sexta-feira, dezembro 30, 2005

Palpites infelizes


"A minha invenção pode ser explorada como uma curiosidade científica por algum tempo mas não tem futuro comercial." Auguste Lumière, inventor do cinema, 1895

"A televisão não vai ficar no mercado mais de 6 meses. As pessoas vão-se cansar de olhar para uma caixa todas as noites." Darryl F. Zanuck, presidente da 20th Century Fox, 1946

Susana

Uma confissão de Henry Miller

«Todas as minhas melhores leituras aconteceram na casa de banho. Há excertos de Ulisses que apenas na casa de banho se podem ler, se quisermos saborear completamente o seu conteúdo».

in Uma História da Leitura

Susana

Balanço do Ano

Balanço do ano? Sócrates lidera PS no Governo com maioria absoluta. Défice das contas públicas sobe à estratosfera e a continuar assim ameaça fazer cair a Estação Espacial Internacional. A Selecção apura-se para uma competição internacional sem precisar de esperar para ver os resultados dos outros (onde é que já se viu!). Fátima volta a aparecer - mas não a santa, que esta, de santa, nada tem. Corruptos ganham câmaras municipais. As eleições permitiram que as obras nos acessos cá de Sabóia começassem, mas estão paradas há um mês (prevê-se a conclusão daqui a quatro anos). Assim como permitiram o assassinato político de Carrilho. Menos mal. Arrancam as presidenciais. 13 candidatos, cinco a aparecerem nas televisões. Uma vergonha nacional. No meio disto tudo, salva-se o Benfica ter sido campeão.

João Campos

third watch

Leitura recomendada de fim de ano: os filhos do viúvo, por Rui A., no Portugal Contemporâneo.

João Campos

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Bibó Natal !

A todos os combloguistas e suas famílias, desejo um bom 2006 ( embora o ti' Sócrates já tenha vindo dizer que temos que ter paciência e que colaborar. ( Nós temos, Xô Primeiro-Ministro, nós colaboramos. Que remédio ! )

sábado, dezembro 24, 2005

Cartas ao Pai Natal V

(até porque estamos na época do bolo-rei)

Excelentíssimo Senhor Doutor Pai Natal,
Venho por esta via pedir para a minha Maria
O Kama Sutra, versão condensada.
Não sei se a minha Maria teria
Para a versão completa e ilustrada
Suficiente pedalada.
Eu, para mim,
Por ora nada peço.
E de momento nada digo.
Não abdico do meu direito de manter o suspense
E de fazer tabu do meu posterior pedido.
Mas.... E só isto adianto:
Não preciso de Viagra
Para acompanhar a minha Maria na leitura
Do acima citado livro,
Que teso e hirto ando eu sempre,
Não precisando, por isso, de muleta
Ou qualquer outro suplemento
Para manter a rigidez
E o meu porte sobranceiro.
Despeço-me atentamente, economizando palavras,
Porque como vossa Excelência sabe:
Os tempos são de crise e tempo é dinheiro.

Assina: Professor Doutor Cavaco Silva

João Campos

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Deste Lado do Espelho

Vivó Manel ! Vivó Marocas ! Vivó Cavaquinho ! Vivó Jerónimo ! E vivó Xiquinho !

Cartas ao Pai Natal IV

Isto não é uma carta!
É um manifesto. Um protesto. Uma petição
Assinada por dezenas de intelectuais
E outras pessoas que jamais
Se reviram numa festa.
Bacanal.
Orgia de oferendas
Dadas sem qualquer critério,
E que perpetuam uma tradição
Caduca. Reaccionária. Clerical.
Que tu representas, ó Pai do Natal.
Com esta petição pretendemos
Que a data seja referendada;
Não imposta, decretada
Por um estado economicista e liberal.
E que seja celebrada quando um homem quiser
Não à roda da mesa. Consoada.
Mas num portuguesíssimo arraial.

Assina: Francisco Louçã

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Deste Lado do Espelho

Agora, quero ver um debate entre os cinco candidatos, todos n�s, na lama ...

terça-feira, dezembro 20, 2005

Coisas simples (?) que não consigo entender

Porque raio toda a gente diz que fulano ganhou o debate e sicrano perdeu o debate? Estamos a falar de um debate - de uma troca de ideias - ou de uma partida de râguebi?

João Campos

Serviço público

Estou a seguir o debate entre Soares e Cavaco. Mas não pela televisão. O Blasfémias e O Insurgente estão a assegurar o serviço público.

João Campos

domingo, dezembro 18, 2005

Cartas ao Pai Natal III

Pai Natal,
Quando voares nos céus da minha Pátria,
Quando aterrares as renas nas planícies do meu País
Lembra-te desta carta, pedido singelo,
De um homem que só para a Pátria pede.
Para si... Nada quis.
Se o nevoeiro que levou D. Sebastião
Te fizer perder o rumo e baralhar o norte,
Segue o cheiro a verde pinho,
Ouve a minha trova no vento que passa
E chegarás às chaminés do meu país.
Pátria desafortunada. Sem euros. Má sorte.
Numa das chaminés de Lisboa,
Sentirás o odor e verás o fumo negro da traição.
Que o teu trenó sobre ela paire,
Que sobre a chaminé de Soares a tua rena páre
E solte bosta. Um imponente cagalhão.

Assinado: Manuel Alegre

E, já agora, sobre o TGV

Uma vez que o TGV espanhol vai chegar a Vigo, por que não reforçar os nossos serviços Inter-Cidades e Alfa-Pendular até à cidade espanhola? Se formos minimamente realistas, percebemos que o volume de potenciais passageiros para a linha de alta velocidade não a compensará neste século (e provavelmente nem no outro).

Curiosamente, o Governo fala em ligação ferroviária à Europa, mas esquece-se da ligação ferroviária de Portugal.... a Portugal. Porque ela não existe. Exemplo:

Um estudante universitário natural de Odemira encontra-se a frequentar o curso de enfermagem no Politécnico de Beja. A estação de Odemira (o maior concelho do país, sem que o Inter-Cidades do Sul faça nele uma única paragem) fica na aldeia de Amoreiras-Gare. A mais de 20 quilómetros. O rodoviária de Odemira não tem transbordo directo para nenhuma das estações ferroviárias do concelho (a saber, Pereiras-Gare, Santa-Clara - Sabóia, Luzianes e Amoreiras-Gare). Ou seja, não há hipótese de sair do comboio e apanhar um autocarro, ou vice-versa. Da mesma forma, não há nenhum comboio regional que saia de Tunes, por exemplo, e vá para Beja. Há os comboios para a estação da Funcheira, apenas. Para ir para a capital do Baixo Alentejo, este nosso estudante terá de ir de táxi até à Funcheira (uma vez que até ficará mais barato do que ir para as Amoreiras) e, uma vez lá, apanhará um comboio regional antiquíssimo - quase relíquia do Fontismo - para Beja. Se quiser um transporte mais cómodo, terá de ir de Regional ou de Inter-Cidades até ao Pinhal Novo, e apanhar novo Regional até Beja.

Note-se que, quando a rede ferroviária nacional foi renovada e electrificada, o ramal de Beja foi esquecido - como foi o ramal de Lagos, desde Tunes a Lagos, e a ligação Faro - Vila Real de Santo António. À imagem do que aconteceu com a Auto-Estrada do Sul, que não serve o Alentejo, mas o turismo algarvio e as férias dos lisboetas, a renovação ferroviária não serviu o Alentejo, mas os amantes do turismo pseudo-tropical que chegado o mês de Julho rumam a Albufeira e arredores.

Isto tudo para dizer o quê? Que há prioridades ao TGV. Eu só falei do meu Alentejo, que conheço bem - decerto que no Alto Alentejo e nas Beiras haverá situações idênticas. A linha interna é uma prioridade. Talvez se o Governo saísse de Lisboa e fizesse um esforço para conhecer o so-called "país real", percebesse isso.

João Campos

O meu candidato

Do que eu gostava era de um candidato de direita. Da direita moderna. Liberal. Que não tenha problemas em assumir-se, sabendo que a Direita já nada tem que ver com o fascismo. É tempo de aniquilarmos esse estereótipo, não?

Cavaco Silva será, quanto muito, social democrata - ou seja, não de direita, mas menos de esquerda. Mas estas discussões nas presidenciais são tão conclusivas quanto debater o sexo dos anjos. O Presidente da República não é Governo. Não tem de aprovar a OTA ou o TGV. Não tem de liberalizar o mercado, promover privatizações ou nacionalizações, convocar referendos sobre o aborto ou sobre o casamento homossexual. Cavaco Silva é um vazio, dizes tu, Alexandre. Pois é. E o que é Mário Soares? Ou Manuel Alegre? Ou Louçã? Ou Jerónimo? Vazios. Soares tinha idade e experiência para ter juízo, e não se radicalizar tanto - qualquer dia, anda a disputar a liderança do Bloco com o Anacleto. Alegre está na sua personnal vendetta - o que é uma pena, um desperdício; Louçã anda na sua cruzada demagógica; e Jerónimo, esse, anda a fazer o que tem feito muito bem: renovar a imagem do PC.

Pessoalmente, não tenho candidato em quem votar. Sei apenas o que não quero: Soares, Jerónimo ou Louçã na Presidência. Este país já está cansado - e se não está, devia - dos desmandos da Esquerda que temos. Mal por mal, venha Alegre. Ou Cavaco. Como nas últimas legislativas, o meu voto não vai ser no meu candidato preferido, mas noutro que impeça os meus "abomináveis" de lá chegarem.

João Campos

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Cartas ao Pai Natal II

Pai Natal,
Acordei agora da sesta. Tive um sonho original.
Conversei com a Maria,
E achamos que não é sonho,
Mas uma ideia genial!
Já fui ministro, primeiro-ministro,
E duas vezes presidente deste país.
Está na hora de mudar de ares.
Aceitar novos desafios
Levar mais longe o nome de Portugal!
Ou o meu nome... Como sempre quis.
Como tu tenho já uma certa idade,
E no ventre a mesma proeminência,
Decidi que para o ano quero ser o Pai Natal.
Portanto...
Olha, pá, faz as malas. Desocupa a Lapónia.
Vou ser eu o Pai Natal.
Tem lá paciência.

Assinado: Mário Soares (Ex-deputado. Ex-Primeiro Ministro. Ex-Presidente da Republica. Ex-Deputado Europeu. Futuro Pai Natal)

João Campos

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Cartas ao Pai Natal I

Quem me lê, quer neste espaço, quer aqui, sabe que há duas coisas que abomino (para além de ser acordado ao ritmo de uma panela de pressão): e-mail forwards e o Natal. No entanto, recebi há dias um e-mail forward sobre o Natal - a minha vida anda particularmente irónica - que merece ser publicado. São as cartas ao Pai Natal pelos cinco candidatos presidenciais mais mediáticos (sim, aqueles que aparecem nos debates). Aqui fica a primeira:

Camarada,
Tu que és explorado pela entidade patronal
Durante a época do Natal.
Usado como símbolo do capitalismo
Para fomentar o consumismo
Desenfreado, descontrolado,
Que enriquece a burguesia
E empobrece o proletariado.
Junta-te a nós no combate
Contra a guerra no Iraque!
Oferece Che Guevara's, não ofereças Action Man's!
Luta pela igualdade feminina!
Não dês Barbies mas Matrioshkas!
Educa as crianças de hoje,
Comunistas amanhã!
Substitui o Harry Potter pelo livro "O Capital"!
Camarada,
Reivindica o teu direito a um transporte decente -
Pára o trenó e as renas,
Que não é veículo de gente operária e trabalhadora!
Como tu, ó, Pai Natal!
Unidos venceremos o imperialismo e os reaccionários!
Viva o Natal dos oprimidos
Viva o Natal dos operários!

Assinado pelo candidato: Jerónimo de Sousa
(Carta aprovada por unanimidade e braço no ar pelo Comité Central do PCP)

João Campos

É pena

Entro num site com um banner de publicidade, que me diz o seguinte:

Your IP Adress xx.yyy.zzz.aa has been traced.
Your operating system is Windows XP.
You are in Los Angeles, California.

Oh, I wish I was...

João Campos

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Presidenciais

Assisto ao debate entre Soares e Alegre, transmitido esta noite pela TVI, e confirmo: o que o doutor Mário Soares tem é uma anti-campanha contra o professor Cavaco Silva.

Susana

over and out

Depois desta longa discussão (para a próxima, fazemos posts mais pequenos), resigno-me à minha suprema condição de diletante. Ao gosto que tenho pelos pequenos prazeres da vida, pelo inúmeros projectos literários que desenvolvo, pelo saber geralmente geral e particularmente particular, pelo ar de Lisboa ao anoitecer, pela beleza inigualável por-do-sol na planície alentejana em Março. Para ser um Carlos da Maia em potência, acho que só me falta a aparência (post it: fazer a barba), a bengala, o dinheiro, uma morada catita, o conhecimento de medicina, um fim-de-semana em Sintra e um amigo como o João da Ega.

João Campos

Para acabar, espero, com a discussão

Hi, sis =) Sobre o que escreves aqui:
Com o João, nesses dois pontos (1. Tudo começa, ou devia começar, em casa; 2. O convívio com os outros também é muito importante para a nossa formação enquanto cidadãos), também eu concordo.
Por "ensinar de forma estimulante" entendo a capacidade de levar o aluno a pensar por si próprio e a participar nas aulas (é disso, afinal, que tenho estado para aqui a falar; foi para proporcionar isso que o ensino da ESCS foi concebido tal como foi; é assim que, na minha opinião, a presença do aluno em aula se torna verdadeiramente "rentável", se me é permitido dizer). O que, pelos vistos, não acontece aí. Também. O que é uma pena...
Sorte a vossa se os professores daí continuam a mostrar-se entusiasmados. Os nossos (e lá vai mais uma generalizaçãozita) sentem-se cada vez mais desmotivados. E, sinceramente, não os censuro. Porque compreendo.
O que tens aprendido sobre o 11 de Setembro e a Comissão Europeia é, sem dúvida, muito interessante. Ajudar-te-á, sem dúvida, a perceber melhor o funcionamento do Mundo. Mas isso também a Pips tentou fazer várias vezes, ao alertar-nos para situações gravíssimas como a aniquilação da biodiversidade na Guatemala e a manipulação genética, e foi literalmente gozada pela maior parte da turma. Sempre que a professora se afastou da matéria para referir factos dessa natureza, não faltou quem dissesse que estava mal, que aquilo assim não podia ser, que ela tinha um programa para cumprir, que, se estavam ali, era para ouvir falar de Habermas e Adorno, que sobre eles é que seria o exame, e não sobre batatas e colones.
Pois é. Acho que, para um aluno de Jornalismo, futuro participante de relevo no espaço público, a aprendizagem de determinadas teorias (nomeadamente, no que diz respeito aos efeitos dos media (Wolf), ao funcionamento do espaço público (Habermas) e à forma como os media determinam aquilo que por nós é considerado "verdade" (Hinnis) e interferem com concepções tão fundamentais como as de "estética" e "qualidade" (Mumford, Adorno)) é fundamental. Para não sermos os tais "ignorantes especializados" de que falava não sei que autor castelhano. Para percebermos o funcionamento da "máquina" em que estamos prestes a entrar. O que aprendemos com Habermas, Mumford e Adorno foi mais do que simplesmente "o que eles diziam"; foram diferentes perspectivas para olhar a sociedade enquanto sistema. E isso não vem escrito nos jornais (como vêm os factores do 11 de Setembro; sobre isto até blogers há a falar, isto até (alguns) blogers explicam muito bem explicadinho). Não menosprezo o trágico acontecimento, nem a Comissão Europeia (sobres estes temas falaremos - com muito interesse da minha parte - para o ano, espero). Por agora, adquirir novos "menus" para pensar a realidade faz-me mais falta. A mim, que tenho mais que preocupar em arranjar "armas" para me proteger da tal "máquina" (e outros sistemas que ela manipula e transforma e degrada) do que propriamente com a Comissão Europeia, que fica lá longe, algures na Bélgica.
O que temos de fazer para estar actualizados também já nós aprendemos aqui, com o professor Rui Coutinho, que nos está sempre a falar, da forma mais divertida que possas imaginar, de como as coisas se passam lá na redacção do DN, que nos leva a exposições de fotografia e, até, a sessões de fotografia pela Baixa-Chiado fora! O professor Paulo Moura, volta e meia, também partilha connosco episódios caricatos de reportagens que já fez. Se isto não é estimular para a nossa futura actividade profissional, então não sei o que seja. Estamos no terceiro ano, na altura certa para começar a perceber estas coisas. Os dois primeiros serviram para aprender teorias de base, para adquirir hábitos de raciocínio. E ainda bem que assim foi.

Kiss;)

Susana

terça-feira, dezembro 13, 2005

"Se eu fosse jornalista, vivia para aquilo"

Mas, oh João, quando referi o Oitava Colina, foi com consciência da sua natureza extra-curricular! É um complemento que pretende ser uma espécie de estágio, um factor profissionalizante. No qual, aliás, só participa quem quer. Em primeiro lugar está, efectivamente, o nosso trabalho de final de semestre; só depois o jornal. A ordem só se inverte se tu quiseres (olha para mim!). Os alunos que, de livre vontade, assumiram o compromisso de participar no número de Janeiro, é evidente que têm de entregar os trabalhos até ao final do mês. Mas só o terão de fazer porque se disponibilizaram para fazer um trabalho que, sorte a deles!, até equivale ao trabalho de final de semestre do Atelier de Jornalismo Escrito.
Liberdade de escolha condicionada? Não percebo... É bem verdade que o professor partiu (compreensivelmente, admitamos) do princípio que todos queríamos participar, mas qualquer um de nós pode muito bem dizer que não está interessado. E receberá a nota no final do semestre de acordo com a qualidade dos trabalhos apresentados, como todos os outros. No heart feelings.
Não estou para aqui a proclamar que devessemos trabalhar obsessivamente para o 8ª Colina (longe de mim!). Acho que devemos ao jornal a dedicação que ele merece: a de um projecto extra-curricular criado propositadamente para proporcionar aos alunos experiência profissional e um espaço onde possam publicar os seus trabalhos. E acho que essa dedicação deveria ocupar um espaço nas nossas vidas, lá entre as cadeiras por fazer e as responsbilidades em casa e as actividades dentro e fora da Escola. Ainda que não sejamos jornalistas, ainda que não sejamos pagos para ser jornalistas.
Mas dizes bem: é uma questão de livre vontade. Cada um faz o que bem entende, cada um responde pelas consequências dos seus actos. O que tenho estado a tentar mostrar é que o quadro de prioridades dos alunos está "do avesso" (seja lá porque razões for; haja ou não solução a médio-longo prazo). Isto de acordo, evidentemente, com os meus valores e com aquilo que acho que está certo. Devia ser como eu defendo, ah pois devia.
Quanto aos bons alunos, se não abrem a boca, dificilmente os professores conseguirão puxar por eles. Tu mesmo o disseste. Agora os alunos que participam, sendo bons ou maus, não ficam de maneira nenhuma condicionados. Esses são, aliás, os que mais ganham, graças ao processo dialéctico que se estabelce entre eles e o professor, qualquer bom professor.

Susana

"O medo não leva ninguém a lugar nenhum"

Pois não. Mas não creio que, neste mundo que não pára de girar em torno de si mesmo, haja alguém com moral para apontar o dedo a outro por ser "medroso".

Eu concordo com quase tudo o que dizes. Não há iniciativa. Não há vontade. Há uma tremenda apatia. Há apenas um interesse: passar, acabar a tortura, sair da universidade, entrar no mercado de trabalho, ganhar a independência. A própria estrutura das universidades e politécnicos dos dias que correm é asolutamente mercantilista. Estão apenas e só a "formar" cavalos de corrida. E não se importam com uma série de componentes que ficam fora do contexto escolar mas que são igualmente importantes para a nossa formação enquanto cidadãos.

Sobre a ESCS? Há lá bons professores, é verdade. Há cadeiras interessantes. Mas quantas cadeiras interessantes não são arruinadas pelas condições de trabalho de que dispomos? E quantas cadeiras inúteis não tivemos nós - sobretudo no primeiro ano - que contribuiram para que alguns dos nossos colegas reprovassem por coisas que nunca quiseram estudar (o meu caso com THP, por exemplo, apesar de nunca ter chumbado). E professores da treta também os há por lá aos pontapés.

Não argumentes com a Oitava Colina. É um projecto alegadamente extra curricular que se intromete demasiado na nossa cadeira de Jornalismo Escrito. Há uma inversão de prioridades, a meu ver gravíssima, na concepção do jornal: em primeiro lugar, devia estar o nosso trabalho de final de semestre; só depois o jornal. No entanto, os nossos prazos ficam condicionados, e por isso para a maioria das pessoas, até sexta será a maratona que se sabe. Tivemos dois meses? Pois tivemos. Mas eu não sou jornalista. Não sou pago para ser jornalista. Sou estudante de jornalismo. Tenho mais cadeiras com que me preocupar. Tenho responsabilidades aqui em casa que pura e simplesmente não posso descurar. Tenho actividades que me motivam - algumas na ESCS (Associação de Estudantes e Comissão de Praxe), outras fora da ESCS (blogosfera, escrita, leitura, simples convívio com amigos). Como tal, não considero correcto que o nosso trabalho se adapte a um jornal para o qual nem sequer nos perguntaram se queríamos participar, quando devia ser o jornal escolar a adaptar-se ao trabalho dos alunos. Se eu fosse jornalista, vivia para aquilo. Sem aulas ou mais actividades para me chatear. Pobre e mal agradecido? Aceito a crítica. Mas não gosto de ver a minha liberdade de escolha condicionada quando ela não tem de ser condicionada. Free will, my dear. It's all about free will.

E com isto volto ao tema original: é tudo uma questão de livre vontade. Os alunos, passe a redundância, têm vontade de não ter vontade. É grave? Sem dúvida. Mas serão esses mesmos alunos a arcar com as consequências dessa sua atitude. Fair trade. Só é pena que os bons alunos fiquem tão condicionados. Aí, cabe aos tais "bons professores" incentivá-los. E, se o não fazem, serão bons professores?

Mas eu percebo-te. Mesmo. A tua intenção é a melhor do mundo. O que defendes é, realmente, o ideal. Devia ser assim. Mas não é. Para estas gerações, é um caso perdido. Nem vale a pena. O trabalho, como defendi, tem de começar nas gerações que estão para vir. Mas não creio que isso aconteça no nosso tempo de vida.

João Campos

The explanation (III)

João,

As generalizações, num texto desta natureza, valem o que valem. E, claro, admitem excepções.
Não duvido de que haja muitos escsianos inteligentes e com sentido crítico, "muito bons alunos". Não é o valor deles que ponho em causa, mas sim a atitude, a falta de coragem. Para arriscar, para romper o silêncio de que falas. Quando dizes que os "bons alunos" poderão ter dificuldades em mostrar-se por estarem "isolados", justificas o silêncio dos mais "timidos", mas não a situação que eu critico (a tendência geral para o silêncio). Situação essa que não tem, quanto a mim, razão de ser. Se nem mesmo o silêncio de um aluno isolado, por mais timido que seja, tem razão de ser! Que vale o silêncio de uma turma inteira perante a possibilidade de contribuir com uma reflexão nossa, com uma experiência? Que vale o silêncio dos outros perante a possibilidade de afirmar uma interpretação (a nossa) diferente da que está a ser exposta, perante a possibilidade de esclarecer uma dúvida? O medo (se é que a palavra se aplica) nunca levou ninguém a lado nenhum. É, afinal, de participação que falamos, for God's sake! Em contexto de aula! Com salas de 25 lugares quase sempre semi-vazias! Com professores que até são uns porreiros e que, precisamente, se esforçam para deixar os alunos à-vontade, em perfeitas condições de poderem expressar livremente as suas interpretações, as suas opiniões. É uma das vantagens do ensino na ESCS, a proximidade entre professor e aluno. Se as aulas fossem dadas em grandes auditórios, e mesmo assim os escsianos fossem convidados a participar (como acontece na Nova; e olha que eles lá debatem, e debatem com professores com o currículo e conhecimento de um Prado Coelho*, de um Tito Cardoso e Cunha ou de um António Marques), como seria? Aos estudantes alemães foi-lhes lido o currículo da professora no início da conferência. Ela é mais que reconhecida na área em questão - pois se é a principal representante da PRIME em Portugal! Se tem artigos publicados em tudo quanto é publicação (nacional e internacional) na área das Relações Públicas! Eles sabiam muito bem com quem estavam a discutir. E, mesmo assim, não hesitaram.
Volto a dizer: não há, a meu ver, razão alguma para se ficar calado (a não ser, realmente, a ausência de ideias e falta de opiniões). Nem mesmo a que tu apontas a propóstito do professor Mário Mesquita. Porque se o aluno sabe ouvir/ler e interpretar, se saber pensar por si próprio, não há-de ter problemas nenhuns em dizer: "Professor, o que eu pude concluir do que ouvi/li foi isto, isto e isto". Ao professor cabe avaliar a nossa reflexão, alertar-nos para pontos que eventualmente não tivemos em conta, identificar, caso existam, erros de raciocínio. Onde foi a nossa geração (e as posteriores) buscar tanta falta de auto-confiança?!
Mas o que mais me revolta nem é tanto, digamos, a "falta de coragem". É, isso sim, a falta de dedicação e empenho. É ver a diferença entre os 3º e 4º anos de Jornalismo, no que ao Oitava Colina diz respeito. É ver a diferença entre os 3º e 4º anos de CE no que diz respeito aos trabalhos da cadeira de LCO. Cada vez menos envolvimento, cada vez menos vontade de trabalhar. Perante tanta apatia e desinteresse, é natural que os professores se sintam desmotivados, é natural que se sintam cada vez menos dispostos a investir nos alunos, a a abraçar actividades extra-curriculares (que tendem a ser menosprezadas precisamente por aqueles a quem se destinam: os alunos!). É isto que me deixa triste. Com professores tão bons que nós temos ali, pá... Tão cheios de vontade de nos ver triunfar!
Mantenho a minha posição: a culpa não é dos professores universitários; é dos alunos universitários. E a quem cabe a responsabilidade de os alunos universitários serem como são? À escola e à família, Como dizes. Sim, talvez...

Susana

* Agora já não, mas durante vários anos sim.

The Explanation (II)

Susaninha:
Tenho alguma aversão a generalizações, por isso não afirmo que os alunos da ESCS são maus. Se assim fosse, poderíamos construir o seguinte raciocínio:

Todos os alunos da ESCS são maus.
A Susana é aluna da ESCS.
Logo, a Susana é má aluna.

O que não é verdade.

O mesmo exercício pode ser feito para as gerações mais novas. Há de tudo. Como há de tudo no que a professores concerne. Evidentemente que se notam diferenças, mas não creio que a nossa geração fosse, no ano da nossa entrada, muito mais crescida do que esta nova. Para nós, que já somos vais velhos e já não nos reconhecemos nos nossos antigos comportamentos (ler o meu diário de adolescente faz-me sentir embaraçado perante mim mesmo), é natural que sintamos um grande abismo. Há, no entanto, algumas diferenças, evidentemente. Agora, se me perguntares qual é a posição predominante, então aí tenho de concordar contigo. Mas não é só na ESCS. Aliás, se pensarmos bem, a culpa nem é do ensino universitário. Não creio que o ensino básico ou o secundário estimulem o debate de ideias, a discussão, a atitude crítica. Por isso considero que iniciativas como o Jogo do Hemiciclo - na qual eu e o Alexandre participámos com muito empenho (e saudade!) - são uma mais-valia extra curricular. No entanto, decerto também sabes que, para parte significativa do corpo docente, actividade extra curricular é sinónimo de trabalho de casa. E deves ter em consideração outro aspecto: será algo complicado para um aluno acabado de chegar à universidade debater com um professor com o currículo e o conhecimento do professor Mário Mesquita, por exemplo. Se esses estudantes alemães de que falaste estivessem, por exemplo, num debate com alguém partucularmente reconhecido na área em discussão (sem tirar crédito à professora de quem falas; penso, por exemplo, num debate sobre Economia com o Doutor António Borges, por exemplo), talvez mostrassem um pouco mais de humildade (mesmo sendo alemães).

Nos alunos, há constrangimentos evidentes. Se pensares bem, nos dias que correm é complicado um "bom aluno" mostrar-se. Numa turma apática, em que reina o silêncio, um aluno isolado (sobretudo se for mais tímido) terá sérias dificuldades em mostrar o seu potencial. É arriscado, e sabes disso. Por isso há muitos alunos inteligentes, com sentido crítico, capacidade de estudo, mas que estão na sombra porque no seio das suas turmas impera o silêncio. Mesmo para um professor como os (óptimos) exemplos que mencionaste terá imensas dificuldades em puxar por eles. Porque não repara. Ou porque o aluno não corresponde, quando está mais do que preparado para o fazer.

Isto, no fundo, nem começa na escola, mas em casa. Mas disso já eu falei largamente.

João Campos

segunda-feira, dezembro 12, 2005

The explanation (eheh)

Guida, sis, era mais ou menos essa a resposta que esperava. Eram mais ou menos esses os pontos que esperava que focasses. Vou, então, partir deles para elaborar um texto que nada tem a ver contigo ou com o que dizes neste comentário, mas que apenas pretende ser uma tentativa de explicação para realidade escsiana.
Quero, antes de mais, dar a conhecer a concepção de professor de que partirei para elaborar a minha reflexão. Tal como a Guida, não creio que baste ser-se óptima pessoa, escrever muito bem e ter óptimos artigos publicados em revistas científicas quando se é professor. Não basta ter-se livros publicados e mostrar que se sabe muito. É preciso, para além disso, e acima de tudo, saber transmitir esse conhecimento, fazer o aluno perceber a matéria leccionada, ajudá-lo a tornar-se capaz de uma melhor compreensão do mundo. E tudo isto forçosamente de forma estimulante. "Debitar matéria" não chega, evidentemente que não.
Avançando, agora, para a realidade escsiana. Há, na Escola Superior de Comunicação Social, vários tipos de professores. Uns com artigos e livros publicados, outros (a maioria) não. Mas isso, como vimos, pouco importa. Importante para o aluno é a performance dos professores em aula, e, a esse nível, costumo dividi-los em duas categorias: os que já desitiram (a maioria), e os que ainda não.
Vou direita ao assunto: os professores da ESCS são maus porque os alunos da ESCS são maus. Cada vez piores (a diferença de uma geração para a outra é brutal). Os professores da ESCS limitam-se a "debitar matéria" porque os alunos da ESCS se limitam a ouvir, quando não estão a olhar pela janela (mea culpa, que não tenho feito outra coisas nas poucas aulas de Direito da Comunicação Social a que tenho ido). Porque os alunos da ESCS não questionam o que lêem nem o que lhes é dito pelo professor, e passam a aula inteira a abanar afirmativamente as cabecinhas, quando muitas das vezes não estão a perceber rigorosamente nada do que se lhes está a ser dito. Têm um problema qualquer - que eu não consigo perceber - em admitir que não compreenderam, ou melhor, em dizer ao professor que não foi suficientemente claro. Não pensam por eles próprios, não expõem as suas ideias, não respondem às perguntas que o professor lança, nem mesmo - imagine-se! - quando até sabem que a reposta que têm para dar é a correcta. Isto a mim choca-me mais do que seria natural.
Para mim é claro: os principais responsáveis pelo mau desempenho dos professores nas aulas são os alunos. E pelo bom desempenho também, como é evidente. Porque também é verdade que a profª Carla e a profª Filipa, ou mesmo a Belinha a Teoria da Comunicação, só não "debitaram matéria" porque nós não deixámos. Porque não tivemos problemas em dizer que as coisas não assim tão óbvias. Porque exigimos "pistas" em vez de as deixarmos falar. O que a maior parte dos escsianos não faz. É, certamente, mais tranquilo e confortável deixar que sejam os professores a pensar. E, graças a esta atitude, quem perde são os alunos, mas são também os professores.
Foi quando os estudantes alemães cá estiveram, a propósito do congresso da PRIME, que isto se me tornou evidente. Na conferência a que assisti (sobre ética em Relações Públicas), vi uma professora da casa ser implacavelmente "bombardeada" com perguntas às quais não conseguiu, por vezes, responder de forma satisfatória. Tudo porque não fez o "t.p.c" como deve ser. Estão habituados às mosquinhas mortas dos alunos que têm em Portugal e depois, quando apanham um bando de putos com cabeça e vontade de "picar" gente crescida, tropeçam. Falta de treino, é o que os nossos professores têm. Faltam-lhes alunos à altura, que os testem, que os ponham à prova. O que é, falando francamente, lamentável.

Susana

sexta-feira, dezembro 09, 2005

"Professor Doutor" não é para todos!

Numa qualquer conversação quotidiana entre nós e qualquer um dos nossos amigos e algum de nós disser "o Cavaco Silva" ou mesmo “o Sr. Silva” (como alguém fez há uns tempos atrás cá na nossa terrinha), ninguém conotará essa designação como algo de repugnantmente negativo ou ofensivo. Contudo se essa mesma expressão for usada num contexto jornalístico ganha características comuns à mais rude de todas as ofensas.
Em Portugal o título “Dr” é muito mais que uma atribuição meramente académica, é quase como uma espécie de ‘título nobiliárquico pós-moderno’ e acha-se que quem não o possuir só merece respeito social e profíssional se o chamarem “Doutor” mesmo que o não seja.
Nas entrevistas com os cinco “presidenciáveis” dei-me conta de que os entrevistadores sentem-se na obrigação de tratar o poeta Manuel Alegre pelo epíteto de “Doutor”. Concordo em absoluto que o poeta Alegre não é uma pessoa qualquer, muito menos que dispense um tratamento que releve a sua dimensão como português, todavia acho mais lisonjeante o designativo “Poeta” do que “Doutor”, até porque existem infinitamente mais “Doutores” (ou pseudo-doutores) do que verdadeiros “Poetas”.
Verifico também nas mesmas entrevistas (ou monólogos de duas partes intercaladas) que Louçã, que possui um currículo académico significativamente superior a C. Silva como é exemplo o recente livro publicado com o conceituado Christopher Freeman (especialista em economia da inovação) e mesmo assim não tem direito ao título de “Professor Doutor” que é quase como o nome próprio do Sr. Silva. Este título só está disponível para quem pertença a uma espécie de casta científica mesmo que isso não coincida com o mérito académico. Parece-me, no mínimo, desconcertante.
João Teago Figueiredo

Deste Lado do Espelho

Os exames são como as injecções: custam, mas têm utilidade. Servem para aferir, a nível nacional, se o trabalho desenvolvido ao longo do ciclo de estudos foi bom ou mau. Depois de 74, foram considerados anti-pedagógicos ( tal como o ditado, acreditam ? A primeira acção de formação a que assisti, na minha vida de professora, foi para uma senhora me dizer, em tom severo e firme: 'o ditado é anti-pedagógico, pelo que se desaconselha !').
Ora agora digo eu, na sequência do que Johnny Campos escreveu ( ai, que rimas tão louçãs -neste momento, estão a transmitir o debate Louçã-Cavaco ), a aprendizagem devia / deve ser estimulante, embora eu ambicionasse que a mesma fosse, também, divertida ( porque não ? ). Aprender a Segunda Guerra Mundial em Inglês, deve ser muito mais divertido a cantar ( tentei fazê-lo no ano passado, com o último 11º ano ! Desastre ! )
Mas do que eu gostava mesmo, é que a aprendizagem não fosse feita só para se obter uma nota. Fico com a sensação de que estive, durante um ano lectivo inteiro, a ensinar autómatos, interessados em obter um 8, que ,no ano seguinte, se somará a um 11, noves fora, 10 ! Durante os meus vinte e quatro anos (que começaram ontem, garanto-vos !) só me lembro de uma encarregada de educação me ter dito: 'Eu não queria que o meu filho tivesse só notas, queria que ele saísse da escola sabendo Inglês !' Eis uma posição sensata e uma maneira sensível de analisar a questão. Afinal, os alunos devem apenas ser preparados para um exame (cuja matéria abandonarão a seguir, se passarem ) ou deverão sair a saber dialogar, ainda que incipientemente, com um falante Anglo-Saxónico ?
Se querem sair, a saber uma língua, a aprendizagem deve 'forçar' os alunos a falar, por exemplo, e à falta de melhor, através de exercícios de 'acting' ( mimar ou representar uma acção na sala de aula ). Fazer isso num 12º. ano torna-se impensável, pois todo o tempo é precioso e não se pode 'desperdiçar' em 'actings' ( o exame, o exame, ai o exame ! )
Refere João Campos, também, o papel dos pais. Para uns, a escola e o que os filhos lá fazem é um pouco indiferente. Outros há que vêem no professor o disciplinador, o que não deixa a malta pôr pé em ramo verde 'e se for preciso, Srª. Professora, dê-lhe um estalo, que eu autorizo !', dizem. Pois, os estalos que não foram dados, em casa e a tempo, tornam-se contraproducentes, sobretudo quando os meninos já são da nossa altura ou maiores, capazes, portanto, de pagar um estalo com outro ainda mais forte. Não, a ideia do estalo não me agrada. Finalmente, há os Encarregados de Educação que se marimbam para a vida e regras da escola em geral, e para os professores, em particular. Querem é que os meninos tenham notas ! Quanto ao resto 'adeus, ó compadre ! ' Voilà um episódio. Era uma professora novinha e/mas exigente ( casos há em que o grau de exigência é inversamente proporcional à idade do docente; noutros, é ao contrário ). No final do primeiro período, atribuiu à aluna um 09. Compreendia-se, era o primeiro período e, no entender da professora, a menina não se esforçara o suficiente. 09 é daquelas notas que 'não cheiram nem fedem', como se costuma dizer. Com um pouco de esforço, diz-se, dá para
recuperar. A encarregada de educação da moça, porém, não o entendeu assim. Na reunião do segundo período, em que é feita a distribuição das fichas de informação, a senhora deixou-se ficar para o fim, 'porque queria falar
comigo'. E o que era ? Era o 09 ! Como é que a filha, tendo x no teste A e y no teste B tinha uma nota daquelas ? Fiquei de falar com a professora e de consultar os critérios de avaliação da disciplina, para poder dar à irada encarregada, uma resposta capaz. Como fazer-lhe entender que uma avaliação não contempla só testes ? Num encontro posterior, mostrei-lhe os critérios. A senhora olhou de longe e, com um leve esgar de desprezo, resolveu a questão, dizendo: 'Eu não acredito em nada do que está aí !'
( Pois é, ela percebia tanto de avaliação, de critérios e de ensino, como eu de lagares de azeite. A resposta que deu serviu, apenas, para provar como está distante a escola do meio, em que se insere !). A aluna acabou por se entender com a professora, ao longo do ano e acabou com um digno 12. Quanto à encarregada de educação, há-de ter-se deitado descansada e dormido contente, por ter 'posto os pontos nos is aos professores'. É sempre estimulante ver a ignorância a dar lições ! Para terminar, dou-lhe aqui, aquilo que se dizia antigamente, num programa humorístico brasileiro: 'P'ra você, a minha gargalhada de desprezo !'
Conclusão ( aliás, brilhante! ): no ensino, como noutras áreas, é tudo uma grande confusão ! Bom fim-de-semana! Cheers!

Curiosidade de quem desconfia ter acabado de ler algo que, sendo provavelmente verdade, tem contudo uma explicação. E eu conheço-a.*

Guida!, fico contente por saber que continuas a ler o espelho :) Mas quando dizes que o melhor dos nossos professores não chega sequer aos calcanhares do piorzinho dos daí (Bélgica), de que critérios partes para fazer a comparação?

Susana

* Perdoem-me os apreciadores dos títulos breves. É no que dá andar a ler Nemésio...

quinta-feira, dezembro 08, 2005

A Questão dos Exames e um pouco mais

Os exames nacionais são, na verdade, um bode expiatório recorrente. Neste tema, a minha posição é semelhante à de Churchill quanto à democracia: os exames são a pior forma de avaliação, à excepção de todas as outras. Nem sempre provam aquilo que os alunos sabem. O desempenho de um aluno num momento de avaliação desta natureza pode ser condicionado pelos mais diversos factores externos. Tudo isto é verdade. Nos termos do ensino em Portugal, eles são um anacronismo. Porque, como o Bruno afirma, não são divertidos. E a nossa filosofia é que a aprendizagem deve ser divertida.

Errado. A aprendizagem não deve ser divertida. Para isso, há o recreio, os intervalos. A aprendizagem deve, sim, ser estimulante. Deve incutir nos alunos o gosto por saber mais. A vontade de saber mais. Deve ser feita por estádios, por metas enquadradas no tempo, findo o qual há uma avaliação de conhecimentos. Devem ser apoiados os alunos com maior dificuldade e estimulados os mais brilhantes. Devem ser premiados os sucessos, por pequenos que sejam. Porque é estimulante recuperar uma negativa e ver esse esforço reconhecido. E, acima de tudo, deve ser reconhecido o mérito.

Onde anda tudo isto no ensino português? Não anda, evidentemente. Como já aqui escrevi, a culpa passa igualmente pelos pais, que não mais educam os filhos. A culpa passa igualmente pelo tremendo facilitismo que grassa no nosso sistema educativo (?). Se há uma elevada taxa de insucesso escolar, a medida mais fácil de implementar para contrariar a tendência é tornar os programas mais fáceis. Mas isso nada resolve. Isso não estuda a causa dos problemas. Isso não premeia o mérito, não apoia os alunos mais fracos nem castiga os "baldas". Isso não estimula - antes pelo contrário, cria uma geração de indivíduos que sabe pouco e não se interessa por saber mais. Uma geração que acredita que o mundo é fácil, porque há sempre alguém para por a mão amiga no ombro e dar uma ajudinha. Uma geração irresponsável, que olha com desdém e inveja para o mérito alheio.

Como se reverte isto? Com uma grande reviravolta. Há que perceber que é necessário um mínimo de exigência. Que há critérios que têm de ser seguidos e metas que têm de ser alcançadas. Há que tornar os programas apelativos, mas exigentes. Há que não facilitar, não levar ao colo. O secundário é fácil de mais. Porque o básico é, precisamente, básico de mais. Infelizmente, nesta geração já não há muito a fazer para além de tapar dois ou três buracos. O trabalho terá de começar nas bases - no primário. Aí deve começar a exigência (e para isso não é necessário ter uma régua de madeira para punir os alunos). O ensino do Inglês no primário é realmente uma boa ideia. Mas e que tal começarem primeiro pelo Português e pela Matemática? Talvez assim não houvesse alunos na universidade a dizer "hádem". Ou a não saberem resolver uma equação simples (guilty).

No entanto, há que conduzir o critério da exigência com cuidado. De modo algum devem as crianças e os jovens ser forçados a dedicar todo o seu tempo aos estudos. Não deve ser necessário "marrar". A vida social é um complemento tão importante quanto a vida escolar. Aqui, sim, tem lugar a diversão. Um bom equilibrio entre as duas instâncias seria, no meu entender, o ideal.

João Campos

third watch

A ler: A Questão dos Exames, por Bruno Alves no Desesperada Esperança.

João Campos

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Deste Lado do Espelho

'Carro de gaja', ou melhor...
A primeira vez que olhei, a sério, para um Micra, foi-me ele apresentado por um ex-vendedor de automóveis, exactamente assim, mas com mais elegância: 'é um carro de senhora'.
Quando pude, comprei um, novinho, branquinho, 0 quilómetros ... Já lá vão dez anos, onze no próximo mês de Agosto. Tem-me servido com fidelidade. Com ele, já me despistei, num dia de piso oleado e molhado e em que eu ía conduzido à velocidade do costume. Qualquer coisa mais dramática que tivesse acontecido, a culpa não seria do meu pobre 'Miquinhas'... Foi ao fim destes dez anos que houve o primeiro problema sério, com a bomba de óleo dos travões. Eu nem sequer sabia que os travões tinham uma bomba ...
Todos me perguntam 'quando é que mudo de automóvel'. Eu queria, mas de cada vez que vou contar as moedas que tenho juntas, ou cai o governo ou aumenta o IVA. O mais recente modelo do Micra é uma graça !
É um investimento caro, mas vale a pena. O Micra é um pequeno grande carro, que corresponde às expectativas, desde que tenha as revisões feitas sempre a horas. Believe me ! Cheers !

Erros de targeting

A publicidade que vejo diariamente ao Rock in Rio nas estações de metro não se esquece de mencionar a existência de uma sofisticada área vip. Como se alguma das pessoas que andasse de metro a ela tivesse acesso.

João Campos

Avé, Cesar

Se eu fizer uma saudação romana a um amigo meu, numa qualquer rua deste país, quem me visse rotular-me-ia carinhosamente de nazi (ou neonazi, já que agora o prefixo "neo" está na moda). Esquecem-se, claro está, de que a Alemanha nazi não inventou esta saudação: ela adaptou-a, se não me engano, de Mussolini, que por sua vez a apropriara do Império Romano (o que, se atendermos aos sonhos imperiais do ditador italiano, até fazia sentido). Ou seja: a uma marca do legado romano foi dada uma conotação fortemente depreciativa devido às atrocidades nazis. A História, que devia recordar isto e manter a verdade dos factos, esquece. E assim se perde um traço de um dos mais fascinantes impérios do mundo ocidental. Por um estereótipo.

João Campos

Prolongamento

Converso com um amigo sobre temas variados e, quando a conversa chega ao mundo automóvel, admito que o Nissan Micra é um carro que me agrada: pequeno, (aparentemente) seguro, confortável, esteticamente interessante. Categoricamente afirma ele, com um sorriso de desdém, que o Micra é um "carro de gaja".

Pois. Suponho que um "carro de gajo", de homem de barba rija (a minha, por acaso, é um bocado rala e desalinhada) tem de ser grande, potente, com muita cilidranda, muitos cavalos e mais uma carrada de coisas das quais nada percebo nem pena tenho de não perceber. Os estereótipos são assim. E, quem disse que o carro é um prolongamento do pénis, parece ter acertado em cheio. Estereotipando, claro.

João Campos

terça-feira, dezembro 06, 2005

Deste Lado do Espelho

Isto �tudo devido �falta de assunto. Segundo fontes geralmente bem informadas, membros de uma organiza�o, cujo nome me escapa, olharam para a parede de umas quantas escolas e exclamaram k�quilo ? Cruzes, canhoto ! Aqui d'el rey, c'o estad�laico ! E l�conseguiram que fossem apeadas umas quantas cruzes que n�o lhes faziam mal nenhum. 'Arremedo do que se faz l�fora', como �J�lio Diniz escreveu n'A Morgadinha dos Canaviais. Viram que �s demoiselles mu�ulmanas era negado o uso do v�u nas escolas, e pronto ! O Estado Portugu�s agora, �, mais laico do que era h�tr�s quinze dias, quando os cruxifixos ainda estavam nas paredes, n�o � ?

Análise de benefícios

Segundo li na blogosfera, a ministra da Educação voltou atrás na decisão de retirar os crucifixos das salas de aulas. Percebe-se. A continuar a cruzada de laicização do Estado, os portugueses perderiam, assim de estalo, cinco feriados (pelo menos). Não estou certo quanto às raízes históricas do Carnaval. Para o Bloco de Esquerda, por exemplo, isto seria dramático. Tendo em conta o apoio que este partido tem entre a população jovem (estudantes), os seus ideiais de legalize e free for all seriam colocados em causa por menos duas semanas de férias de Natal, duas semanas de férias de Páscoa, e mais uns feriados avulsos por esse ano fora. Tirem-lhes os charros, mas não o ócio religioso.

João Campos

pergunta para 250000 euros

Se Deus estivesse, efectivamente, a controlar os destinos do Homem lá do alto, porque haveria ele de se ter dado ao trabalho de nos conceder livre arbítrio? Para ver quantos resistiam à tentação de ser livres e seguiam fiéis no caminho da fé cega até ao céu?

João Campos

domingo, dezembro 04, 2005

«Um surfista olhando o mar...



... Está vendo ou está sendo?
»

Foto minha.
Palavras de Pedro Cezar, poeta e surfista brasileiro.

Susana

sábado, dezembro 03, 2005

It won't happen

Porque eu fui a ler Nemésio no comboio e ele acabou a noite a falar de putas.

Susana

got a smoke?

Percebo, vagamente, a ideia que esta por detrás da recente decisão da Organização Mundial de Saúde, que a partir de agora não mais contratará fumadores (pronto, lá se foi o tacho...). É algo irónico que na organização que zela - ou deve zelar - pela saúde mundial trabalhe gente que todos os dias se suicida um bocadinho. No entanto, a OMS esquece-se de que essa é uma escolha pessoal dos seus empregados - que são indivíduos conscientes, dotados de livre-arbítrio. Que começaram a fumar porque quiseram. Que fumam porque querem (não me venham com a conversa do vício, que já está gasta). E que sabem que a cada cigarro que fumam estão a destruir a sua saúde. Que a OMS proíba o consumo de tabaco dentro das suas instalações, é uma coisa. Que se intrometa na vida pessoal do seus (potenciais) trabalhadores, é outra completamente diferente.
João Campos

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Protocóis ...

Segue-se,sumariamente, que o Protocolo de Kyoto regulamenta a emissão de gases de estufa, de modo a evitar o chamado efeito da dita na atmosfera.
Portugal está entre os mais poluidores ( aliás, no que respeita a coisas más, maus cheiros, maus números, mau défice, má economia e outras maldades que tais, Portugal tem sempre lugar entre os piores, benzóDeus ! ). Há outros países, menos poluidores, que verão a sua quota reduzida. Portugal pode, assim, comprar as quotas desses países para poder compensar a sua incúria. O assunto faz lembrar as célebres 'indulgências', que a Igreja vendia antes da Reforma de Lutero. Comer carne na Quaresma era proibido, mas ... podia comer-se um bom naco de lombo, desde que, depois, se pagasse uma indulgência ao padre. Bela maneira de fazer negócio com o desmazelo alheio !

Invertendo Samuel Beckett

Tenho de desistir. Não posso desistir. Vou desistir. A coragem também é isto.

Susana

quinta-feira, dezembro 01, 2005

to curse

Merovingian: Château Haut-Brion 1959. Magnificent wine. I love French wine, like I love the French language. I have sampled every language, French is my favourite - fantastic language, especially to curse with. Nom de Dieu de putain de bordel de merde de saloperies de connards d'enculés de ta mère. You see, it's like wiping your ass with silk, I love it.
(the matrix reloaded)
João Campos

Something in between

Os crentes dizem que não acredito o suficiente para ser um deles. Os ateus, que não nego a crença o suficiente para ser um deles. A um agnóstico, em princípio, estas questões são-lhe indiferentes. A mim não. Como se o trabalho que tive ao longo dos últimos anos a definir-me ideologicamente não tivesse já sido suficiente.
João Campos