que correm é, a bem dizer, irrelevante. Fala sobre isto ou aquilo, e volta e meia serve para a Esquerda fazer campanha (como a história dos crucifixos). As disciplinas religiosas são facultativas, como devem ser. Em breve pagará impostos, se não os pagar já. Acredita que nada na nossa triste sociedade mudará para pior por obra e graça de algum espírito santo.

João Campos

Efeméride

Reparei agora que se escreve deste lado do espelho há um ano.
Queria, por isso, felicitar especialmente o João por ter conseguido construir um espaço tão dinâmico e interessante como este. Queria, também, dar os parabéns aos restantes companheiros de prosa e que este espaço continue a contar com os seus escritos por muito mais tempo.
João Teago Figueiredo

Caros co-bloguístas:

Parabéns!

Susana

Então e a Filosofia? (ou Se me permites um pequeno esclarecimento em meia dúzia de pontos:)

João,

A intenção não era descrever a doutrina cristã. Até porque se fosse, teria de enumerar mais uma série de pontos ridículos.

Não especifico porque não senti necessidade de especificar. Do que queria falar (e falo) era do Cristianismo (daí o título!).

Acredito na paz, no amor e na fraternidade e nunca tive aulas de Moral e Religião. Aliás, prefiro chamar-lhe "Ética". Antes de terem inventado Cristo, já Sócrates (que "negou os deuses da pátria") tinha preferido morrer por aquilo a que chamas "ideais cristãos". Só que Sócrates (Platão) ninguém leu e pela Igreja já morreram milhares!

Os pontos que refiro são, também, os mais surpreendentes! Era, talvez, nesses que devia ser mais flexível! (Even if I don´t give a damn). Volta e meia despontam no debate público e está-se uns dias a "mandar postas" sobre o assunto. Give me a break! (Antes (re)ler Kant e a sua Fundamentação Metafísica dos Costumes, if you know what I mean).

À tua lista de "tipos de família" (todos inaceitáveis aos olhos da Igreja), teríamos de acrescentar também, nos dias que correm, o young playboy que vive com o cão, a old lady que vive com os 7 gatos, casais de lésbicas, de gays... get it? A família tradicional que o Cristianismo idealiza desapareceu. Má notícia? Talvez. Mas, nos dias que correm, não passa, realmente, de um mito.

Acho que o Cristianismo (e era isso que pretendia sugerir aqui) já levava uma readaptaçãozinha. Façam descer à terra um santo qualquer com uma lista de alterações escrita por Cristo, sei lá! (Damn, que ideia estúpida!).


Susana

E se me permites uma pequena desconstrução:

Susana: eu percebo o que queres dizer, mas acredita que a doutrina cristã não é assim tão linear como a descreves. Até porque não especificas: falas de quem? De católicos? De luteranos? De evangélicos? São confissões diferentes, apesar de todas acreditarem no mesmo Cristo. E tens te ter em atenção que a religião é, em si, conservadora. Isso não pode nem deve mudar. A Igreja não é o Bloco de Esquerda. A sua defesa da "moral e dos bons costumes" é importante nos dias que correm - não para que a sigamos cegamente, mas para que saibamos onde está o outro extremo do fucking free for all em que vivemos. E, em termos de educação católica, não há nada a apontar: ou não provasse a história que com os ataques sucessivos dos nossos pseudogovernos laicos à Igreja a qualidade do ensino em Portugal caiu substancialmente. Não quero com isto dizer que todos devêssemos ter Religião e Moral. Apenas quero dizer que os ideiais cristãos - paz, amor, fraternidade - não são maus, pelo contrário. Os pontos em que tu atacas a Igreja são os mais fáceis.

A família não é um mito. A família é uma realidade, a primeira instância da socialização (da socialização primária). Que seja maior ou mais pequena, monoparental ou composta por avós e netos, ela existe. Nem que ela seja, apenas, os teus amigos - certamente que terás amigos para com os quais terás laços afectivos muito maiores do que para com familiares teus (biológicos).

Cuidado com o feminismo. Ser feminista é diferente de ser emancipada. O feminismo é, para mim, um embuste nos dias que correm. Aquela história de queimar soutiens por serem, alegadamente, objectos opressores, é ridícula. A importância do feminismo foi, apenas, mostrar o outro extremo. Agora temos um happy medium in between. O mundo está melhor? Pois está. Mas não entremos em extremos. Todos sabemos que não nos levam a lugar nenhum.

João Campos

Separação

Condenar a separação é condenar o próprio amor.

Susana

Cristianismo

Qualquer coisa que, nos dias que correm, condene algumas das necessidades mais naturais do ser humano/social (como a separação entre os straights e o sexo entre os gays), que afirme a superioridade dos homens sobre as mulheres (biologicamente determinadas para serem mães e um complemento emocional da racionalidade dos homens) e que aponte as feministas (that is, qualquer mulher que considere que ter um emprego e participar - de forma consistente, consciente, responsável e, sobretudo, útil - na vida do país e do mundo é mais interessante que ficar em casa raising children) e os homossexuais como os principais inimigos da sociedade, por ameaçarem a família (esse mito!) enquanto instituição central - só pode ser uma coisa muito estúpida.

Susana

sábado, janeiro 07, 2006

Silogismo

Imagine-se um pedaço de queijo suíço, daqueles cheios buracos.
Quanto mais queijo, mais buracos.
Cada buraco ocupa o lugar em que haveria queijo.
Assim, quanto mais buracos, menos queijo.
Quanto mais queijos mais buracos, e quanto mais buracos, menos queijo.
Logo, quanto mais queijo, menos queijo.

João Campos

(Maria Helena, se não se importar, faça este post chegar ao Jorge Mendes e depois conte-me o que ele achou:) )

Dá-me música

Num almoço de campanha em Grândola, Cavaco Silva ouve a canção imortal de Zeca Afonso, Grândola, Vila Morena. De imediato a esquerda reage, acusando-o de oportunismo político. Ridículo. Nem vou discutir se Cavaco é de esquerda, de direita, ou de qualquer coisa ali no meio. Mas não deixa de ser curiosa a reacção - como se a música de José Afonso, apropriada pelo MFA para ser a senha da revolução de Abril, e depois apropriada pela esquerda para ser hino dessa mesma revolução, apenas pudesse ser ouvida por pessoas de esquerda. Como se fosse propriedade da esquerda, e qualquer político de direita que a ouvisse em público estivesse a ser oportunista. É impressionante que em pleno século XXI haja quem ainda pense assim. A música é apolítica, independentemente da mensagem das suas letras. Também eu admiro José Afonso, e de certeza que não sou de esquerda. Também eu admiro System of a Down, quer a música quer as letras, e não sou nada anti-americano. Serei incoerente? Talvez. Mas a escolher política ou música, venha a música.

João Campos

Saiu-lhe o Euromilhões

Primeiro que tudo queria desejar mais um ano cheio de excelentes posts aos meus companheiros de blogue, que tão bem têm contribuído para um esforço de oposição à tendência social gritante para desvalorizar quem tem opiniões próprias e quem valoriza e enaltece a língua portuguesa. Bom ano!

Num destes dias dou por mim a passar os olhos por uma folha de um qualquer jornal diário português onde vinham os orçamentos eleitorais para a batalha a Belém que se avizinha. Pode parecer suspeito, até mesmo parcial, o comentário que vou tecer de seguida, por nutrir (como eu, mais alguns milhões) uma certa antipatia com o Sr. Silva, parece-me até que o senhor é mestre na arte. De facto, não se trata disso. Vejo nessa folha de jornal, apelidado de “jornal de referência”, que esse candidato vai despender o insignificante montante de 3 milhões de euros em actos propagandísticos.

Se bem me lembro essa mesma figura paladina da contenção e do rigor apresentava como uma das suas “mais valias” o seu pretenso suprapartidarismo. Ora esse tipo de atitude sugere-me alguns comentários que me parecem bastante sensatos para um cidadão minimanente atento e curioso.

Se esse candidato não se quer ver associado na campanha a esses partidos, eu compreendo, até entendo num quadro de estratégia eleitoral.

Que não queira aparecer em cartazes onde esteja o Santana Lopes, percebo ainda melhor.

Agora quando se vem para uma campanha eleitoral falar de candidaturas suprapartidárias que conseguem as 7500 assinaturas necessárias num ápice, fazem acções de campanha em todo o país com uma logística equivalente à partida do Lisboa-Dakar e têm um orçamento de 3 milhões de euros para jantares e sacos plásticos, eu pergunto:

Será que o Senhor é assim tão rico que ele próprio paga esses 3 milhões de euros alegre e descontraidamente porque, de um momento para o outro, achou que “Portugal precisava dele”? Não será antes ele a precisar do partido para pagar as contas?

João Teago Figueiredo

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Happy birthday to us!

Grande memória, Carlos! Pois é, eu nesta azáfama toda de trabalhos e testes fantasma (cof cof) já me esquecia. As médias? Pois claro, as médias! E a Moskovskaya, e o William Lawsons, e o Bayleys! E o Português, que isto há que aproveitar enquanto os orwellianos de serviço não proíbem cada víciozinho privado em nome das públicas virtudes!

Agora a sério: dia 8 festeja-se, aqui, o primeiro aniversário do Deste Lado do Espelho - até à data, o mais longo e interessante projecto blogosférico em que me envolvi. Interessante graças aos outros residentes: Carlos, Susana, João, Alexandre, Maria Helena. Abraço ao Miguel, que já não está na casa, mas cujos belos posts podem ser lidos e relidos nos arquivos. Dia 8 conversamos (e bebemos!)

João Campos

P.S.: mas desta vez, que ninguém se atire para a fonte do Rossio, sff.

terça-feira, janeiro 03, 2006

Sem título

Deste Lado do Espelho

Vivó blogue mais 'cool' , 'a oeste de Pecos'. It's good to be back home !

domingo, janeiro 01, 2006

Resolução de novo ano

Nunca mais beber Favaíto.

João Campos, Carlos Barrocas e Susana Santos